sábado, 30 de abril de 2016

Comentando Capitão América: Guerra Civil (Captain America: Civil War, 2016)


Ontem assisti o terceiro filme do Capitão América, uma das películas da Marvel mais esperadas, seja porque os dois primeiros filmes da trilogia foram muito bons, seja porque a possibilidade de tantos heróis em tela já nos fizesse imaginar cenas espetaculares, e, talvez o mais importante, teríamos o Homem-Aranha.  Sim!  Não somente ele, aliás, o filme introduz além dele outra nova personagem no universo dos filmes da Marvel, o Pantera Negra.  Eu fui ao cinema com altíssimas expectativas, pois, ao contrário do universo DC – do qual só me importa a Mulher Maravilha e olhe lá – eu gosto dos heróis da Marvel.  Infelizmente, para além do fanservice e do reencontro com “velhos amigos”, Capitão América: Guerra Civil foi muito decepcionante para mim.  Muito mesmo, acreditem.

O resumo da história, que é baseada no sucesso Guerra Civil dos quadrinhos, é o seguinte: O Capitão América (Chris Evans) está liderando os Vingadores em uma missão em Lagos, Nigéria, onde um vilão pretende se apossar de um agente biológico e utilizá-lo como uma arma.  Após o confronto na cidade, a Feiticeira Escarlate (Chris Evans), tentando salvar o Capitão América, termina provocando um acidente e matando um grupo de cidadãos de Wakanda – um reino fictício do universo Marvel – e despertando a preocupação de vários governos mundiais.



Paralelo a isso, Tony Stark lança um projeto no M.I.T. (Massachusetts Institute of Technology) e, logo em seguida, é confrontado por uma mãe, Miriam Sharpe (Alfre Woodard), que o culpa por ter perdido seu filho durante o confronto entre Ultron e os Vingadores em Sokovia.  Muito abalado, Stark se mostra receptivo ao projeto do governo norte americano e das ONU para obrigar os super-heróis a se registrarem e se tornarem uma espécie de funcionários da organização.  O Capitão América não se mostra muito receptivo e um novo incidente em Viena, que causa a morte do Rei de Wakanda, fazendo seu filho – o Pantera Negra (Chadwick Boseman) – jurar vingança.  

Bucky (Sebastian Stan), que no filme anterior do Capitão tinha aparecido vivo e à serviço da Hydra, parece ter cometido o atentado.  A dificuldade do Capitão América em aceitar a culpa do Winter Soldier amigo e sua rejeição em aceitar os comandos do governo norte americano e da ONU divide os Vingadores e coloca antigos amigos em lados opostos.  Tony Stark lidera os que aceitam as ordens governamentais e seguem tentando capturar Bucky, enquanto o Capitão e seus aliados seguem resistindo e tentando provar que há algo de errado em toda essa história.  Nas sombras, o vilão do filme, o Coronel Zemo (Daniel Brühl), tem planos sinistros que colocam em risco o futuro dos Vingadores.



Perceberam o quanto eu escrevi “Vingadores” neste resumo?  Pois é, minha primeira crítica é a seguinte, Guerra Civil não deveria ser um filme do Capitão América, mas do grupo de heróis.   É tanta gente em cena, e precisava mesmo, dada a premissa da história, que o foco não fica no herói do título.  E não se trata de, como no caso de Batman vs Superman, termos a Mulher Maravilha aparecendo brevemente e se destacando na cena de batalha, mas de sequências inteiras sem a presença do herói título.  É, portanto, o terceiro filme dos Vingadores sem se assumir como tal. 

Assim, e este é meu argumento, teria sido muito mais interessante fazer um filme três do Capitão com uma história centrada nele efetivamente, fechando sua trilogia com uma ótima película, e lançar Marvel: Guerra Civil parte 1 e 2 mobilizando um grupo extenso de heróis e entupindo os cofres dos envolvidos na produção de dinheiro.  Talvez tudo tivesse funcionado melhor.  Fora isso, o argumento usado no filme para fichar os heróis é totalmente ridículo, muito mais até do que o temor de Batman em relação ao Super-Homem no filme da DC.  E peço, desde já, desculpas, mas é impossível não me remeter ao outro filme, afinal, este ponto de partida do roteiro é idêntico: super seres são uma ameaça aos meros mortais e podem, se não forem controlados e/ou destruídos, acabar com a humanidade.



Há verdade nesta idéia?  Sim, mas o desenvolvimento do argumento é fajuto.  Os Vingadores enfrentaram Loki (Tom Hiddleston) e seus aliados para salvar o mundo, as mortes não foram causadas deliberadamente por eles para mostrar seu poder.  O mesmo vale para Ultron e a destruição de Sokovia, ou mesmo o incidente na Nigéria.  Os super-heróis estavam fazendo o seu trabalho e protegendo a humanidade, não foram levianos, nem mostraram falta de consideração com o sofrimento das pessoas.  Ademais, as mortes de civis seriam inevitáveis.  Era isso ou permitir a escravização ou destruição total do gênero humano.

Como fui assistir o filme junto com o meu marido, e ele detestou a película, ficamos ponderando sobre o avanço dos Nazistas na Europa e tentando aplicar a idéia estapafúrdia que fundamenta o roteiro à II Grande Guerra.  Os Aliados cometeram atos que provocaram a morte de muitos civis, no entanto, o plano de Hitler era promover a Solução Final e exterminar segmentos inteiros da humanidade, começando por judeus e ciganos, passando depois pelos eslavos (*contabilizem as mortes civis na Frente Oriental*) e preservando somente os arianos que fossem perfeitos.  Quer dizer, então, que os que lutaram desesperadamente para que o projeto hitlerista não se concretizasse deveriam ser enquadrados como monstros por conta dos danos colaterais?



Mais curioso é que os americanos gostem tanto dessas tramas e não lembrem que adoram argumentar da necessidade das bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki.  Um mal para evitar um mal pior para os próprios japoneses.  Veja que não estou endossando o argumento, até porque não analiso a História de forma maniqueísta, mas apontando ilustrando a furada desta idéia.  E, aí, alguém pode gritar “Mas é assim no quadrinho!”.  Não, amiguinho, me dei ao trabalho de olhar para tirar a dúvida, afinal, não deixaria esse buraco na minha argumentação.

Fui até o Guerra Civil original e, ainda que não considere essa história de registro de super seres cabível, encontrei um ponto de partida bem mais consistente.  A história começa passando em revista uma série de incidentes protagonizados por super-heróis.  Em um deles, o Hulk saiu de controle e provocou mortes de civis.  A gota d’água, no entanto, foi a ação de um grupo de mutantes adolescentes, protagonistas de um reality show, que ao tentarem dominar um grupo de super vilões, muito mais poderosos que eles e sabendo disso,  terminaram protagonizando uma grande tragédia – uma escola é explodida, com dezenas de mortos, a maioria crianças.  



Vejam, não foram danos colaterais em uma batalha desesperada para salvar a humanidade, mas um ato de leviandade que termina por cobrar a vida de inocentes. Acredito mesmo que, no caso do quadrinho, a referência é o atentado a um prédio governamental em Oklahoma, nos EUA, onde muitas crianças morreram, porque no primeiro andar do edifício havia uma creche para filhos de funcionários. A Martha Sharpe que o filme a aproveita é a mãe de um dos meninos mortos na tragédia.  Enfim, o ponto de partida do quadrinho que inspirou o filme me convence, já a forma como o filme o adaptou não tem nem de longe o mesmo efeito sobre mim, só conseguiu me enervar mesmo.

Enfim, se a trama do registro de super-heróis me pareceu forçada e repetitiva, da forma como foi apresentada no filme, claro, fiquei esperando que o vilão, interpretado pelo ótimo Daniel Brühl, me desse algum alento.  Fiquei imaginando o confronto dos super soldados – os cinco indivíduos que teriam recebido o soro do super soldado ainda na época da URSS – com os super-heróis reunidos e cientes de que haviam sido enganados e Bucky lutando contra o controle mental imposto pelo vilão. Não, não isso não aconteceu.   O que tivemos de parte a parte foi um melodrama terrível e repetitivo centrado em perdas de mãe, pai, filhos, esposa, cachorro, gato etc. e como isso me dá direito de destruir metade do mundo blá-blá-blá.  Enfim, o pessoal se sobrepondo a tudo mais.  Depois deste filme, só de ouvir falar em Sokovia, já me dá nos nervos.


Está bem, salvou-se alguma coisa do filme?  Bem, se eu esquecer do roteiro e ficar somente com sequências isoladas e as aparições especiais, sim, salvou-se.  Primeira coisa, o Homem Aranha.  Tom Holland encarna, talvez, o mais jovem e nerd Peter Parker de todos os que eu já vi nos cinemas.  Foi um sopro de humor e vitalidade no filme.  E, bem, o garoto é muito fofo e interagiu muito bem com o Robert Downey Jr.  Eu não fui assistir aos últimos filmes do Homem Aranha no cinema, vi o primeiro, mas nem resenhei no blog, mas se anunciassem este garoto como o novo Aranha, ele me levaria ao cinema.  

Só que, ao trazerem o Aranha para o filme, cismaram de fazer a sua apresentação, coisa que também ocorreu com o Pantera Negra, mas, não, como o Homem Formiga (Paul Rudd).  Isso era importante, para situar não o herói, mas sua relação com Tony Stark, mas acabou sendo outro ponto que reforça que este filme não se qualifica como um filme do Capitão América.  De resto, não me agradei da tia May “gostosona”, eu só consigo imaginá-la como uma velhinha, mas ficou evidente que o objetivo era fazermos lembrar que Marisa Tomei e Downey Jr.  eram parceiros em comédias românticas nos anos 1990 e foram namorados.  Tomei é um dos alívios cômicos de um filme que tenta ser muito mais pesado e sério do que os filmes da Marvel são.



A participação do Homem Formiga também foi útil e divertida, especialmente na grande batalha, que é o ponto alto do filme, o grande espetáculo.  Aliás, a batalha permitiu a interação de vários heróis e mostrar suas capacidades.  Agora, e isso é um problema, como as personagens tem níveis de poder muito diferentes, tiraram o Visão (Paul Bettany) de cena.  Ele praticamente não participa desse confronto, embora esteja lá, porque seu poder é tão grande que, bem, ele poderia definir a parada sozinho.  Daí, apesar da cena ser ótima em todos os sentidos, ela termina por ser, ao mesmo tempo, muito complicada de engolir.

Outra boa coisa do filme é o Pantera Negra, Chadwick Boseman deu muita dignidade a personagem e chamou para si muita atenção, mais uma vez, tirando os holofotes do herói protagonista. Sua sede de vingança era plenamente compreensível e executada de forma direta e sem engodos, ao contrário das outras tramas semelhantes que corriam no filme.  Ele queria  matar o assassino do pai e termina agindo como um super-herói deve agir, aplicando ao vilão um merecido castigo.  Torço para que o filme do Pantera Negra seja um sucesso.



Não vou falar sobre Martin Freeman no filme, porque o papel dele é bem irrelevante e caricato.  Se, mais tarde, irão aproveitar a personagem para algo que preste, é outra história, mas qualquer um poderia fazer o que ele fez em Guerra Civil.  Falando das mulheres do filme, Elizabeth Olsen defende bem a sua Feiticeira Escarlate.  Ela mostra força e fragilidade, interagindo bem com o Paul Bettany.  Visão e a Feiticeira tem uma forte relação e as cenas em que os dois se vêem obrigados a se confrontar são bem interessantes.  

Scarlett Johansson deu muita dignidade à Viúva Negra neste filme.  Ela é forte e habilidosa, mas, acima de tudo, a única dos heróis que parece manter-se crítica e analítica em um momento de grande crise.  Isso é importante, porque é ela quem vai fazer a história desenrolar no momento crucial da batalha entre os super-heróis.  E seu saldo final é positivo, por assim dizer, porque consegue manter as boas relações com ambos os lados.  



A outra personagem feminina do filme é a sobrinha da Agente Carter (Hayley Atwell), Sharon Carter (Emily VanCamp).  Ela é ex-agente da S.H.I.E.L.D., ela ajuda o herói, ela protagoniza com Rogers um dos poucos momentos românticos.  Fim.  E o mais interessante da cena dela com o Capitão América são as caras do Falcão (Anthony Mackie) e do Bucky dentro do fusquinha velho assistindo tudo.  Pepper Pots (Gwyneth Paltrow)  é citada, desnecessariamente, aliás, só para ilustrar que Stark estava sofrendo por amor, mas não aparece. Como ela participou das gravações, talvez ela apareça em cenas cortadas nos extras do filme. 

Depois disso tudo, fica evidente que é um filme de heróis no masculino ainda.  São duas super-heroínas no meio de, sei lá, mais de dez super caras.  O papel delas – a Feiticeira Escarlate e a Viúva Negra – é importante na película, mas, ainda assim, a representatividade ainda é muito baixa.  De resto, o filme não cumpre a Bechdel Rule.  Temos mais de duas personagens femininas com nomes, OK.  Não consigo mesmo lembrar se elas conversam entre si.  É quase certo que não.  E, se o fizeram, o assunto é um dos homens do filme.



Concluindo, acredito que de todos os filmes da Marvel que eu assisti, e da fase 1 e 2 só não vi o segundo Capitão América e o Homem Formiga, foi o que menos me agradou.  O roteiro é mal costurado, a transposição da trama da Guerra Civil para os cinemas ficou aquém dos quadrinhos e não é um filme do Capitão América, mas um não assumido filme dos Vingadores no qual muita gente aparece e é apresentada e a trama em torno do herói título nãos e sustenta.  Sei que as críticas ao filme são positivas, mas a minha, infelizmente, não é.  

Queria ter gostado, queria poder embarcar nessa coisa de Time Capitão América e Time Homem de Ferro, mas é complicado.  Dentro do filme, prefiro a posição da Viúva Negra, que analisa ambos os lados e age de forma pragmática para preservar aquilo que considera correto e aqueles que ela ama.  De resto, se quiser spoilers, leia os três parágrafos depois do trailer.  E, para quem se interessar, existem resenhas do filme dos Vingadores (1 e 2) e do Capitão América, que se conectam diretamente com Capitão América: Guerra Civil, aqui no blog, além de outros filmes da Marvel, claro.


Se você está lendo esta parte do texto, deve ter assistido ao filme ou não se importar com spoilers.  Enfim, a minha grande frustração com Guerra Civil não veio da trama furada da ameaça dos super-heróis aos humanos, mas das motivações do vilão e da repetição da trama individualista do quero vingar meus entes queridos mortos.  Primeiro é a mãe do rapaz que morreu em Sokovia.  Depois, e a única que se sustenta bem, o Pantera Negra querendo matar Bucky, porque crê que ele matou seu pai.  Em seguida, ficamos sabendo que os pais de Tony Stark foram mortos pelo Winter Soldier/Bucky para sabermos que o vilão tinha feito o que fizera não para dominar o mundo mas para vingar sua família morta em Sokovia...

Sim, eu até entenderia que o vilão desejasse vingança pessoal contra os Vingadores, mas que tivesse, também, um plano de dominação mundial ou algo assim.  O sujeito chega até os super soldados para destruí-los.  Vejam que sujeito consciente e preocupado com o mundo? Por que desperdiçaram a chance de uma seqüência final empolgante para nos oferecer aquilo?  Daí, o "gran finale" é que ele, o vilão, quer ver o Capitão e o Homem de Ferro se matando por causa de Bucky... Sério que aquela luta dos heróis no final era para ser emocionante e fazer a gente sofrer por ver dos amigos se matando?  Para mim, só ilustrou o quanto o roteiro era furado.  

Há quem goste de tramas sentimentalóides, elas podem até coexistir dentro de um filme desde que articuladas com idéias melhores, mas em Guerra Civil houve uma insistência na mesma historinha triste.  Daí, todo um descontrole que transforma o vilão em piada e mancha a imagem dos super heróis.  Enfim, entre mortos e feridos, salvou-se o Pantera Negra que manteve seus nervos no lugar e impediu que o fiasco de vilão se matasse.  Espero que o próximo filme da Marvel seja melhor, de qualquer forma, será difícil convencer meu marido a ir ao cinema assisti-lo. 

quinta-feira, 28 de abril de 2016

Como os japoneses vêem o embranquecimento (whitewashing)


Já é o terceiro post sobre o assunto o embranquecimento, “Whitewashing”, na TV brasileira e no cinema americano aqui no blog, eu sei. Não queria voltar ao caso tão cedo, mas o Rocket News 24 trouxe uma entrevista de rua com alguns japoneses – todos jovens, ou muito jovens – e eles expressaram algumas opiniões sobre o assunto.  Não poderia deixar de publicar.


As legendas estão em inglês, mas sei que, logo, logo, aparece legendado em português.  Segue meu resumo:

1. Ninguém se mostrou ofendido com a escalação de Scarlett Johansson para Motoko Kusanagi.  Para eles e elas, trata-se de uma grande atriz e ela ficaria ótima no papel.  Eles se espantaram com as críticas feitas no Ocidente.  Queriam uma atriz melhor?  Seria essa a questão? 
2. Depois, estranharam a reclamação e acabam emitindo o mantra básico de que atores e atrizes brancos devem dar maior lucro ao filme do que orientais.  



3. Algo muito importante para os entrevistados, trata-se de um filme baseado em anime e mangá.  Trata-se de fantasia.  As personagens não são realmente japonesas e não faz sentido exigir fidelidade. Aliás,  ter olhos grandes seria algo mais fiel ao original.  (*Voltarei a isso lá no final*)
4. Quando comentam o fato do ator Edward Zo ter sido recusado para as audições em Death Note, “porque não queriam um ator asiático no papel”, há alguma indignação.  Trata-se de discriminação, deveriam tê-lo deixado pelo menos tentar e por aí vai.  No entanto, os jovens terminam quase que aceitando o fato, afinal, “Hollywood é assim”. Não há nenhuma reflexão profunda sobre racismo.



O autor do vídeo termina dizendo que os sentimentos dos japoneses – e 98.5% da população do país é etnicamente japonesa – é de quem não sente na pele aquilo que a minoria de origem asiática nos EUA passa. Eles são representados em todo lugar, são maioria em um país que tende ao homogêneo.  Acrescento que os entrevistados nunca devem ter sentido na pele a rejeição por serem como são, preconceito racial é algo estranho para esses jovens.

Voltando ao ponto 3, ele coloca por terra a idéia de que escolhem “os melhores”, ou que embranquecimento não existe de verdade.  Vejam só, as personagens de Death Note são originariamente japonesas, você não precisa manter isso na adaptação, OK.  A história irá se passar em uma grande metrópole dos EUA?  Talvez.  Então, qual o motivo para não aceitar audições de atores negros, asiáticos, e outros para os papéis principais?  Não faz sentido, mas justamente por isso, faz todo o sentido. E não estou falando de importar japoneses, mas de usar asiático-americanos,  ou, pelo menos, permitir que concorram aos papéis.  



O cinema norte americano torna brancos papéis originalmente escritos para outras etnias.  Katniss em Jogos Vorazes deveria ser morena, baixinha, de longos cabelos negros.  A produção deixa claro que não deseja protagonistas que não sejam caucasianos e pegam uma atriz branca, tingem seu loiro cabelo, e a colocam no papel.  

Em um mundo justo, um ator ou atriz poderia fazer qualquer papel, ser humano ou ET, ser homem ou mulher, ter qualquer cor.  Seu talento brilharia ainda mais.  No entanto, o argumento só vale para quem é branco.  Daí, Otelo pode ser interpretado por um branco pintado de negro, mas Romeu não pode ser um ator negro, proque ficaria estranho e o público não se identificaria.

quarta-feira, 27 de abril de 2016

Card Captor Sakura terá novo mangá lançado no Japão


havia falado aqui da intenção da CLAMP de lançar um novo mangá de Card Captor Sakura (カードキャプターさくら).  A série, que foi publicada entre 1996 e 2000, está completando 20 anos e comemorando com vários lançamentos.  Pois bem, o Rocket News 24 anunciou que o retorno de Sakura aos mangás não será um one-shot, mas um novo arco de história com as personagens agora no ginasial.

A estréia de Sakura será na edição de 3 de junho da revista Nakayoshi.  Espero que a CLAMP consiga retomar os espírito da série original.  E é só esperar um novo anime e a JBC trazer o novo mangá para o Brasil.

Abertas as inscrições para o 10º International Manga Award


Nossa!  Já é o décimo International Manga Award?  Pois é, o concurso promovido pelo governo do Japão está com suas inscrições abertas até o dia 16 de junho.  São uma medalha de ouro e três de prata, os vencedores irão ao Japão receber o seu prêmio.  Para concorrer, é preciso inscrever um mangá produzido fora do Japão nos últimos três anos com 24 páginas, ou mais.  A página com as informações sobre as inscrições e o formulário para baixar está aqui.  As informações estavam no Rocket News 24.

Suenobu Keiko vai publicar continuação de Life


Não sei se Suenobu Keiko fará uma continuação direta de seu mangá mais famoso, Life (ライフ).  A série de 20 volumes abordou a questão do bullying por todos os ângulos possíveis, foi publicada em vários países e   a primeira obra de Suenobu Keiko a ser transformada em live action.  Segundo o Animeland, a nova série se chamará Life 2 - Give Taker e estréia em 25 de junho.  A novidade?  A autora vai lançar esta nova série em uma revista josei, a Afternoon.

Sinceramente?  Eu não vejo como uma continuação de Life possa dar certo.  O que imagino é que a autora aborde a mesma temática, que lhe é muito cara, aliás, com novas personagens.  Tenho os nove volumes da edição americana da Tokyopop e costumava comentar todo novo capítulo lançado.  Life é uma série muito boa, mas que foi esticada ao extremo, o que gerou umas barrigas difíceis de aguentar.  O que quero dizer?  Vitamin (ビタミン), que a JBC lançou aqui, acaba sendo mais sintético e direto, ainda que com uma arte menos desenvolvida e com um elenco e tramas bem mais enxutas.

Não me surpreende, entretanto, que a continuação de Life seja seinen, afinal, a autora faz sucesso fora do nicho do shoujo mangá e colocar a série em uma revista (supostamente) para o público masculino, ela atingirá muito mais homens, que não comprariam uma revista shoujo para ler Life.  A série original foi publicada na revista Betsufure.

Além disso, segundo o Animeland, Life será relançado no Japão em um formato de #13 volumes.  Os primeiros dois serão lançados juntos no dia 23 de junho.  Sairão uma média de dois volumes por mês até o final.



segunda-feira, 25 de abril de 2016

Mangá sobre garoto fã de BL/Yaoi terá anime em julho


Nunca tinha ouvido falar de Fudanshi Koukou Seikatsu  (腐男子高校生活), mangá de Atami Michinoku publicado na versão on line da revista Zero Sum.  A série só tem dois volumes lançados e tem como protagonista um garoto (Sakagushi) que é um fudanshi, isto é, um fã de BL/Yaoi.  A s[érie deve ter caído no gosto popular, porque, bem, com somente dois volumes lançados, já tem uma série prevista para julho.

Fiquei curiosa e li os cinco primeiros capítulos da série, parece que é o que tem traduzido.  Enfim, o protagonista, Sakaguchi-san, é um rapaz apaixonado por BL e yaoi.  O mangá segue tanto as dificuldades enfrentadas por um fã de um gênero tipicamente feminino, quanto as fantasias e delírios do moço.  Como comprar mangás sem ser visto como gay ou pervertido?  Ele chega a pensar “É menos constrangedor comprar hentai!”.  Para um homem, deve ser mesmo.   Ademais, Sakaguchi não se vê como homossexual, apesar de Nakamura – seu melhor amigo e gay assumido – acreditar que há algo na personalidade dele que indique pelo menos uma bissexualidade.  

Sakaguchi fantasiando no trem.
Sakaguchi vive observando e fantasiando a respeito dos colegas, inclusive Nakamura.  Ele é bem hardcore, por assim dizer.  Nakamura pergunta se não seria melhor estar em uma escola masculina, ele responde que em um colégio sem meninas é muito fácil para um garoto ceder à relacionamentos homoeróticos (*isso coisa da cabeça de um fantasista sem experiência amorosa alguma*).  Ele também detesta que se coloque fanservice em animes mainstream, segundo ele, é como roubar o direito que a audiência tem de shippar livremente um casal. :D  Quando ele conhece Rumi Nishihara, a fujoshi da escola, eles se dão bem em tudo, menos nesse ponto.  A garota adora fanservice. 

Nakamura é o sujeito normal do elenco, especialmente se comparado com o melhor amigo, Sakaguchi.  Educado, discreto, ele acha o material BL e as conversas de Sakagushi com outros fudanshi e fujoshi no Twitter uma loucura total.  Ele serve de contraponto para as bizarrices de Sakagushi e quando Rumi entra na história, acaba sendo deixado meio de lado pelo colega.  É difícil para ele entender o papo dos dois fãs de BL, além disso, andar com eles pode representar alguns constrangimentos... Curiosamente, Sakaguchi não se dá com as mulheres, mas, para ele, fujoshi não são mulheres.

Pobre Nakamura!  
Além de Nakamura e Rumi, há várias personagens recorrentes, como Yūjirō Shiratori, um okama (*ele parece se travestir fora da escola, além de ser ostensivamente gay*) e presidente do clube de culinária; Akira Ueda, que é apaixonado por Shiratori e comporta-se como seu lacaio; além de dois outros garotos, Kei, que é atormentado pelo melhor amigo Reiji, é um explorador e estraga prazeres.  Kei já até perdeu a namorada por causa do amigo intrometido e vive tomando remédios, porque seus nervos estão em petição de miséria.  

É uma série bem humorada, mas, acredito, muita coisa só será entendida mesmo pelos fãs de BL/Yaoi. A leitura dos cinco capítulos foi rápida e eu continuaria lendo se houvesse mais.  Normalmente, o anime ajuda a gente a gostar mais de um mangá como esse.  Ele não é 4koma, mas passa perto.  Segundo o ANN, o mangá começou a ser publicado em 1 de maio e o Segundo volume saiu hoje, no dia 25 de abril.  Deve entrar nos 30 mais vendidos.  O Comic Natalie também publicou matéria sobre o anime.  Imagino que será o Gekkan Shoujo Nozaki-kun (月刊少女野崎くん) da temporada.  O link para ler o mangá em japonês é este aqui.  A página do anime já está no ar, para quem quiser dar uma olhada.

sábado, 23 de abril de 2016

Por que Hollywood não escala atores asiáticos?

Tilda Swinton como o Ancient One
Dias atrás, um post rendeu (*e ainda está rendendo*) montes de visitas ao blog.  Ele trata da notícia veiculada por um dos blogs da Globo falando que um ator caucasiano seria escalado para fazer o papel de um japonês em uma novela que trataria da imigração japonesa.  Muita gente comentou enfurecida, mas houve quem deu razão para a emissora, pois não há atores nipo-brasileiros o suficiente para uma novela, porque escalar atores e atrizes de origem asiática para fazer orientais em nossas novelas seria política de cotas.  Um comentário, o entanto, disse que o motivo era econômico, pois homens asiáticos não são vendáveis.  Era coisa mais que sabida aqui e em Hollywood.  Estou até agora esperando as fontes dele, mas apareceu uma matéria do New York Times que tocou exatamente nesse ponto.  Traduzi o artigo.  Vale a leitura. :)



Por que Hollywood não escala atores asiáticos?
por KEITH CHOW

Aqui está um eufemismo: Não é fácil ser um ator asiático-americano em Hollywood. Apesar de alguns progressos feitos na tela pequena - graças, "Fresh Off the Boat"! - A maioria dos papéis oferecidos aos asiáticos-americanos estão limitados a estereótipos que não pareceriam fora de lugar em uma comédia de John Hughes dos anos 80.

Este problema é ainda pior quando os papéis que originalmente eram asiáticos acabam indo para atores brancos. Infelizmente, estas decisões de escalação de elenco não são uma relíquia do passado de Hollywood, como o encarnação de Mickey Rooney para I. Y. Yunioshi em "Bonequinha de Luxo", mas continuam até o presente.

Mr. Yunioshi 
Na semana passada, a Disney e a Marvel Studios lançaram o trailer de "Doutor Estranho", uma adaptação dos quadrinhos Marvel. Depois de esgotar todos os estereótipos do "homem branco que encontra a iluminação no Oriente" em menos de dois minutos, o trailer apresenta Tilda Swinton como o Ancient One, um místico tibetano nos quadrinhos. Apesar de seu elenco não ser segredo, havia algo inquietante sobre a visão de cabeça barbeado de Swinton e suas "místicas" vestes asiáticas. Fez com que nos lembrasse as dissonantes memórias de David Carradine em "Kung Fu", a série de televisão dos anos 1970 que, por coincidência, era em si uma versão embraquecida de um conceito original de Bruce Lee.

Poucos dias depois, a DreamWorks e a Paramount forneceram um vislumbre de Scarlett Johansson como a ciborgue Motoko Kusanagi em sua adaptação do anime japonês clássico "Ghost in the Shell." A imagem coincidiu com relatos de que produtores consideravam o uso de ferramentas digitais para fazer Johansson parecer mais asiática - basicamente, yellowface para a era digital.

Scarlett Johansson será Motoko Kusanagi
Esta potente combinação de atores brancos interpretando personagens asiáticos mostrou quão invisíveis os asiático-americanos continuam a ser em Hollywood. (Não deve ser deixado de fora das notícias de embranquecimento que a Lionsgate também revelou as primeiras imagens de Elizabeth Banks como Rita Repulsa, outra personagem originalmente asiática, em seu corajoso reboot de "Power Rangers".)

Porque é que o apagamento de asiáticos ainda é uma prática aceitável em Hollywood? Não é que as pessoas não percebem: Bem no ano passado, Emma Stone interpretou um personagem mestiça de chinesa com havaiana chamada Allison Ng no criticamente ridicularizado "Aloha" de Cameron Crowe. Apesar do filme ter provocado semelhante ultraje (e lucros mornos de bilheteria), nenhuma discussão nacional de sobre a política racista de escalação de elenco ocorreu.

Emma Stone em Aloha
Obviamente, os asiático-americanos não são as únicas vítimas da propensão de embranquecimento continuada de Hollywood. Filmes como "Pan" e "The Lone Ranger" contaram com atores brancos interpretando nativos americanos, enquanto que "Deuses do Egito" e "Exodus: Deuses e Reis" continuaram a longa tradição dos caucasianos no papel de egípcios.

Em todos estes casos, os cineastas voltaram a cair nos mesmos argumentos batidos. Muitas vezes, eles insistem que os filmes com as minorias em papéis principais são apostas.   Durante uma coletiva de imprensa de "Exodus", o diretor Ridley Scott disse: "Eu não posso montar um filme deste orçamento" e anunciar que "o meu ator principal é Mohammad de tal e tal."

Exodus: Deuses e Reis
Quando o roteirista Max Landis usou o YouTube para explicar o elenco de "Ghost in the Shell", ele usou um argumento similar. "Não há uma lista de atrizes asiáticas classe A em um nível internacional", disse ele, advertindo os telespectadores de "não compreenderem como funciona a indústria."

O argumento de Landis segue de perto uma declaração do roteirista Aaron Sorkin. Em uma troca de e-mail vazado com chefes de estúdio, ele se queixou sobre a dificuldade de se adaptar "Flash Boys," O livro de Michael Lewis sobre o Wall Street executivo Bradley Katsuyama, porque "não há qualquer estrela de cinema que seja asiática."

O verdadeiro Bradley Katsuyama
Mas eles estão errados. Se as minorias representam riscos de bilheteria, o que contribui para o sucesso do "Velozes e Furiosos" franquia, que apresentou uma equipe amplamente diversificada, atrás e na frente da câmera? Mais de sete filmes que já arrecadou quase US $ 4 bilhões no mundo. Na verdade, um estudo recente da Ralph J. Bunche Centro de Estudos Afro-Americanos da Universidade da Califórnia, Los Angeles, descobriu que filmes com protagonistas multirraciais não só resultaram em números de bilheteria mais elevados, mas os retornos também mais elevados de investimento para os estúdios e produtores.

E o argumento de Hollywood é circular: Se asiático-americanos - e outros atores minoritários de forma mais ampla - nem sequer são autorizados a estar em um filme, como eles podem construir a influência de bilheteria necessária, em primeiro lugar? Para piorar a situação, em vez de tentar usar as suas posições elevadas na indústria para impulsionar a mudança, os figurões de Hollywood, como Landis e Sorkin tomar o caminho fácil e cínico.

Harold e Kumar
Mesmo um sucesso modesto como a trilogia "Harold e Kumar", estrelado por John Cho e Kal Penn, foi capaz de quadruplicar seu orçamento de produção depois das vendas da bilheteria e de home media.  Enquanto isso, os filmes com estrelas brancas fracassam nas bilheterias o tempo todo. Chris Hemsworth, que protagoniza sequência "O Caçador e a Rainha do Gelo" neste fim de semana, teve muito mais fracassos de bilheteria do que sucessos, mas ele é considerado uma estrela de cinema rentável.

Tais fatos revelam pequeno segredo sujo de Hollywood. Economia não tem nada a ver com as políticas racistas de escalação de elenco. Filmes em que os protagonistas foram embranquecidos fracassaram poderosamente nas bilheterias. Inserir protagonistas brancos não teve nenhum efeito demonstrável sobre os números. Então, por que o pensamento convencional segue tão firme em Hollywood?

Durante anos, as audiências têm essencialmente boicotado esses filmes, mas os estúdios continuam a fazê-los. Vamos ter esperança de que Hollywood finalmente escute.

Keith Chow é o fundador do site de cultura pop The Nerds of Color e um editor das antologias quadrinhos asiático-americanos " Secret Identities " e "Shattered".

P.S.: Utilizei embranquecimento como tradução para whitewashing, termo que se repete ao longo do texto.

A revista Sho-Comi traz mini dorama de 4-Gatsu no Kimi, Spica。 como brinde desta edição + resenha do primeiro capítulo deste mangá



Foi anunciado no Comic Natalie (*e está em vários outros sites*) a notícia de que a revista Sho-Comi trouxe como brinde um mini-dorama e um Movie Comic do mangá 4-Gatsu no Kimi, Spica。(4月の君、スピカ。), Spica, de Miwako Sugiyama.  Parece que em ambos os materiais, aparecem somente os três protagonistas, a menina Sei Saotome e seus amigos  Taiyou Udagawa e Midzuki Oodaka.  Os dubladores e os atores estão listados no CN e o Shoujo Lovers trouxe suas fotos com a identificação dos atores e atrizes.  Achei os dubladores bem mais bonitos que o elenco do dorama.  

De qualquer forma, depois de ler a notícia e o resumo do mangá no Bakaupdates fiquei curiosa.  Como assim a protagonista acaba indo fazer o colegial em uma escola “teológica”?  Há escolas religiosas no Japão.  Maria-sama ga Miteru  (マリア様がみてる)  gira todo em torno do colégio católico onde estudam as meninas.  Lendo/assistindo Marimite descobri que havia escolas religiosas budistas, também, porque há uma menina da terceira temporada (*acho*) que se matriculou errado no colégio de freiras, ela deveria ter entrado para o colégio budista.  Só que nenhuma escola gerida por religiosos é uma escola teológica.  Instituições assim são, normalmente, institutos superiores.  Lá fui eu atrás do mangá.  Interrompi a resenha do primeiro volume de Gekkan Shoujo Nozaki-kun (月刊少女野崎くん) e li o primeiro capítulo.  Seguem minhas impressões.


Sei Saotome é uma garota esforçada, mas que não funciona bem sobre pressão.  Para piorar, é muito azarada.  O que isso quer dizer?  Bem, nos exames de admissão no colegial, ela não consegue passar para a única escola que a qual se candidatara.  Isso gera consternação na família, muito preocupada em como vão encarar a vizinhança.  O pai teme que ela se torne um NEET.  A família fica apreensiva, comentando do medo de que a menina se suicide.  Afinal, ela não acrescentou mais opções no seu teste de admissão, porque acreditava que iria passar e não queria onerar a família.  Não entendo desses exames de admissão, acreditava que em Tokyo, você fazia o exame para as escolas públicas e a classificação é que definiria para qual escola você iria.  De qualquer forma, a irmã caçula da heroína tranquiliza os pais dizendo que Sei nunca se mararia por ser covarde demais...  

Arrasada, a menina tenta de novo e não consegue entrar para a segunda escola dos seus sonhos, mas há uma segunda opção...  Trata-se de uma escola muito exigente, tanto, que há poucos candidatos para ela.  De novo, é difícil entender, afinal, imagino que escolas muito exigentes, que treinam seus alunos e alunas com exames exaustivos seriam disputadas.  Há algo de muito estranho nessa história... Sei vai buscar os livros escolares e se espanta com a quantidade absurda de material.  Daria para os três anos de um colégio comum!  Na volta para casa, lutando com tanto peso, ela se envolve em um acidente com um rapaz.  Ele atropela seus livros com a bicicleta, é grosseiro e reclama que arranhou sua bike nova.


No primeiro dia, logo após a cerimônia de admissão, há um exame para os calouros.  Sei é a menor nota da turma e o professor orientador diz na frente de todos que ela rebaixou a sala inteira no ranking da escola.  Humilhada e arrasada, ela se esconde no telhado da escola e percebe que há uma estranha estrutura bem lá no alto.  

Ao final do dia, ela procura o exame com a nota vexatória e percebe que só pode ter esquecido lá em cima.  Ela corre para o telhado, procura e uma voz chama seu nome.  É um rapaz chamado Midzuki.  Ele achou sua prova e a convida a entrar no estranho prédio.  O rapaz é gentil – que provavelmente é um veterano – e explica que eles estão no observatório do clube de astronomia.  Ele mostra para Seo uma estrela chamada Spica e que quer dizer primavera, como seu nome.  Logo em seguida, quebrando o clima, chega Taiyou, o representante da turma de Sei e que já havia sido grosso com ela, antes mesmo de saberem que seriam colegas de classe.  Ele é candidato ao clube de astronomia e ridiculariza a menina.  Midzuki a defende.  Seo decide entrar para o clube, fascinada pela estrela e por Midzuki.   


Este é o primeiro capítulo de 4-Gatsu no Kimi, Spica。, o traço é bonitinho, mas não tem nada demais.  Está evidente que haverá uma relação de amizade entre os três e que isso deve salvar a menina – nossa garota comum mais padrão – da depressão.  Parece que Taiyou e Midzuki se conheciam a mais tempo, isso deve se explicar nos outros capítulos.  O triângulo amoroso é sugerido, daí deve rolar aquela coisa de o que é mais importante, “amor ou amizade”? Fora a questão da possível rivalidade dos meninos por Sei... Um deles parece ser o tipo bom moço e  o outro o imaturo.  Imagino que Taiyou tenha alguns esqueletos no armário e isso deve ajudar a justificar (*o injustificável*) o fato de ser arrogante e cruel com a protagonista.



É isso!  A propaganda do Comic Movie e do dorama estão aí em cima.

Sazae-san completa 70 anos


No dia 22 de abril de 1946, o Jornal Asahi publicou a primeira tirinha de Sazae-san, personagem icônica criada por Machiko Hasegawa.  Sazae era então uma adolescente lutando com sua família para superar os efeitos da guerra e sobreviver em meio às restrições da ocupação americana.  Sempre com muito humor, a personagem cresceu, se casou e seu núcleo familiar passou a encarnar a família japonesa média.  Sucesso até nossos dias, Sazae-san saiu dos mangás para a animação, rádio novela e outras adaptações com atores e atrizes de verdade.


Segundo o Comic Natalie, para comemorar (*e outras celebrações virão*) o aniversário da personagem, todos os visitantes do Museu Sazae-san receberão um cartão postal comemorativo entre os dias 21 e 24 deste mês.  Se entendi bem, até o dia 19 de junho haverá uma mostra com as obras da irmã de Machiko Hasegawa, Mariko.  Ela também era desenhista e ilustrava livros.  Parece que o CN fala também de um pintor parente da mangá-ka, mas não consegui descobrir quem é ele.


Além da mostra, ontem foi lançado mais um volume encadernado das melhores histórias de Sazae-san.  O tema desse volume é Primavera.  Para quem interessar, esta é a página do museu.

sexta-feira, 22 de abril de 2016

Autoras da Margaret homenageiam Osomatsu-san


A última edição da Margaret trouxe um apêndice homenageando a série Osomatsu-san (おそ松さん).  Primeiro, foi a revista YOU, com a capa juntando Osomatsu-san e Sailor Moon (美少女戦士セーラームーン), agora, é a Margaret.  No apêndice chamado Watashi to Osomatsu-san (わたしとおそ松さん), ou Eu e Osomatsu-san, há ilustrações feitas pelas mangá-kas, além de depoimentos onde as autoras falam de suas partes favoritas da série.  Segundo o Comic Natalie, participam do booklet as seguintes autoras:

- Yoko Kamio
- Ayumi Komura
- Arina Tanemura
- Tomori Miyoshi × Tekkotsu Saro
- Yamamori Mika
- Morishita suu
- Aikawa Saki


Esta semana assisti ao primeiro capítulo de Osomatsu-san e, bem, foi muito divertido.  Começamos com a animação em preto e branco, com as personagens originais se perguntando como conseguiriam ser um sucesso no século XXI, afinal, eles eram criação da Era Showa (1926-1989).  No final das contas, as personagens se atualizam.  E, partir daí, eles reaparecem como um colorido grupo de idosl e temos um mix primeiro de todos os clichês do shoujo anime e BL - com homenagem rasgada à Hana Yori Dango (花より男子) - e, mais para o fim do episódio, aos animes shounen do momento, como Haikyū!! (ハイキュー!!)  e Shingeki no Kyoujin  (進撃の巨人).

Como nada deu certo, parece que os seis irmãos terão que ser eles mesmos, só que crescidos.  Não sei se verei o segundo episódio, mas o primeiro é recomendadíssimo pelas suas altas doses de humor e nonsense.  Agora, é preciso ter as referências para rir com mais gosto, eu diria.


Para quem não leu o outro post, ou não conhece a série, Osomatsu-san é um reboot homenagem ao mangá clássico Osamatsu-kun (おそ松くん) de 1962.  O autor, Fujio Akatsuka é considerado um dos pais do gag mangá.  Já houve outras séries animadas e, atualmente, um mangá de Osomatsu-san é publicado na revista YOU.

quinta-feira, 21 de abril de 2016

Lembrando dos 200 Anos de Charlotte Brontë


Um dos meus livros favoritos é Jane Eyre e hoje faz 200 anos que sua autora, Charlotte Brontë, nasceu.  A autora teve uma infância difícil e uma vida curta, vindo a falecer, grávida, aos 38 anos.  Apesar de Jane Eyre (1847) ser sua obra mais lembrada, Brontë  publicou outros romances e poemas.  Brontë perdeu a mãe ainda criança e junto com suas irmãs foi enviada para um internato para meninas pobres.  As condições precárias da instituição, que serviram de molde para a Lowood para onde a menina Jane Eyre foi enviada, levaram suas irmãs mais velhas, Maria e Elizabeth à morte.  Por conta disso, seu pai retirou as meninas sobreviventes, Charlotte e Emily, de lá.  Havia ainda dois irmãos menores Anne e Branwell.  Toda a família tinha talentos literários e artísticos.

Em sua obra mais importante, Brontë criou uma heroína proto-feminista que se recusava a se submeter ao destino das mulheres de sua classe.  Em uma das frases mais importantes do livro Jane diz “I am no bird; and no net ensnares me: I am a free human being with an independent will.” ("Eu não sou nenhum pássaro; e nenhuma rede me prende: Eu sou um ser humano livre com uma vontade independente ").  Em Jane Eyre são criticadas as limitações impostas às mulheres que fora do casamento só teriam duas profissões decentes a seguir, professora e governanta.  Um dia espero apresentar Jane Eyre e sua autora para a minha filha.  Há várias resenhas de adaptações de Jane Eyre para o cinema e TV aqui no blog.

“Bela, Recatada e do lar”, algumas coisas que preciso comentar



Esses últimos dias estão sendo muito corridos, tanto, que não pude comentar a infame reportagem da Veja, uma biografia da “quase” primeira-dama, Marcela, a esposa de Michel Temer.  A matéria é terrível por pelo menos três motivos e, para quem não percebeu, meu olhar sobre a questão é feminista.  Antes disso, cabe dizer que a internet ainda está sendo inundada de memes e outras reações ao texto absurdo e ofensivo da Veja.  Não que a revista horrorosa da Abril mereça tudo isso, o problema é que ela recebeu a atenção e em tempos de retrocesso, de backlash, é preciso comentar esse tipo de ataque da mídia.

O primeiro deles é a tentativa da Veja – em sua edição comemorando o encaminhamento do impeachment ou golpe, deixo ao gosto do freguês   de vender a imagem da mulher ideal “bela, recatada, do lar” e, também, jovem, rica, branca, inexperiente sexualmente quando do casamento (*ou vocês acham que a história de Temer ser seu primeiro namorado não deixa subentendido a virgindade da moça?  Ainda mais com toda a história de família indo junto aos primeiros encontros e coisa e tal...*).  Sim, está tudo lá na matéria.  É um modelo saído das idealizações machistas – a realidade sempre foi muito mais plural – dos anos 1940 e 1950.  Para arrematar, e na data de publicação estavam todos lembrando dos 60 anos de casamento de Grace Kelly, que Marcela poderia ser a nossa versão desta mulher – uma atriz competente tornada princesa pelo casamento – conhecida pela sua elegância, beleza e discrição.   “Recato” é uma palavra que soa ao mesmo tempo ridícula e sexista, o uso de “discreta” poderia ter salvo um pouco o texto, mas, talvez, o povo que lê a Veja nem ligue para isso mesmo.  Enfim, bom seria que todas as mulheres se mirassem em Marcela.  Esta é uma das ideias da matéria.  Agora, quando Dilma cair, todas nós teremos um modelo para seguir.

A Veja mirou em Grace Kelly ao traçar
o perfil da esposa de Temer.
Segundo motivo, ao vender Marcela como um modelo ideal de mulher no mundo político, a publicação tem como objetivo espicaçar a presidenta.  Dilma é, na opinião dos machistas, tudo menos bonita.  Dilma também não é jovem, nem se projetou pela sua elegância, algo que pode ser reconhecido mesmo em mulheres idosas.  Dentre tantos defeitos que eu poderia apontar na presidenta, um deles não seria a covardia, ela é uma mulher de luta, ainda que possamos questionar suas bandeiras, suas escolhas e mesmo seus métodos. Ademais, Dilma não é conhecida por seu recato, aliás, nos últimos meses – um período de grande tensão – a mídia politicamente posicionada tem feito um esforço para colar em Dilma todos os estereótipos machistas sobre as mulheres: histérica, desequilibrada, com acessos de fúria,não é, portanto, confiável para  continuar exercendo a presidência.  Dificilmente (*e estou sendo boa*) um homem na mesma situação receberia esse tipo de ataque.  Houve até matéria infame da Época afirmando que parte dos problemas de Dilma é falta de sexo.  Na verdade, o que a Veja fez foi conjurar velhas representações, aquelas que estão nos arquivos do nosso imaginário social, sobre boas e más mulheres, sobre as mulheres desejáveis e as que não são.

O tratamento dispensado à Dilma pela imprensa
não é nem machista, é misógino mesmo.
O terceiro ponto de crítica é que a matéria fala de Marcela, constrói sua imagem idealizada para exaltar seu marido – “Um homem de sorte” - mas não lhe dá a palavra.  Michelle Perrot, uma das mais importantes historiadoras francesas, tem uma frase que eu gosto muito “Das mulheres, muito se fala. Sem parar, de maneira obsessiva”.  Sim, falar das mulheres é importante, desde que elas não falem de si mesmas salvo para concordar com as opiniões já emitidas pelos homens.  “Ah, mas a reportagem foi assinada por uma mulher, a jornalista Juliana Linhares!”.  Sim, e isso confirma o que eu acabei de escrever.  Deixe uma mulher falar, desde que seja para reforçar – afinal, é uma mulher falando – o que os homens pensam.  Justo – ainda que eu considere ridículo tentar vender essa idéia de “quase” primeira-dama – seria entrevistar Marcela, deixá-la falar de si, caso desejasse, do marido e do filho.  Só que dar-lhe voz poderia frustrar essa idealização toda a respeito da moça, torná-la menos vendável nesse projeto conservador que a publicação defende.

Só que gostaria de comentar outros dois textos, um de análise das reações à matéria da Veja e, o segundo, de crítica.    O texto análise é do Jornal Zero Hora e se chama “Entenda a polêmica após matéria com perfil de Marcela Temer”.  Conversando com professores/as universitários, especialistas em mídias e em estudos de gênero, uma delas envolvida com os movimentos feministas, o jornalista Itamar Melo, consegue ilustrar bem todos os problemas do texto da Veja e de como ele acabou atraindo a raiva, desdém e recusa de setores que não estão ligados aos movimentos feministas.   Só para reforçar, o Ricardo Boechat continua fazendo troça do “Bela, recatada e do lar” na Bandnews FM dizendo que a equipe da rádio merece esse mesmo “elogio”.  

A Veja parecia estar prestando uma homenagem ao Jornal das Moças.
Parece que o tiro da Veja saiu pela culatra e mesmo quando você não assume uma postura progressista, subversiva, ou seja, lá o que seja, querer louvar uma mulher usando esses antiquados elogios não tem mais os mesmos efeitos que teria no tempo da minha avó materna, que nasceu em 1930.  Como a Prof.ª Maria Fernanda Salaberry, da UFRS, bem colocou “A revista levanta valores que já não existem desde a década de 1950 nos espaços públicos. Ninguém mais defende publicamente que a mulher não trabalhe. Nem minha avó usa a palavra "recatada"”.  Não sei se seria tão enfática quanto ao ninguém defender publicamente que uma mulher não trabalhe FORA, lemro, também, que dentro de casa TODAS trabalham, mas para fazer a defesa, normalmente oferece argumentos fortes, como preferir cuidar dos filhos enquanto pequenos, ou dedicar-se a ajudar na carreira do marido.  

De qualquer forma, a Zero Hora levantou uma bola que pouca gente teve coragem, vejam só: “Os detalhes do relacionamento entre Michel Temer e Marcela também ajudaram a derramar combustível sobre a polêmica incandescente. Um perfil publicado em 2011 pela revista TPM revela que Marcela, então com 19 anos, foi levada por insistência do pai a um evento onde seria apresentada a Temer, então com 62 anos. Segundo a própria Marcela, seria uma chance de fazer um contato que pudesse "dar um up" em sua carreira de modelo. Semanas depois, o pai disse que ela deveria enviar um e-mail ao político.  Três dias depois, o então deputado federal telefonou. Mais uns dias e passou na casa dela, em Paulínia (SP), para apanhá-la com seu Ômega preto. Depois de 40 minutos, estavam aos beijos. Marcela começava o seu primeiro namoro.  — Eles praticamente entregaram uma mulher virgem para casar. Parece que está se falando de um casamento do Oriente Médio, em que se entrega uma menina a um velho rico. E chamam isso de conto de fadas — critica Maria Fernanda.”  

A quase primeira-dama e o quase presidente.
Tente agora imaginar essa história – com algumas alterações, claro – acontecendo em algum país islâmico ou na Índia.   A gritante diferença de idade, o poder econômico do sujeito, a família promovendo o encontro e talvez pressionado a união.  Muito provavelmente, as caixas de comentários dos portais estariam abarrotadas de críticas às culturas atrasadas e machistas; aqui, elimina-se qualquer reflexão mais ampla e se acrescenta “Era uma mulher de 19 anos, ela quis”.  Pode até ter querido mesmo, mas isso não elimina os detalhes da história que parecem remontar ao Brasil de “antigamente”.  Com velhos coronéis tentando garantir a prole e seu prazer pessoal buscando adolescentes para casar e estas sendo empurradas para tais uniões pelo interesse de sua família.  

Já o outro texto é do R7, a autora é Deborah Bresser.  Repostei o texto no Facebook, não por concordar integralmente, mas por ver coisas interessantes e outras discutíveis.  Ia comentar lá, mas acabei produzindo esse post enorme aqui... Enfim, o artigo se chama “E se Dilma fosse casada com um garotão 43 anos mais jovem?”.  A autora lança logo essa afirmação, “Só fiquei imaginando se fosse com Dilma. Obviamente, se Dilma Rousseff tivesse um marido 43 anos mais jovem, ela nunca teria sido eleita”.  Mulheres, especialmente aquelas que efetivamente já passaram da fase reprodutiva (*"Se não pode ser mãe, sexo para quê?!"*), e a autora cita Suzana Vieira e Elza Soares, viram motivo de chacota quando aparecem com seus namorados e/ou maridos bem mais jovens.  São umas escandalosas, que não se dão ao respeito.

A divina Elza Soares.
Tanto Suzana Vieira, quanto Elza Soares, são mulheres que exibem uma postura pública bem resolvida, parecem não se importar com os críticos, tal e qual o Temer, aliás, e é direito deles, mas o tratamento recebido é bem diferente.  Um homem velho com uma mulher jovem pode ser alvo de preconceito e deboche, ele pode ser pintado pelos coleguinhas machistas como o bode velho ou o chifrudo que não sabe, mas, no momento, querem transformar essa característica de Temer em bônus, exatamente para fazer o contraponto entre sua esposa e a atual presidente.  

De qualquer forma, e discordo do texto da autora nessa questão, Temer não foi eleito.  Ele nunca foi cogitado como presidente, as pessoas não foram às urnas imaginando o desfecho que temos agora.  Outra coisa, sua esposa, até corroborando a reportagem da Veja, é “recatada”, na verdade, ela é discreta e só apareceu ao lado do marido em momentos muito específicos.  Sem querer parecer que estou defendendo o Temer, mas sendo justa, ele nunca pareceu querer exibir Marcela como um troféu por aí, a Veja é que parece querer fazer isso.  Aliás, como nunca lhes perguntaram nada – ao casal, eu digo – sobre sua vida privada, eles não podem ser espicaçados por conta do trabalho deplorável que a Veja fez.

De volta aos anos 1950:
"Ela gosta de vestidos até os joelhos e cores claras"
Aliás, ainda que essas uniões muito díspares em idade ou posses, esses casamentos que parecem reproduzir as hierarquias patriarcais, me incomodem, eu já testemunhei pelo menos uma situação em que uma união assim salvou a vida de um homem.  Um vizinho de toda a vida, que ainda mora ao lado dos meus pais, enviuvou.  Ele tinha mais de 70 anos, perto dos 80.  Andava arrastando os pés, parecia estar contando os dias para morrer.  Os filhos de olho nos bens que o pedreiro e dono de botequim amealhou.  Daí, ele se apaixona por uma moça uns quarenta anos mais jovem – bem mais jovem que eu, com certeza – ela estava saindo de um casamento infeliz com outro vizinho.  

Os filhos do velho eram contra a relação, pressionaram o pai.  A moça voltou para o Nordeste.  Ele foi atrás dela.  A moça disse que só voltava para o Rio casada.  Ele casou.  Quando o revi em uma das minhas férias, parecia ter remoçado uns 20 anos.  Já a moça, que andava de cabeça baixa e era bicho do mato quando casada com o outro vizinho, um cara da minha idade, talvez, voltara a estudar, estava articulada, e ambos apreciam muito felizes.  Que eu posso dizer contra uma relação em que tanto o homem quanto a mulher parecem felizes, saudáveis e vivendo sua vida?  Daí, não importa efetivamente o que é a vida pessoal de Temer com a esposa, mas os discursos absurdamente reacionários que veículos de propaganda como a Veja querem vender para você e para mim.

Bela, recatada, do lar e feliz.  É o modelo que a Veja quer nos vender.
De resto, voltando ao texto do R7, a autora diz o seguinte: “Não vou nem entrar no mérito do recato, das roupas claras e na altura dos joelhos, no cuidado com o filho, com essa conversa de ser do lar. No máximo, dona Marcela Temer é madame do lar. Duvido que lave uma louça. Será que isso também seria esperado de um primeiro-damo? Camisas sociais abotoadas até o pescoço, sapato engraxado, abotoaduras, olhar baixo, silêncio e recato? Quando a gente inverte a cena, percebe mais facilmente o ridículo todo.”.  Não conseguir inverter a situação, expõe o machismo estrutural que rege a nossa sociedade.  No entanto, e já comentei isso em um texto, a “madame do lar” tem responsabilidades e é mulher em situação desigual com o parceiro como qualquer outra.  Ela pode ser peça chave na promoção da carreira do marido (*observem como a Veja usou a imagem de Marcela*), ela zela pelo seu bem estar, mas se o casamento acaba, periga vir um operador do direito amigo e soltar que “Marido não é previdência”, negando-lhe uma pensão condizente com as responsabilidades que teve, as restrições que assumiu.

É isso.  Não cabe a ninguém criticar a moça pintada como “bela, recatada e do lar”, como se sua vida fosse uma ofensa às outras mulheres, ou desacreditar a existência do afeto entre ela e o marido sem qualquer justificativa.  Cabe, sim, evidenciar o machismo estrutural, as desigualdades entre homens e mulheres e como revistas como a Veja promovem o atraso em todos os sentidos.  Por isso mesmo, espero que ninguém leia esse texto como um posicionamento político-partidário, porque ele não é, mas é uma análise feminista da forma como a imagem de uma mulher – sem que ela tenha sido ouvida – é utilizada para promover a desqualificação da diversidade do feminino.  A boa mulher, segundo a Veja, é bela, recatada, do lar, inexperiente sexualmente quando do seu casamento, dedicada exclusivamente ao marido e aos filhos, sem maiores horizontes.  Um adereço, enfim, para um grande homem. E ele receberá muitos cumprimentos, afinal, é um sujeito de muita sorte... ou quem tem sorte é ela?