Ontem assisti o terceiro filme do Capitão América, uma das películas da Marvel mais esperadas, seja porque os dois primeiros filmes da trilogia foram muito bons, seja porque a possibilidade de tantos heróis em tela já nos fizesse imaginar cenas espetaculares, e, talvez o mais importante, teríamos o Homem-Aranha. Sim! Não somente ele, aliás, o filme introduz além dele outra nova personagem no universo dos filmes da Marvel, o Pantera Negra. Eu fui ao cinema com altíssimas expectativas, pois, ao contrário do universo DC – do qual só me importa a Mulher Maravilha e olhe lá – eu gosto dos heróis da Marvel. Infelizmente, para além do fanservice e do reencontro com “velhos amigos”, Capitão América: Guerra Civil foi muito decepcionante para mim. Muito mesmo, acreditem.
O resumo da história, que é baseada no sucesso Guerra Civil dos quadrinhos, é o seguinte: O Capitão América (Chris Evans) está liderando os Vingadores em uma missão em Lagos, Nigéria, onde um vilão pretende se apossar de um agente biológico e utilizá-lo como uma arma. Após o confronto na cidade, a Feiticeira Escarlate (Chris Evans), tentando salvar o Capitão América, termina provocando um acidente e matando um grupo de cidadãos de Wakanda – um reino fictício do universo Marvel – e despertando a preocupação de vários governos mundiais.
Paralelo a isso, Tony Stark lança um projeto no M.I.T. (Massachusetts Institute of Technology) e, logo em seguida, é confrontado por uma mãe, Miriam Sharpe (Alfre Woodard), que o culpa por ter perdido seu filho durante o confronto entre Ultron e os Vingadores em Sokovia. Muito abalado, Stark se mostra receptivo ao projeto do governo norte americano e das ONU para obrigar os super-heróis a se registrarem e se tornarem uma espécie de funcionários da organização. O Capitão América não se mostra muito receptivo e um novo incidente em Viena, que causa a morte do Rei de Wakanda, fazendo seu filho – o Pantera Negra (Chadwick Boseman) – jurar vingança.
Bucky (Sebastian Stan), que no filme anterior do Capitão tinha aparecido vivo e à serviço da Hydra, parece ter cometido o atentado. A dificuldade do Capitão América em aceitar a culpa do Winter Soldier amigo e sua rejeição em aceitar os comandos do governo norte americano e da ONU divide os Vingadores e coloca antigos amigos em lados opostos. Tony Stark lidera os que aceitam as ordens governamentais e seguem tentando capturar Bucky, enquanto o Capitão e seus aliados seguem resistindo e tentando provar que há algo de errado em toda essa história. Nas sombras, o vilão do filme, o Coronel Zemo (Daniel Brühl), tem planos sinistros que colocam em risco o futuro dos Vingadores.
Perceberam o quanto eu escrevi “Vingadores” neste resumo? Pois é, minha primeira crítica é a seguinte, Guerra Civil não deveria ser um filme do Capitão América, mas do grupo de heróis. É tanta gente em cena, e precisava mesmo, dada a premissa da história, que o foco não fica no herói do título. E não se trata de, como no caso de Batman vs Superman, termos a Mulher Maravilha aparecendo brevemente e se destacando na cena de batalha, mas de sequências inteiras sem a presença do herói título. É, portanto, o terceiro filme dos Vingadores sem se assumir como tal.
Assim, e este é meu argumento, teria sido muito mais interessante fazer um filme três do Capitão com uma história centrada nele efetivamente, fechando sua trilogia com uma ótima película, e lançar Marvel: Guerra Civil parte 1 e 2 mobilizando um grupo extenso de heróis e entupindo os cofres dos envolvidos na produção de dinheiro. Talvez tudo tivesse funcionado melhor. Fora isso, o argumento usado no filme para fichar os heróis é totalmente ridículo, muito mais até do que o temor de Batman em relação ao Super-Homem no filme da DC. E peço, desde já, desculpas, mas é impossível não me remeter ao outro filme, afinal, este ponto de partida do roteiro é idêntico: super seres são uma ameaça aos meros mortais e podem, se não forem controlados e/ou destruídos, acabar com a humanidade.
Há verdade nesta idéia? Sim, mas o desenvolvimento do argumento é fajuto. Os Vingadores enfrentaram Loki (Tom Hiddleston) e seus aliados para salvar o mundo, as mortes não foram causadas deliberadamente por eles para mostrar seu poder. O mesmo vale para Ultron e a destruição de Sokovia, ou mesmo o incidente na Nigéria. Os super-heróis estavam fazendo o seu trabalho e protegendo a humanidade, não foram levianos, nem mostraram falta de consideração com o sofrimento das pessoas. Ademais, as mortes de civis seriam inevitáveis. Era isso ou permitir a escravização ou destruição total do gênero humano.
Como fui assistir o filme junto com o meu marido, e ele detestou a película, ficamos ponderando sobre o avanço dos Nazistas na Europa e tentando aplicar a idéia estapafúrdia que fundamenta o roteiro à II Grande Guerra. Os Aliados cometeram atos que provocaram a morte de muitos civis, no entanto, o plano de Hitler era promover a Solução Final e exterminar segmentos inteiros da humanidade, começando por judeus e ciganos, passando depois pelos eslavos (*contabilizem as mortes civis na Frente Oriental*) e preservando somente os arianos que fossem perfeitos. Quer dizer, então, que os que lutaram desesperadamente para que o projeto hitlerista não se concretizasse deveriam ser enquadrados como monstros por conta dos danos colaterais?
Mais curioso é que os americanos gostem tanto dessas tramas e não lembrem que adoram argumentar da necessidade das bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki. Um mal para evitar um mal pior para os próprios japoneses. Veja que não estou endossando o argumento, até porque não analiso a História de forma maniqueísta, mas apontando ilustrando a furada desta idéia. E, aí, alguém pode gritar “Mas é assim no quadrinho!”. Não, amiguinho, me dei ao trabalho de olhar para tirar a dúvida, afinal, não deixaria esse buraco na minha argumentação.
Fui até o Guerra Civil original e, ainda que não considere essa história de registro de super seres cabível, encontrei um ponto de partida bem mais consistente. A história começa passando em revista uma série de incidentes protagonizados por super-heróis. Em um deles, o Hulk saiu de controle e provocou mortes de civis. A gota d’água, no entanto, foi a ação de um grupo de mutantes adolescentes, protagonistas de um reality show, que ao tentarem dominar um grupo de super vilões, muito mais poderosos que eles e sabendo disso, terminaram protagonizando uma grande tragédia – uma escola é explodida, com dezenas de mortos, a maioria crianças.
Vejam, não foram danos colaterais em uma batalha desesperada para salvar a humanidade, mas um ato de leviandade que termina por cobrar a vida de inocentes. Acredito mesmo que, no caso do quadrinho, a referência é o atentado a um prédio governamental em Oklahoma, nos EUA, onde muitas crianças morreram, porque no primeiro andar do edifício havia uma creche para filhos de funcionários. A Martha Sharpe que o filme a aproveita é a mãe de um dos meninos mortos na tragédia. Enfim, o ponto de partida do quadrinho que inspirou o filme me convence, já a forma como o filme o adaptou não tem nem de longe o mesmo efeito sobre mim, só conseguiu me enervar mesmo.
Enfim, se a trama do registro de super-heróis me pareceu forçada e repetitiva, da forma como foi apresentada no filme, claro, fiquei esperando que o vilão, interpretado pelo ótimo Daniel Brühl, me desse algum alento. Fiquei imaginando o confronto dos super soldados – os cinco indivíduos que teriam recebido o soro do super soldado ainda na época da URSS – com os super-heróis reunidos e cientes de que haviam sido enganados e Bucky lutando contra o controle mental imposto pelo vilão. Não, não isso não aconteceu. O que tivemos de parte a parte foi um melodrama terrível e repetitivo centrado em perdas de mãe, pai, filhos, esposa, cachorro, gato etc. e como isso me dá direito de destruir metade do mundo blá-blá-blá. Enfim, o pessoal se sobrepondo a tudo mais. Depois deste filme, só de ouvir falar em Sokovia, já me dá nos nervos.
Está bem, salvou-se alguma coisa do filme? Bem, se eu esquecer do roteiro e ficar somente com sequências isoladas e as aparições especiais, sim, salvou-se. Primeira coisa, o Homem Aranha. Tom Holland encarna, talvez, o mais jovem e nerd Peter Parker de todos os que eu já vi nos cinemas. Foi um sopro de humor e vitalidade no filme. E, bem, o garoto é muito fofo e interagiu muito bem com o Robert Downey Jr. Eu não fui assistir aos últimos filmes do Homem Aranha no cinema, vi o primeiro, mas nem resenhei no blog, mas se anunciassem este garoto como o novo Aranha, ele me levaria ao cinema.
Só que, ao trazerem o Aranha para o filme, cismaram de fazer a sua apresentação, coisa que também ocorreu com o Pantera Negra, mas, não, como o Homem Formiga (Paul Rudd). Isso era importante, para situar não o herói, mas sua relação com Tony Stark, mas acabou sendo outro ponto que reforça que este filme não se qualifica como um filme do Capitão América. De resto, não me agradei da tia May “gostosona”, eu só consigo imaginá-la como uma velhinha, mas ficou evidente que o objetivo era fazermos lembrar que Marisa Tomei e Downey Jr. eram parceiros em comédias românticas nos anos 1990 e foram namorados. Tomei é um dos alívios cômicos de um filme que tenta ser muito mais pesado e sério do que os filmes da Marvel são.
A participação do Homem Formiga também foi útil e divertida, especialmente na grande batalha, que é o ponto alto do filme, o grande espetáculo. Aliás, a batalha permitiu a interação de vários heróis e mostrar suas capacidades. Agora, e isso é um problema, como as personagens tem níveis de poder muito diferentes, tiraram o Visão (Paul Bettany) de cena. Ele praticamente não participa desse confronto, embora esteja lá, porque seu poder é tão grande que, bem, ele poderia definir a parada sozinho. Daí, apesar da cena ser ótima em todos os sentidos, ela termina por ser, ao mesmo tempo, muito complicada de engolir.
Outra boa coisa do filme é o Pantera Negra, Chadwick Boseman deu muita dignidade a personagem e chamou para si muita atenção, mais uma vez, tirando os holofotes do herói protagonista. Sua sede de vingança era plenamente compreensível e executada de forma direta e sem engodos, ao contrário das outras tramas semelhantes que corriam no filme. Ele queria matar o assassino do pai e termina agindo como um super-herói deve agir, aplicando ao vilão um merecido castigo. Torço para que o filme do Pantera Negra seja um sucesso.
Não vou falar sobre Martin Freeman no filme, porque o papel dele é bem irrelevante e caricato. Se, mais tarde, irão aproveitar a personagem para algo que preste, é outra história, mas qualquer um poderia fazer o que ele fez em Guerra Civil. Falando das mulheres do filme, Elizabeth Olsen defende bem a sua Feiticeira Escarlate. Ela mostra força e fragilidade, interagindo bem com o Paul Bettany. Visão e a Feiticeira tem uma forte relação e as cenas em que os dois se vêem obrigados a se confrontar são bem interessantes.
Scarlett Johansson deu muita dignidade à Viúva Negra neste filme. Ela é forte e habilidosa, mas, acima de tudo, a única dos heróis que parece manter-se crítica e analítica em um momento de grande crise. Isso é importante, porque é ela quem vai fazer a história desenrolar no momento crucial da batalha entre os super-heróis. E seu saldo final é positivo, por assim dizer, porque consegue manter as boas relações com ambos os lados.
Scarlett Johansson deu muita dignidade à Viúva Negra neste filme. Ela é forte e habilidosa, mas, acima de tudo, a única dos heróis que parece manter-se crítica e analítica em um momento de grande crise. Isso é importante, porque é ela quem vai fazer a história desenrolar no momento crucial da batalha entre os super-heróis. E seu saldo final é positivo, por assim dizer, porque consegue manter as boas relações com ambos os lados.
A outra personagem feminina do filme é a sobrinha da Agente Carter (Hayley Atwell), Sharon Carter (Emily VanCamp). Ela é ex-agente da S.H.I.E.L.D., ela ajuda o herói, ela protagoniza com Rogers um dos poucos momentos românticos. Fim. E o mais interessante da cena dela com o Capitão América são as caras do Falcão (Anthony Mackie) e do Bucky dentro do fusquinha velho assistindo tudo. Pepper Pots (Gwyneth Paltrow) é citada, desnecessariamente, aliás, só para ilustrar que Stark estava sofrendo por amor, mas não aparece. Como ela participou das gravações, talvez ela apareça em cenas cortadas nos extras do filme.
Depois disso tudo, fica evidente que é um filme de heróis no masculino ainda. São duas super-heroínas no meio de, sei lá, mais de dez super caras. O papel delas – a Feiticeira Escarlate e a Viúva Negra – é importante na película, mas, ainda assim, a representatividade ainda é muito baixa. De resto, o filme não cumpre a Bechdel Rule. Temos mais de duas personagens femininas com nomes, OK. Não consigo mesmo lembrar se elas conversam entre si. É quase certo que não. E, se o fizeram, o assunto é um dos homens do filme.
Concluindo, acredito que de todos os filmes da Marvel que eu assisti, e da fase 1 e 2 só não vi o segundo Capitão América e o Homem Formiga, foi o que menos me agradou. O roteiro é mal costurado, a transposição da trama da Guerra Civil para os cinemas ficou aquém dos quadrinhos e não é um filme do Capitão América, mas um não assumido filme dos Vingadores no qual muita gente aparece e é apresentada e a trama em torno do herói título nãos e sustenta. Sei que as críticas ao filme são positivas, mas a minha, infelizmente, não é.
Queria ter gostado, queria poder embarcar nessa coisa de Time Capitão América e Time Homem de Ferro, mas é complicado. Dentro do filme, prefiro a posição da Viúva Negra, que analisa ambos os lados e age de forma pragmática para preservar aquilo que considera correto e aqueles que ela ama. De resto, se quiser spoilers, leia os três parágrafos depois do trailer. E, para quem se interessar, existem resenhas do filme dos Vingadores (1 e 2) e do Capitão América, que se conectam diretamente com Capitão América: Guerra Civil, aqui no blog, além de outros filmes da Marvel, claro.
Se você está lendo esta parte do texto, deve ter assistido ao filme ou não se importar com spoilers. Enfim, a minha grande frustração com Guerra Civil não veio da trama furada da ameaça dos super-heróis aos humanos, mas das motivações do vilão e da repetição da trama individualista do quero vingar meus entes queridos mortos. Primeiro é a mãe do rapaz que morreu em Sokovia. Depois, e a única que se sustenta bem, o Pantera Negra querendo matar Bucky, porque crê que ele matou seu pai. Em seguida, ficamos sabendo que os pais de Tony Stark foram mortos pelo Winter Soldier/Bucky para sabermos que o vilão tinha feito o que fizera não para dominar o mundo mas para vingar sua família morta em Sokovia...
Sim, eu até entenderia que o vilão desejasse vingança pessoal contra os Vingadores, mas que tivesse, também, um plano de dominação mundial ou algo assim. O sujeito chega até os super soldados para destruí-los. Vejam que sujeito consciente e preocupado com o mundo? Por que desperdiçaram a chance de uma seqüência final empolgante para nos oferecer aquilo? Daí, o "gran finale" é que ele, o vilão, quer ver o Capitão e o Homem de Ferro se matando por causa de Bucky... Sério que aquela luta dos heróis no final era para ser emocionante e fazer a gente sofrer por ver dos amigos se matando? Para mim, só ilustrou o quanto o roteiro era furado.
Há quem goste de tramas sentimentalóides, elas podem até coexistir dentro de um filme desde que articuladas com idéias melhores, mas em Guerra Civil houve uma insistência na mesma historinha triste. Daí, todo um descontrole que transforma o vilão em piada e mancha a imagem dos super heróis. Enfim, entre mortos e feridos, salvou-se o Pantera Negra que manteve seus nervos no lugar e impediu que o fiasco de vilão se matasse. Espero que o próximo filme da Marvel seja melhor, de qualquer forma, será difícil convencer meu marido a ir ao cinema assisti-lo.





























































































