terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

Comentando The Tenant of Wildfell Hall (BBC, 1996)


Não sei por qual motivo, mas, hoje, decidi pegar a minissérie The Tenant of Wildfell Hall (*em português A Inquilina de Wildfell Hall*) para assistir.  Baseada no livro do mesmo nome de Anne Brönte, a produção é de 1996 e teve três capítulos somente.  Sim, a série é muito boa, mas o livro pedia muito mais.  Para darem conta em tão pouco tempo, a trama se concentrou somente nos protagonistas, Helen Graham (Tara Fitzgerald), Gilbert Markham (Toby Stephens) e Arthur Huntington (Rupert Graves).

Resuminho da história é o seguinte: uma misteriosa mulher e seu filho passam a morar em Wildfell Hall atraindo a atenção da vizinhança.  Quem seria ela?  O vizinho, Gilbert Markham, sente-se particularmente atraído pela nova moradora e desenvolve uma relação afetuosa com seu filho, o pequeno Arthur.  Helen Graham é esquiva e evita eventos sociais, mas termina travando amizade com Markham.  Com o desenrolar do tempo, a nova moradora, Mrs. Graham e Markham se apaixonam, mas ela é alvo da fofoca da vizinhança, por seus mistérios, por pintar para viver e porque seu senhorio, Frederick Lawrence (James Purefoy), costuma visitar muito a inquilina.  
A inquilina misteriosa.
Markham não acredita na maledicência e segue alimentando esperanças em relação à Helen Graham.  Só que após presenciar uma cena suspeita entre ela e Lawrence, Markham se descontrola e agride o sujeito.  Helen fica decepcionada, mas lhe dá seu diário para que ele possa conhecer toda a sua história.  A partir da leitura, descobrimos que Helen é casada e fugiu do marido alcoólatra e depravado, depois de sofrer muitos abusos.  

A gota d’água para Helen foi ver que o marido tencionava perverter o caráter do próprio filho.  Com a ajuda de alguns criados fiéis e do irmão, ela foge com a criança. Quando o marido, já muito doente, descobre o paradeiro de Helen e exige o menino de volta, ela termina retornando ao lar para cuidar do sujeito e o futuro com Gilbert – que não poderia existir de qualquer forma, já que ela é casada – fica ameaçado.
Gilbert foi muito insistente.
Anne Brönte (1820-49) morreu com 29 anos.  Assim como suas irmãs, Charlotte e Emily, ela teve uma vida difícil, mas conseguiu deixar sua marca através da literatura.  The Tenant of Wildfell Hall, de 1848, foi um sucesso imediato, é sua obra mais importante e considerado um dos romances mais abertamente feministas do século XIX.  Este aspecto da obra – a crítica ao patriarcado, na medida que inferioriza as mulheres e as coloca em situação de fragilidade dentro da sociedade – está plenamente contemplado na minissérie.

Através de Helen e, também, da irmã de Gilbert, Rose (Paloma Baeza), a desigualdade de gênero é exposta na série.  Rose se mostra indignada porque a mãe impõe que ela sirva o irmão, ainda que ele não peça nada, e lhe faça as vontades.  Para a velha senhora, trata-se de uma forma de educar a moça para o casamento.  E, nesse aspecto, convém lembrar qual a função social das mulheres maduras, isto é, reforçar as estruturas sociais, afinal, elas já cumpriram sua função e, agora, em posição privilegiada, precisam zelar para que seu lugar de poder (*delegado*) – de mãe, de sogra – seja garantido pelos homens que geraram e adularam.

Presa fácil.
Já através de Helen se discutem várias coisas, mas logo de saída temos a sequência na qual ela afronta o reverendo e outras personagens do vilarejo ao ser questionada sobre a forma como educa seu filho.  Segundo os vizinhos e o pastor, ela estaria superprotegendo o menino, transformando-o em uma garota: frágil, dependente, medroso.  Afinal, ele deveria aprender sendo exposto às tentações (*o menininho só tem 5 anos*).  Helen prontamente pergunta se o mesmo seria proposto para uma menina.  Certamente, não!  Uma menina deve ser protegida das tentações, mantida na ignorância do mal.  Ao que Helen retruca que exatamente por causa disso, as mulheres se tornam presas fáceis dos enganadores.

Falando em Huntington, o marido de Helen, no livro ele é ruivo, talvez apontando para a instabilidade emocional e de caráter, na série, ele é aquele típico moreno lindo e viril que a literatura romântica popular e as adaptações para o cinema e TV adoram vender.  Fora isso, raramente vi um vilão tão asqueroso representado em tela.  Ele não é o vilão frio e elegante, daqueles que dão medo e, ao mesmo tempo, atraem, como o Sr. De Montserrat, ou Lord Grandcourt (Hugh Bonneville) de Daniel Deronda.  Ele é um alcoólatra que tem prazer em torturar a esposa valendo-se da força física e da lei que lhe assegura todos os direitos sobre ela e o filho. Além disso, humilha aqueles que considera inferiores, é assumidamente adúltero e corrupto.  

O marido pode tudo. 
As cenas em flashback com ele são terríveis e o esforço que o sujeito faz para transformar o filho pequenino em “um homem”, são angustiantes e carregadas de violência.  Foi até curioso voltar a ver a representação da construção da masculinidade em tela, depois de assistir Moonlight, o processo é o mesmo, porque, apesar das variações, o modelo de virilidade é muito semelhante.  Ser homem é tornar-se violento e, para isso, é preciso humilhar, tornar insensível, acostumar a criança a descontar nos "inferiores".  

E o menino sofre com o processo, claro.  Fora isso, o pai-vilão tenta tirar da mãe qualquer autoridade sobre a criança.  Anulando-a.  O menino é induzido a ser violento e desconta nos animais, treina as crueldades neles.  Assim, poucas vezes um vilão me despertou tamanha repulsa quanto Huntington e, ao que parece, uma das críticas ao livro – que a autora rebateu em vida (*olha que bobagem eu escrevi... mas vai ficar*) – foi que o retrato do alcoólatra moralmente degradado era realista demais.  

Você não verá esses sorrisos no seriado.
Para Anne Brönte, o vício precisava ser exposto e a interpretação de Rupert Graves é excepcional nesse aspecto.  Nem à beira da morte, mais para lá do que para cá, ele mostra qualquer sinal de arrependimento.  O sujeito continua debochando, espicaçando Helen.  A personagem é magnífica e, ao mesmo tempo, terrível.  no livro, então... Eu só fiquei pensando que se eu fosse a Helen, não teria fugido, não, tinha era providenciado um acidente para o canalha.

Através de Huntington todas o que de pior há no patriarcado está exposto.  O privilégio masculino, o poder sobre as mulheres e crianças.  A legislação inglesa, aliás, era particularmente terrível.  Mulheres casadas não eram sujeitos de direito, não podiam ter propriedade até 1870, se trabalhassem para ter uma renda poderiam ser processadas por estarem roubando o marido, se fugissem com os filhos, mesmo em situação de abuso, poderiam ser acusadas de sequestro.  Helen é, portanto, uma criminosa.  Ela suplica que o marido se separe dela, que lhe dê o que resta de seu dote, que permita que fique com o filho, mas ele não aceita nada disso apesar de desprezá-la, porque, bem, o que os vizinhos iriam pensar?  Enquanto isso, ele tinha um caso com a esposa de um de seus melhores amigos.


Condenada por ganhar seu próprio dinheiro.
Enfim, como pontuei lá no primeiro parágrafo, trata-se de um livro muito rico para ter somente três episódios.  Ainda assim, até que as coisas funcionaram bem.  Claro, que certas coisas parecem abruptas.  Quando Gilbert chama a protagonista de Helen pela primeira vez, tomei um susto.  “Ué, até a cena anterior era Mrs. Graham?”.  Mas não foi nada que comprometesse o andamento da história.  Tara Fitzgerald é uma boa Helen, ela passa o apagamento, a frieza, o distanciamento, toda aquele ar de quem suspeita de tudo e todos necessária a uma mulher que está fugindo e se escondendo.   Li uma resenha em que a pessoa se perguntava o que Gilbert viu nela... Ora, deve ter sido aquele gosto pelo mistério e pela fofoca. ^_^ 


O fato é que a atriz não parece com a descrição do livro, uma mulher bonita, alta e de cabelos negros, mas The Tenant of Wildfell Hall só teve duas adaptações para a TV e a primeira, de 1968,  que teve um episódio a mais, não está nem disponível.  Já o lindinho do Toby Stephens defende muito bem seu Gilbert Markham.  Ele transborda simpatia e bom mocismo, verdade, mas parece que era isso que a personagem pedia.  Imaginar que, dez anos depois, ele seria o melhor Mr. Rochester (*minha opinião, claro*) e passaria toda aquela paixão que a personagem turbulenta exige.  Gilbert é doce, gentil.  Há aquela cena do mal-entendido, porque romance sem mal-entendido parece coisa rara, mas ele resolve de forma totalmente diferente do Mr. Thornton de Norte e Sul e quase acaba com o irmão da amada.


Tio e sobrinho.
Aqui, cabe lamentar que os coadjuvantes tenham tão pouco espaço na trama.  Sabemos mais dos amigos pervertidos de Huntington do que do irmão de Helen.  James Purefoy faz quase nada na série e é realmente absurdo quando desconfiam que ele é o pai do filho de Helen por serem parecidos, quando um é moreno e o outro louro.  Enfim, ainda que as personagens secundárias não tenham sido desenvolvidas com a profundidade desejável, a tia de Helen nem volta no final como no livro, a atmosfera opressiva e hipócrita da vila perto de Wildfell Hall foi muito bem construída.  A voz coletiva, a condenação à (*suposta*) mulher adúltera e demasiado independente, está lá.


Não vi no seriado – e nem deve estar no livro, que eu nunca li por completo – uma condenação à Helen por ter desobedecido ao conselho da tia e se casado com Huntington.  O que a história parece condenar é a ignorância em que as moças eram mantidas e que as tornava presa fácil desse tipo de sujeito.  Huntington parece se casar com Helen, porque seria difícil simplesmente seduzi-la, só que acabou se decepcionando por não encontrar nela uma massa fácil de ser moldada, ela não se deixa corromper.  O escândalo da história para a sociedade da época – e o livro foi um sucesso imediato – era mostrar uma mulher capaz de romper, de fugir de um marido abusivo, de não se submeter. 

A filha do reverendo acreditava que iria casar com Gilbert.
Obviamente, salvaguardar moralmente o filho, foi uma escusa do roteiro, mas, ainda assim, era um ato de transgressão.  E Helen retorna para cuidar do marido, mas ela, agora, não é tão tola e vulnerável.  Foram ótimas as cenas em que ela toma as rédeas da casa e só deixa que o marido veja o filho depois que ele assina um documento lhe concedendo a guarda da criança.  Tendo em vista o caráter do sujeito, ela precisava se armar de todas as formas.

Que dizer mais?  O figurino não é fulgurante, mas Helen é uma personagem apagada nesse aspecto, especialmente, depois do casamento, e o ambiente da vila não favorece grandes belezas, mas parece correto.  Há algumas cenas com um figurino mais elaborado quando Helen é uma debutante em Londres, mas são poucas cenas.  Gostei da interação entre Tara Fitzgerald e Toby Stephens, a tensão, a angústia, a paixão reprimida, tudo está lá.  E a câmera mostra bem este jogo de sedução quando age como se fosse o olhar do mocinho sobre a nuca desnuda de Helen.  O decote dos vestidos da década de 1840 é bem sensual, levando-se em conta que todo o resto está coberto.

Você não verá muitos beijos nesta minissérie.
Terminando, vale a pena assistir a minissérie e ler o livro, também.  Espero desenterrar outras coisas do meu HD, há centenas de episódios de séries, minisséries da BBC e ITV, filmes etc.  E, bem, o Toby Stephens, que é filho da poderosa Maggie Smith, que fique registrado, vale por ele mesmo.  Ainda que como Mr. Rochester ele estivesse ainda mais bonito.  Comentarei Jane Eyre de 2006, eu prometo.  Aliás, acho que é o único Jane Eyre (*que vale a pena*) que não comentei no Shoujo Café.

Começam as comemorações dos 50 anos da Shounen Jump


O Shoujo Café não é sobre shounen, mas não pude ignorar essa notícia.  A Shounen Jump, a mais importante das antologias de mangá do Japão, completará 50 anos em 2018.  Eu realmente não sabia que ela só tinha 50 anos, imaginava que a Jump tivesse sido fundada nos anos 1950 e seria contemporânea da Ribon e da Nakayoshi.  A Jump foi fundada em 1968 e era quinzenal, passando depois ao formato atual, que é semanal.


Enfim, segundo o site Animeland, teremos várias exposições comemorativas este ano e no ano que vem.  Imagino que muita coisa mais.  Em julho abrirá a primeira exposição chamada de Vol. 1 e abordará a fundação da revista até os anos 1980.  Em 2018, seguirão as exposições Vol. 2 e 3.  O site francês não tinha mais detalhes.  Logo, outro site deve publicar alguma coisa.


Falando em Jump, o site Goboiano publicou um artigo intitulado "Anime is Changing to Focus on Female Fans to Survive" (Os animes estão mudando para focar na audiência feminina e se salvar) que deu a informação de que em 2012, anos do 45º aniversário da revista, os editores fizeram uma pesquisa e descobriram que 50% dos assinantes da publicação eram mulheres.  Também do mesmo ano era a pesquisa sobre quem são os leitores das séries mais importantes da Jump e as leitores mulheres representavam dentro do público leitor:
  1. Haikyuu!! – 66.8% 
  2. Gintama – 63.8% 
  3. Katekyo Hitman Reborn – 62.4% 
  4. Kuroko’s Basketball – 56.9% 
  5. One Piece – 51.8% 
  6. Bleach – 50.7% 

Enfim, falar da Jump é falar de algo do interesse das mulheres e é necessário estar atenta às mudanças da publicação ao longo dos anos para atender as expectativas dessas consumidoras.  O que significa isso?  Mais bishounen, mais queerbating e, essencialmente, o mesmo tipo de história, porque, bem, se elas não gostassem, estariam lendo outras coisas.  Importante, também, é lembrar que animes da Jump foram fundamentais para a expansão do mercado de mangá no Brasil.  Cavaleiros do Zodíaco, Dragon Ball e Naruto, esta tríade, especialmente, ajudaram a consolidar os mangás no Brasil, formar leitores, impulsionar eventos e tudo mais.  Seria interessante que os eventos sobre anime e mangá no Brasil celebrassem os 50 anos da Jumpa, também.

Ranking da Oricon


Fiquei duas semanas sem postar o ranking da Oricon e foram duas semanas bem fraquinhas.  Na primeira semana de fevereiro, nenhum shoujo no top 10.  Melhor posição foi de Totsuzen Desuga, Ashita Kekkonshimasu, que, curiosamente, manteve boa posição na semana seguinte.  Já na última semana, uma posição no top 10 para Dokyo Jin Ha Hiza, Tokidoki, Atama No Ue。, série da revista Comic Polaris que é muito elogiada.  em 29ª colocação Seito Shokun!, que já vai em seu segundo gaiden e sempre marca presença, mesmo que discreta, no top 30.  Vamos ver como fica esta semana.

10. Dokyo Jin Ha Hiza, Tokidoki, Atama No Ue。#3
15. Totsuzen Desuga, Ashita Kekkonshimasu #7
20. Koiwazurai no Eri #4
29. Seito Shokun! Saishusho Tabidachi #22

11. Totsuzen Desuga, Ashita Kekkonshimasu # 7
16. Mizutama Honey Boy #6
23. Osama ni Sasagu Kusuri Yubi #6

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Erros e Acertos da 89ª Cerimônia do Oscar


Não assisti à 89ª cerimônia de entrega dos Oscars, mas, enfim, acordei quase 5 da manhã para ir ao banheiro e meu marido me contou da confusão da entrega do prêmio de melhor filme.  Um novo Miss Universo.  Lembram da pobre Miss Colômbia ano passado?  Pois é... Resultado?  Não voltei a dormir.  Resumindo: trata-se de uma confusão inadmissível.  Primeiro, o pessoal de La La Land não podia ter passado por aquilo.  É terrível acreditar que ganhou, e poderia, vejam bem, não era um azarão, e ter que devolver os prêmios.  Segundo, a equipe de Moonlight não pode fazer a festa que faria, porque, bem, olha o constrangimento.  De resto, eu, se fosse a organização, enrolava e declarava que houve empate.  Enfim, inventava alguma coisa menos triste.  Mas eu não mando em nada.  E só vou ver o vídeo quando conseguir o torrent da cerimônia inteira.


De qualquer forma, sei que perdi muita coisa legal.  Por exemplo, a verdadeira Katherine Johnson estava na cerimônia! Velhinha, de azul, linda e com as atrizes de Estrelas Além do Tempo. ^_^ Como não comentar e amar?  Fora isso, tivemos Viola Davis levando coadjuvante.  É o único ator negro a levar Oscar, Globo de Ouro e Emmy.  Diva!  Agora, será que ela não deveria estar na categoria melhor atriz?  E, claro, aí correr o risco de não levar?  E não vou criticar a Emma Stone.  Ela não tem culpa das armações da academia, de negligenciar gente como a Amy Adams e, claro, ousar colocar Isabelle Huppert e Meryl Streep perdendo para ela.


Comentando no geral os meus erros e acertos, se eu tivesse seguido a lógica, teria acertado mais três acertos (seria o meu recorde), mas quis ficar com o Dev Patel para coadjuvante e desviei dos favoritos para documentário longa e curta, mas é só pegar meus comentários de ontem para ver que eu estava ciente que erraria.  Filme, não, eu via possibilidade em Moonlight e apostei certo.  Agora, no site de onde tinha tirado os indicados, não incluíram “efeitos visuais”.  Ganhou Mogli e eu erraria de qualquer jeito.  Subestimei o filme do Mel Gibson, mas não assisti e nem sei se irei.  Tenho baixíssima tolerância à Gibson como ator e/ou diretor desde Coração Valente.  


Já o maior fiasco da noite, a bola fora, foi o prêmio de melhor ator.  Desviaram do SAG, mas aí é até fácil teorizar, desprezaram um grande ator negro, em uma grande atuação para premiar um sujeito mais ou menos e acusado de assédio.  Hollywood passando a mão na cabeça dos abusadores.  De resto, Damien Chazelle ganhou diretor.  O mais jovem premiado na categoria.  Ele é competente, mas será que fariam o mesmo por um diretor que não fosse branco?  Du-vi-do!  Se não fosse homem, aliás, nem seria indicado, vide quantas mulheres foram indicadas para Oscar de melhor direção ao longo da história, somente 4.  Na verdade, mulheres são pouco indicadas no geral, salvo em categorias obrigatórias ou óbvias, como figurino.  De resto, o grande injustiçado foi Lion.  Segue meus erros e acertos.

Melhor Filme - Moonlight: Sob a Luz do Luar

Melhor diretor - Damien Chazelle – La La Land – Cantando Estações

Melhor ator - Casey Affleck – Manchester À Beira Mar
Denzel Washington – Cercas

Melhor atriz - Emma Stone – La La Land – Cantando Estações

Melhor ator coadjuvante - Mahershala Ali – Moonlight: Sob a Luz do Luar
Dev Patel – Lion: Uma Jornada Para Casa

Melhor atriz coadjuvante - Viola Davis – Cercas

Melhor roteiro original - Manchester À Beira Mar

Melhor roteiro adaptado - Moonlight: Sob a Luz do Luar

Melhor edição - Até o Último Homem
La La Land – Cantando Estações

Melhor edição de som - A Chegada
La La Land – Cantando Estações

Melhor mixagem de som - Até o Último Homem
La La Land – Cantando Estações

Fotografia - La La Land – Cantando Estações
Lion: Uma Jornada Para Casa

Melhor direção de arte - La La Land – Cantando Estações

Melhor trilha - La La Land – Cantando Estações

Melhor canção - City of stars – La La Land – Cantando Estações

Mixagem de som - Até o Último Homem
A Chegada

Melhor design de produção - La La Land – Cantando Estações

Melhor figurino - Animais Fantásticos e Onde Habitam
La La Land – Cantando Estações

Melhor cabelo a maquiagem - Esquadrão Suicida
Star Trek: Sem Fronteiras

Melhor filme em língua estrangeira - O Apartamento - Irã

Melhor animação - Zootopia

Melhor documentário - O.J.: Made in America
I Am Not Your Negro

Melhor documentário em curta-metragem - The White Helmets
Joe’s violin

Melhor curta metragem - Sing
Ennemis Intérieurs

Melhores efeitos visuais  - Mogli: O Menino Lobo


domingo, 26 de fevereiro de 2017

Notícias diversas: Novo anime de Jigoku Shoujo, possível anime de Gakuen Babysitters e 25 anos da revista Kiss


Saíram três notícias curtas que, bem, preferi juntar em um post só.  Primeira notinha, que vem do ANN, foi anunciado um novo anime de Jigoku Shoujo  (地獄少女) para julho.  Segundo o site, um volume compilando as histórias que já foram adaptadas para animação trouxe uma notinha.  Sem maiores detalhes.  A série de Miyuki Etoo para a Nakayoshi já teve duas temporadas animadas, um live action e três gaiden.  Jigoku Shoujo, algo como garota do inferno, é uma série de horror, ainda que seja publicada em uma revista shoujo para um público mais jovem.


Outra notinha é que o site da revista LaLa publicou que a edição de maio da revista, que sai em 24 de março, trará uma grande notícia sobre a série Gakuen Babysitters (学園ベビーシッターズ), de Hari Yokeino.  99% de chance de ser anime, não há perfil para outra coisa, não antes de uma animação.  A edição do anúncio terá capa e páginas colorida da série.  Enfim, Gakuen Babysitters é publicado desde 2009 e terá seu volume #14 lançado em 5 de abril.


A revista Kiss está comemorando os seus 25 anos e, por conta disso, deve oferecer brindes, promover eventos, enfim, movimentar alguma coisa.  Por conta disso, segundo o Comic Natalie, um artigo sobre a história da revista saiu na última edição enfocando algumas das séries famosas que já passaram por suas páginas: Kimi wa Pet (きみはペット), Nodame Cantabile (のだめカンタービレ), IS, Shin Kimi no Te ga Sasayaite Iru  (新・君の手がささやいている),  Shin Shiratori Reiko de Gozaimasu!  (新・白鳥麗子でございます!), entre outros.  

Minhas apostas para o Oscar e algumas considerações


Hoje é dia de Oscar, ainda que, provavelmente, só vá assistir amanhã.  Não tenho TV por assinatura, a Globo não vai exibir e streaming normalmente não funciona para mim nessas horas.  Devo acompanhar pelo Twitter, se conseguir.  Aliás, uma das partes mais legais de qualquer evento esses dias é acompanhar no Twitter. ^_^ Enfim, vou fazer uns comentários em algumas categorias, em outras, só vou apostar, e, em alguns casos, chutar mesmo.

Este ano, até pelo perfil das indicações, não somente em termos de qualidade, mas especialmente em diversidade e por evidenciar os dilemas enfrentados pela população negra norte americana.  Pegue a categoria melhor documentário, os três favoritos são filmes discutindo as discriminações históricas e estruturais contra os negros.  Sim, mesmo o do caso O.J. Simpson, o favorito, flerta com isso.  Ademais, toda a cerimônia deve ser muito politizada, como disse um jornal italiano (*não achei o link, mas este outro site diz o mesmo*), até a escolha de Zootopia em animação, deve soar um ato político, afinal, o desenho fala de diversidade de uma forma tão insistente que até compromete a fluidez do roteiro (*eu assisti, não resenhei e, bem, achei o desenho meio forçado, sim.*).  Só que politização dos prêmios não é novidade alguma.

Melhor Filme
A Chegada
Até o Último Homem
Estrelas Além do Tempo
Lion: Uma Jornada para Casa
Moonlight: Sob a Luz do Luar
Um Limite Entre Nós
A Qualquer Custo
La La Land: Cantando Estações
Manchester à Beira-Mar

- Parece que a categoria virou favas contadas.  A maioria está apostando em La La Land, um filme que me pareceu somente bonitinho (*daí, até acho válido que fique com os prêmios que reforcem esses aspectos*) e com um roteiro muito meia boca, mas que é uma poderosa fuga para o passado do cinema norte americano, um passado que era branco e feliz (*para quem, não é?*).  Só que dos indicados só assisti Lion, La La Land, Estrelas Além do Tempo e Moonlight.  Há quem defenda que A Chegada é o melhor filme, mas é ficção científica... Eu aposto no segundo favorito, Moonlight.  Que a premiação seja politicamente engajada e, não, escapista, mas sei que será difícil.

Melhor diretor
Dennis Villeneuve – A Chegada
Mel Gibson – Até o Último Homem
Damien Chazelle – La La Land – Cantando Estações
Kenneth Lonergan – Manchester À Beira Mar
Barry Jenkins – Moonlight: Sob a luz do luar

- Aqui, é favas contadas, vai para Damien Chazelle, considerado um jovem prodígio e um sujeito que já levou tudo até agora.  Como achei La La Land bem blé, acho que estão adulando o sujeito demais antes dele oferecer uma obra que valha realmente o aplauso generalizado.  Agora, fato é que não será a primeira, nem a última vez.  Seria estranho se o mesmo estivesse acontecendo com uma diretora mulher, ou um homem que pertencesse a alguma minoria.  Até hoje, é notório o ano em que tanto Barba Streisand (O Príncipe das Marés), quanto Stan Lee (Malcolm X), foram esnobados nas indicações.

Melhor ator
Casey Affleck – Manchester À Beira Mar
Denzel Washington – Cercas
Ryan Gosling – La La Land – Cantando Estações
Andrew Garfield – Até o Último Homem
Viggo Mortensen – Capitão Fantástico

- Casey Affleck ganhou o Globo de Ouro, assim como Ryan Gosling.  O primeiro é visto por muitos como favorito, apesar do escândalo em torno dele.   Só que Denzel Washington ganhou o SAG e quem ganha este prêmio leva o Oscar faz mais de 10 anos.  O que vai rolar?  Eu voto em Denzel Washington, mas ele já tem dois prêmios oscar e é negro.  De repente, são tantos favoritos que os votos se dividem e um azarão, Viggo Mortensen, por exemplo, leva o prêmio.  Seria curioso.

Melhor atriz
Natalie Portman – Jackie
Emma Stone – La La Land – Cantando Estações
Meryl Streep – Florence: Quem é Essa Mulher?
Ruth Negga – Loving
Isabelle Huppert – Elle

- Acho que Emma Stone pode levar o Oscar, por isso votei nela.  Quem merecia levar, até porque já merecia faz tempo, é Amy Adams, mas ela nem foi indicada.  Só que premiarem Stone, uma ótima atriz, mas que precisaria amadurecer ainda, será uma bruta injustiça, basta pegar as concorrentes como Meryl Streep e Isabelle Rupert (*Shakespeare in Love feelings!*).  Natalie Portman, também, claro, mas acredito que ela não vá levar seu segundo oscar por Jackie, não.

Melhor ator coadjuvante
Jeff Bridges – Até o Último Homem
Lucas Hedges – Manchester À Beira Mar
Dev Patel – Lion: Uma Jornada Para Casa
Michael Shannon – Animais Noturnos
Mahershala Ali – Moonlight: Sob a Luz do Luar

- Parece favas contadas, deve ir para Mahershala Ali, mas eu vou votar no Dev Patel e torcer. ^_^

Melhor atriz coadjuvante
Viola Davis – Cercas
Naomie Harris – Moonlight: Sob a Luz do Luar
Nicole Kidman – Lion: Uma Jornada Para Casa
Octavia Spencer – Estrelas Além do Tempo
Michelle Williams – Manchester À Beira Mar

- Aqui, Viola Davis é absoluta.  Não acho que ninguém tenha chance, não.  Viola acumula três indicações, já é a atriz negra recordista nesse aspecto.

Melhor roteiro original
La La Land – Cantando Estações
Manchester À Beira Mar
A Qualquer Custo
O Lagosta
20th Century Woman

- Olha, só vi La La Land, mas o roteiro desse filme é seu ponto fraco.  Se derem vai ser injusto.  A Qualquer Custo parece ser um filme interessante, mas parece que vai para Manchester À Beira Mar.  Voto nele.

Melhor roteiro adaptado
Moonlight: Sob a Luz do Luar
Lion: Uma Jornada Para Casa
Cercas
Estrelas Além do Tempo
A Chegada

- Lion, Moonlight, A Chegada, Estrelas Além do Tempo... Moonlight deve ficar com o prêmio, acredito eu.  No Bafta, premiação do cinema britânico, foi para Lion.

Melhor edição
A Chegada
Até o Último Homem
A Qualquer Custo
La La Land – Cantando Estações
Moonlight: Sob a luz do luar

Melhor edição de som
A Chegada
Horizonte Profundo: Desastre no Golfo
Até o Último Homem
La La Land – Cantando Estações
Sully: O Herói do Rio Hudson

Melhor mixagem de som
A Chegada
Até o Último Homem
La La Land – Cantando Estações
Rogue One: Uma história Star Wars
13 Horas: Os Soldados Secretos de Benghazi

Fotografia
A Chegada
La La Land – Cantando Estações
Lion: Uma Jornada Para Casa
Moonlight: Sob a Luz do Luar
Silêncio

- Lion foi premiado nessa categoria.  A fotografia é linda, mas as de Moonlight e de La La Land, também, são.  De repente, é o único prêmio de Lion.  Voto nele.

Melhor direção de arte
A Chegada
Animais Fantásticos e Onde Habitam
Ave, César
La La Land – Cantando Estações
Passageiros

Melhor trilha
Jackie
La La Land – Cantando Estações
Lion: Uma Jornada Para Casa
Moonlight: Sob a Luz do Luar
Passageiros

- Na área de música e som, La La Land deve ser absolute.

Melhor canção
Audition (The fools who dream) – La La Land – Cantando Estações
Can’t stop the feeling – Trolls
City of stars – La La Land – Cantando Estações
The empty chair – Jim: The James Foley Story
How Far I’ll go – Moana

- Salvo se os votos de La La Land se dividirem e surgir espaço para um azarão, é para o musical.  Acredito que City of Stars leve.

Mixagem de som
A Chegada
Até o Último Homem
La La Land – Cantando Estações
Rogue One: Uma história Star Wars
13 Horas: Os Soldados Secretos de Benghazi

- Aqui é um prêmio mais técnico, não é?  Aposto em A Chegada.  De repente, é o único Oscar deste filme.

Melhor design de produção
A Chegada
Animais Fantásticos e Onde Habitam
Ave, Cesar!
La La Land – Cantando Estações
Passageiros

- La La Land é um filme visualmente muito bonito.  Há bons concorrentes, mas acho que é prêmio certo.

Melhor figurino
Aliados
Animais Fantásticos e Onde Habitam
Florence: Quem é Essa Mulher?
Jackie
La La Land – Cantando Estações

- Estavam cantando que Jackie seria vitorioso, mas o prêmio do sindicato da área foi para La La Land (*e Estrelas Além do Tempo e Dr. Estranho*), quem ganha lá, leva o Oscar faz dez anos.  

Melhor cabelo a maquiagem
Um Homem Chamado Ove
Star Trek: Sem Fronteiras
Esquadrão Suicida

Melhor filme em língua estrangeira
Terra de Minas - Dinamarca
Um Homem Chamado Ove - Suécia
O Apartamento - Irã
Tanna - Austrália
Toni Erdmann - Alemanha

- Se for pela lógica do protesto, o filme iraniano, O Apartamento, leva, mas vi um crítico louvando o filem alemão, Toni Erdmann.  Vou no iraniano, mas algo me diz que não vai levar.

Melhor animação
Kubo e as Cordas Mágicas
Moana: Um Mar de Aventuras
Minha Vida de Abobrinha
A Tartaruga Vermelha
Zootopia

- Só assisti as duas produções da Disney, mas acredito que é Zootopia o vencedor.  Não achei injusto não indicarem Dory, o filme é só divertidinho.  Gostei muito mais da Vida secreta dos Bichos.  Acredito que, se der zebra, será Kudo e as Cordas Mágicas.

Melhor documentário
Fogo no Mar
I Am Not Your Negro
Life, Animated
O.J.: Made in America
A 13ª Emenda

- A maioria aposta em O.J., há quem diga que 13ª Emenda é quem pode levar o prêmio, mas vou apostar em I Am Not Your Negro.  De qualquer forma, vai ficar com um dos três que discute a questão dos negros.

Melhor documentário em curta-metragem
Extremis
41 miles
Joe’s violin
Watani: My homeland
The White Helmets

- Aqui, parece que a maioria dos filmes discute a questão da Síria ou algo próximo do drama dos refugiados.  O favorito, segundo o site Vox, é The White Helmets, mas eu vou de música e holocausto, Joe’s violin.

Melhor curta metragem
Ennemis Intérieurs
La femme et le TGV
Silent night
Sing
Timecode

- Aqui, foi chute, mas parece que Ennemis Intérieurs, que trata do espinhoso tema da imigração, é o favorito.

É isso, vamos ver como o prêmio do cinema americano, que a maioria acha que é de todo mundo, vai se definir.  Espero que o/a apresentador/a torne a festa interessante.  Eu gosto muito da cerimônia, dos números musicais e homenagens.  Bem, se você quiser ver as críticas que fiz à filmes que estão na corrida, é só clicar: La La Land, Moonlight, Moana, Estrelas Além do TempoStar Trek: Sem FronteirasAnimais Fantásticos e Onde Habitam, Rogue One, Jackie, Trolls e Lion.

sábado, 25 de fevereiro de 2017

Comentando Moonlight: Sob a Luz do Luar (Moonlight, 2016)


Hoje, assisti Moonlight: Sob a Luz do Luar.  Infelizmente, não foi no cinema.  As sessões em Brasília eram poucas e os horários não me eram favoráveis (*não vou contar com a supercara sala vip de um shopping aqui perto*).  Talvez, no cinema, o drama de Chiron tivesse me impactado mais, emocionado mesmo.  Fiquei fazendo o jogo mental e comparando com Lion, bem, o filme com Dev Patel me tocou mais, no entanto, a cena final de Moonlight, discreta, sensível, foi uma das coisas mais bonitas e tocantes que vi nos últimos tempos.  Se houvesse prêmio para melhor cena, daria para  o final de Moonlight.

A história do filme normalmente é resumida como a narrativa da descoberta da (homos)sexualidade de Chiron (Alex Hibbert), um garoto negro que mora em uma vizinhança pobre de Miami, sua relação com a mãe drogada (Naomie Harris) e com o traficante (Mahershala Ali) que termina por se tornar a figura paterna em sua vida.  Bem, o problema é que Moonlight tem três momentos e três atores interpretando Chiron.  O adolescente é Ashton Sanders e o adulto é Trevante Rhodes.  E é aí que vejo problemas em Moonlight, o filme merecia ser mais longo, cada um dos Chiron e, em especial, Mahershala Ali, precisavam de mais tempo para terem suas tramas desenvolvidas de forma mais satisfatória.

A bela cena da praia.
Moonlight foi agraciado com oito justas indicações ao Oscar.  Imagino que possa sair com umas  três estatuetas, tudo o que ganhar, se ganhar alguma coisa, será merecido.  Trata-se de um filme interessante que discute muitas coisas.  A descoberta da orientação sexual, me atrevo a dizer, não é o mais importante.  O que me saltou aos olhos foi como o filme apresenta de forma clara e dolorosa a construção das masculinidades, agravada por uma situação de pobreza, falta de perspectivas de vida e exemplos positivos.  

Falando em masculinidades, trata-se de uma área dos estudos de gênero que se concentra em discutir como os homens são construídos como homens.  Hierarquias entre homens e mulheres, entre homens e homens, o que torna um indivíduo viril em uma determinada sociedade etc.  Nesse caso, pega-se um conceito surgido dentro dos escritos e reflexões feministas e aplicamos não somente para as discussões sobre as mulheres, como, também, às discussões a respeito dos homens.  “Ninguém nasce homem, torna-se homem” é uma frase tão verdadeira quanto a original de Simone de Beauvoir.  

A adolescência é a parte mais explicitamente violenta do filme.
A discussão central de Moonlight a meu ver é esta, com o agravante da orientação sexual.  O aspecto comunidade negra foi enfatizado em algumas análises, mas duvido muito que a coerção não seria a mesma ou similar em uma comunidade pobre branca, latina, ou de outro grupo qualquer.  Mas, enfim, como ser reconhecido como viril em uma sociedade na qual ser homem se remete à violência e a heteronormatividade e, ainda assim, ser homossexual?  De resto, ser homem em uma dada sociedade, assim como ser mulher, é algo mais complexo do que parece...

Chiron é perseguido desde a infância por não ser forte o suficiente, por ser tímido, retraído.  Talvez não tenha sido sua mãe a primeira a ofendê-lo, mas ela o chama de “faggot” – palavra ofensiva utilizada para com os homossexuais – em uma cena que deixa evidente que sua casa não é um lugar de acolhida ou proteção.  Um menino deve ser agressivo, mostrar-se superior aos outros, ou, no máximo, seguir o exemplo dos líderes, ser "um dos caras".  Chiron não consegue ser nada disso, talvez ele não sobrevivesse se não tivesse encontrado Juan, o traficante, e Teresa (Janelle Monáe),   sua companheira, que passam a ser seu referencial de família.  

Figura paterna e referência de masculinidade.
Estranho, verdade, mas a realidade é feita de contradições.  O traficante que ajuda a destruir a vida da mãe de Chiron é quem salva o menino da aniquilação, do suicídio, talvez.  Pena que Mahershala Ali fique tão pouco em cena.  Eu não contava com seu desaparecimento prematuro, ele só está na primeira parte do filme, ainda que o Chiron adulto o tenha como modelo, se espelhe nele em tudo, o ator tem pouquíssimas cenas.  Por conta disso, dessa participação tão limitada, acredito que Dev Patel mereça o Oscar de coadjuvante, vamos ver como a Academia vai se posicionar amanhã.

Na adolescência, a coisa se torna ainda mais pesada, porque é preciso exercitar e construir a virilidade a cada gesto, no vestuário, na forma grosseira de se referir às mulheres, na agressão aos mais fracos.  Chiron, coitado, é um dos mais fracos.  Diferente do que acontece em muitos filmes, não sabemos se ele é bom aluno, não sabemos nada de seu desempenho escolar.  Sabemos, sim, que ele sofre bullying violentíssimo, que é ameaçado de estupro (*quem violenta acredita estar com sua “macheza” intacta*) a cada curva do corredor da escola, que continua tendo uma mãe drogada e abusadora.  De esperança, somente Teresa, mas ela aparece pouco na segunda parte do filme.

A praia, o mar, encontro, libertação, esperança.
É na segunda parte que Chiron descobre o sexo, sente-se acolhido, Kevin (Jharrel Jerome), seu único amigo de infância, parece entender a condição do protagonista e sentir o mesmo que ele.  No entanto, logo em seguida, Chiron é destroçado, mas não se curva.  É um ponto de virada.  O garoto tímido precisa morrer, Chiron precisa adotar quase a totalidade dos rígidos códigos de masculinidade vigentes naquela comunidade, ainda que sua sexualidade seja reprimida, escondida.  É um Chiron transformado em uma montanha de músculos, seguro, armado, emulando Juan a cada gesto, que vemos na terceira fase do filme.  É o mesmo menino tímido da parte um, mas revestido de uma carapaça.  Ninguém seria capaz de chama-lo de “little” ou “faggot”, ninguém seria capaz de ameaçá-lo de estupro.

Só que a afetividade e a sexualidade de Chiron continuam atrofiadas, reprimidas.  E como ser diferente?   O reencontro com Kevin – e olha que eu estava com o pé atrás com esse cidadão – oferecem um belo desfecho para o filme.  Tanto Chiron, quanto Kevin, são constrangidos a se enquadrar em um modelo de masculinidade brutal.  Os dois se enquadram e os dois escapam, cada um a sua maneira.  E, bem, Kevin se arrepende de sua fraqueza na adolescência, por ter se assujeitado aos desmandos do grupo dos bullies para sobreviver.  Infelizmente, não poderia ser muito diferente... 

A escola é uma prisão, não elemento de libertação.
Bem, vou parar por aqui.  Falta, claro, falar das mulheres de Moonlight.  Bem, o filme não é sobre mulheres, seria injusto fazer um estardalhaço sobre o fato da Bechdel Rule não ser cumprida.  Ao longo do filme, se bem prestei atenção, são três mulheres com falas (*Paula, a mãe abusiva de Chiron, Teresa e uma oficial da escola*), há a namorada de Kevin, Samantha, que só é referida e muitas figurantes.  A maioria negras, porque, bem, trata-se de uma comunidade negra.  As únicas pessoas brancas em tela são figurantes no restaurante de Kevin.

Talvez, se pudesse fazer alguma discussão em torno da mãe de Chiron.  Era viúva ou fora abandonada?  Como entrou nas drogas?  Quantas mulheres são abandonadas, não tem perspectiva, apoio e terminam por descontar suas frustrações nos filhos?  Seria o caso?   Ela, por fim, se arrepende, declara seu amor, é uma cena bonita, mas o filme não é sobre Paula, ou a família de Chiron, é sobre o garoto.  Obviamente, só a cena dela chamando o filho de “faggot” já renderia toda uma pregação conservadora sobre o uso das palavras e como elas podem terminar em maldição... De resto, Janelle Monáe estava ótima como Teresa.  Ela merecia uma indicação por Hidden Figures (Estrelas Além do Tempo), mas poderia ter recebido por Moonlight, também, ainda que seu papel tenha sido mais discreto.

Os três Chiron.
Termino dizendo que Moonlight é um filme muito superior à La La Land, o provável campeão do Oscar amanhã.  Melhor como roteiro, mais inclusivo, com belas imagens (*destaque para o uso do mar como metáfora de libertação*), muitos silêncios e algumas cenas de uma delicadeza única. La La Land é uma celebração do cinema, um filme que olha para trás.  Um filme, também, com um homem branco se pavoneando sobre o quanto ele entende de jazz, uma música que nasce negra, e em situação de domínio sobre sua parceira em tela.  Agora, quantos filmes você conhece que discutem a experiência da homossexualidade?  Poucos.  Quantos não são comédia?  Alguns.  Quantos tem um negro como protagonista?  Exemplo?  Moonlight tem defeitos, mas são muito, muito pequenos.  

De resto, não vejo o filme como um novo Brokeback Mountain, o tema é semelhante, a forma de tratamento dada, não é.   Ademais, ninguém em Moonlight usa mulheres como saco de pancada para suas frustrações e isso faz muita diferença para mim.  Outra coisa, gostei mais de Lion, me emocionei mais com Lion, mas Moonlight é melhor.  Lion tem duas partes distintas, mas a primeira é superior, mais criativa, enquanto a segunda, ainda que tocante, é convencional.  Moonlight consegue brilhar em suas três partes, pena que não tenham lhe dado uns vinte minutos a mais.  É isso.

Menina entra em coma aos 14 e acorda com 40 anos


Acabou de ser lançado no Japão o primeiro volume de Otona Skip, mangá de Matsuda Hiroko, publicado na revista Comic Beam.  Nunca tinha ouvido falar da série, ela sequer está registrada no Manga Updates.  Enfim, segundo o Comic Natalie, o mangá conta a história de uma menina que entra em coma aos 14 anos, depois de um acidente de automóvel, ao acordar, ela está com 40 anos, seus pais faleceram e ela precisa aprender a viver de novo.  Mas como?  Quando ela dormiu, estava no ginasial, era uma menina... Enfim, pode ser um material interessante.  

Associação premia os melhores figurinos do Cinema em 2016


Palavra que eu nunca tinha ouvido falar da Costume Designers Guild Awards.  Deveria imaginar que existia um prêmio e um sindicato relacionado ao figurino, mas eu só fui descobrir ontem quando um colega de trabalho comentou que La La Land deve levar melhor figurino.  Daí, ele explicou que tinha saído a premiação, que, aliás, está na sua 19ª edição.  Enfim, fui me informar e descobri que nos últimos 10 anos, quem leva um dos CDGW, leva o Oscar.

Por que um dos?  Bem, é que eles premiam em separado filmes contemporâneos, de época e fantasia.  Achei bem legal isso.  Só que, quem levou filme de época, Estrelas Além do Tempo (Hidden Figures) e filme de fantasia, Dr. Estranho, não estão competindo pelo Oscar.  Logo, La La Land deve ficar com a estatueta, já que levou na categoria filme contemporâneo.  É uma pena, mas quase favas contadas.  


De resto, são premiados, também, séries de TV.  American Horror Story levou contemporâneo, The Crown ficou com de época e Game of Thrones, fantasia.  No domingo, se tudo correr bem, faço minhas apostas para o Oscar.

Koe no Katachi e Yuri!!! on ICE são os vencedores do Tokyo Anime Award Festival


Quinta-feira passada foram revelados os vencedores do Tokyo Anime Award Festival deste ano, que acontecerá entre os dias 10 e 13 de março.  Já havia comentado que Yuri!!! on ICE (ユーリ!!! on ICE) tinha vendo a votação popular de anime do ano, mas a série dos patinadores levou, também, a premiação de melhor série de TV do ano.  


Os outros premiados foram:
  • Melhor Animação para o Cinema: Koe no Katachi (聲の形)
  • Melhor Diretor: Makoto Shinkai
  • Melhor Roteiro/Trabalho Original: Reiko Yoshida
  • Melhor Animador: Tadashi Hiramatsu
  • Melhor Arte/Colorização/Visual: Shunichiro Yoshihara
  • Melhor Som/Performance: Hiroyuki Sawano
O ANN listou, também, os prêmios especiais, o Comic Natalie falou somente de Leiji Matsumoto, mas são muitos os agraciados, em vários casos, trata-se de homenagem póstuma.  Dentre os homenageados, três são mulheres: Michiyo Yasuda (prêmio póstumo), a color designer trabalhava para o Studio Ghibli e foi responsável por Grave of the Fireflies, Only Yesterday, The Wind Rises; Yoko Maekawa, cantora responsável pelo inesquecível tema de Cutey Honey, entre muitos outros; Eiko Masuyama, dubladora, responsável por dezenas de personagens como Tensai Bakabon (Mama), Cutey Honey (Honey), Lupin III: Part II (Fujiko Mine).  Aí embaixo, Yoko Maekawa cantando outro de seus temas inesquecíveis, Majokko Megu-chan (魔女っ子メグちゃん), adoro as performances dela:

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Marjane Satrapi vai dirigir filme sobre Madame Curie


Marjane Satrapi, muito conhecida por seus quadrinhos, como Persépolis e Bordados, vai dirigir a adaptação do livro Radioactive, de Lauren Redniss, para o cinema. O livro conta a história da cientista duas vezes vencedora do Nobel, Marie Curie (1867-1934). Radioactive: Marie & Pierre Curie: A tale of love and fallout, de 2011 foi o primeiro livro de não ficção finalista do National Book Award, prêmio literário anual norte americano.


Cientista polonesa com naturalização francesa, Marie foi também primeira pessoa e única mulher a ganhar o prêmio duas vezes, em áreas diferentes. Física em 1903 e Química em 1911. A produção abordará a trajetória da cientista a partir de sua mudança de Varsóvia para Paris, onde ela conheceu Pierre Curi, com quem teve uma longa parceria de estudos científicos. O casal desenvolveu a teoria da radioatividade e técnicas para isolar isótopos radioativos. Pioneiros, eles descobriram também dois importantes elementos químicos: polônio e o rádio. Tais feitos impulsionaram uma série de novas descobertas nos campos da ciência e da tecnologia, que culminariam, mais adiante, na criação da energia nuclear.


Segundo Satrapi, "Além do fato de ela ter ganhado duas vezes o Nobel, a Marie por si só já é uma personagem épica. Esse filme não é apenas um resumo da vida dessa mulher excepcional. Ele conta a história da radioatividade desde sua descoberta, até hoje". Fico feliz por mais um filme sobre mulheres cientistas.  O roteiro do filme será escrito pelo britânico Jack Thorne (Uma Longa Queda) e as filmagens começam no outono europeu (*primavera, aqui, no Brasil*). Ainda não há informações sobre o elenco nos sites que consultei (*Huffington Post e Globo*). Satrapi já dirigiu vários filmes: Persepolis (2007), Frango com Ameixas (2011), La Bande des Jotas (2012) e As Vozes (2014).