quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

'Yo voto por el derecho a decidir. #Quesealey': Argentina descriminaliza o aborto até a 14ª semana

Não tenho conseguido fazer muitos posts esses dias, inclusive sobre a terrível onda de feminicídios da semana natalina em nosso país, pois estou de mudança e minha mão direita ainda está lesionada (*posts longos, qualquer post, na verdade, deveriam ser evitados*), mas não poderia deixar de celebrar a vitória das mulheres argentinas, feministas, ou não, engajadas na ampliação dos seus direitos. Sim, direito.  A Argentina se junta ao Uruguai na América do Sul, porque os uruguaios normalmente saem na frente em questão de direitos.  Em toda a América Latina, temos ainda Cuba, Porto Rico e Guiana, fora algumas regiões do México, normalmente, esquecem dessa peculiaridade do país e o deixam de fora da lista.

Estava acompanhando muito de longe o desdobrar dos acontecimentos. Quando passou pela câmara dos deputados de lá, segurei a onda, porque, bem, da outra vez, a coisa caiu no Senado.  Só que dessa vez, deu certo e não foi por votação apertada, não.  Com 38 votos a favor, 29 contra e uma abstenção, o Senado argentino aprovou a interrupção voluntária da gravidez na Argentina. Pelo projeto apresentado pelo presidente argentino Alberto Fernández, o período máximo de gestação em que o aborto seria permitido é de 14 semanas. 

Nas matérias que li, destacam-se a atuação de Nelly Minyersky, diretora de mestrado da Faculdade de Direito da Universidade de Buenos Aires.  Com 91 anos, ela defende há pelo menos quinze anos a descriminalização e a legalização do aborto na Argentina e esteve presente a todas as sessões na câmara discutindo o projeto, mesmo sendo grupo de risco, afinal, estamos em uma pandemia.  Citando a matéria da UOL: ""O aborto saiu do armário. Ele sempre existiu, mas o debate permitiu que esta realidade clandestina e que castiga as mulheres viesse à tona", disse a ativista em entrevista à BBC News Brasil. Ela espera que o projeto seja aprovado e que "influencie" toda a América Latina, onde muitas mulheres, afirmou, sofrem caladas e acabam "até algemadas"."  

A outra fala é da senadora Silvia Sapag, nascida em 1949: “Quando eu nasci, as mulheres não votavam, não herdavam, não podiam ir para a universidade. Não podíamos nos divorciar, não tínhamos aposentadoria como donas de casa. Quando nasci, as mulheres não eram ninguém. Sinto emoção pela luta de todas as mulheres que estão fora agora. Para todos elas, que seja lei".  A fala da senadora é emocionada e carregada de uma ideia, que eu como historiadora considero falsa, vide o momento triste que vivemos, de evolução.  Mas, sim, os avanços legais na Argentina em relação aos direitos das mulheres foram obtidos ao longo de anos de lutas de várias gerações de mulheres.  Não caiu do céu.  E se há mulheres na câmara e senado de lá votando contra o direito das outras mulheres, é porque as feministas lutaram para que elas pudessem votar e serem votadas, também. 

Em outra entrevista, a senadora disse: "“Também é verdade que com o passar do tempo se fica mais consciente. Sou uma mulher adulta, sempre fui a favor do aborto, minha mãe me proibia de falar sobre aborto em público, não podia ser que a filha dela tivesse essas ideias malucas.  Então, em 2018, quando todo o poder da Campanha foi, as mulheres na rua, na chuva, esperando durante a noite, pressionando o Senado, bom, minha neta estava lá, minha neta de treze anos, com quem converso muitas coisas,e ela me disse: "mas é óbvio vovó."  E esse "óbvio" tira meu sono ", disse ela."  Fico feliz pelas argentinas e que 2018, aquele ano horrível, não tenha se repetido.

A Argentina se junta as nações mais desenvolvidas do mundo em relação ao direito de aborto e seguindo o percurso correto, o Legislativo.  Aqui, no Brasil, o pessoal tem tanto medo do da composição bizarra do nosso congresso, que se repete a cada nova legislatura, que tenta fazer gambiarras, apelando para o STF.  Eu, Valéria, mulher feminista, defensora d descriminalização do aborto até a 12ª ou 14ª semana de gestação, gostaria que as coisas seguissem os trâmites corretos, sem atalhos, ou desvios.  Infelizmente, o clima aqui não é dos melhores, não vamos nos enganar.  

E, para quem não entendeu, o aborto descriminalizado e balizado temporalmente pela lei, não é porteira aberta, não, além disso, a lei não obriga ninguém a interromper a gravidez.  É direito, não dever.  E é questão de saúde pública, também. Fico feliz que as argentinas, na mesma semana, possam ver o início da vacinação contra a COVID-19 e o direito ao aborto.  Enquanto isso, nós, no Brasil, aguardamos a escalada da tragédia.  É isso.

terça-feira, 29 de dezembro de 2020

Ranking da Honto de melhores mangás formato E-Book: Mangás Femininos

O site Honto, que vende E-Books, publicou o ranking anual dos melhores mangás.  Acredito que seja "os melhores", porque, olhando, o ranking, não tem One piece no top 10 e a série é, no momento, a terceira mais vendida do Japão.  Enfim, se eu estiver errada, por favor, alguém que domine o japonês, me corrija.  O que achei interessante é que o site desmembra Shoujo/Josei de Teen's Love (*e BL, claro*). 

Enfim, nesse ranking há várias séries que estavam no Kono Mangaga Sugoi!, séries que terminaram recentemente, mangás que estão em ascensão.  Curiosamente, há um BL, e lembro que existe um ranking somente com mangás dessa demografia e um seinen que está em todas as listas de shoujo/josei, Karaoke Iko!.  De resto, acredito que não tenha ninguém que não deveria estar. é interessante ter acesso a essas listas para saber o que está em evidência no Japão, já que Kimetsu no Yaiba não abre espaço para quase ninguém no ranking da Oricon. Dos mangás listados, o único que é publicado no Brasil é Wotakoi.

1. Mystery to Iunakare (ミステリと言う勿れ) de Yumi Tamura
2. Wotaku ni Koi wa Muzukashii (ヲタクに恋は難しい) de Fujita
3. Nagi no Oitoma (凪のお暇) de Misato Konari
4. Suddenly Became a Princess One Day (ある日、お姫様になってしまった件について) de Plutus e Spoon
5. Nigeru wa Haji da ga Yaku ni Tatsu (逃げるは恥だが役に立つ) de Tsunami Umino
6. Nanatsuya Shinobu no Housekibako (七つ屋志のぶの宝石匣) de Tomoko Ninomiya
7. Seijo no Maryoku wa Bannou desu (聖女の魔力は万能です) de Tachibana Yuka e Fujiazuki
8. Akuyaku Reijou wa Ringoku no Outaishi ni Dekiai sareru (悪役令嬢は隣国の王太子に溺愛される) de Puni-chan e Hoshina
9. The Abandoned Empress (捨てられた皇妃) de Yuna e Ina
10. Akatsuki no Yona (暁のヨナ) de Mizuho Kusanagi 
11. Chihayafuru (ちはやふる) de Suetsugu Yuki 
12. Otome Game no Hametsu Flag shika nai Akuyaku Reijou ni Tensei shite shimatta... (乙女ゲームの破滅フラグしかない悪役令嬢に転生してし...) de Yamaguchi Satoru e Hidaka Nami 
13. Mushikaburi-hime (虫かぶり姫) de Yui, Kikuta Yui e Sheena Satsuki 
14. Sankaku Mado no Sotogawa wa Yoru (さんかく窓の外側は夜) de Yamashita Tomoko (BL) 
15. Ikoku Nikki ( 違国日記) de Yamashita Tomoko 
16. Karaoke Iko! (カラオケ行こ!) de Wayama Yama (seinen) 
17. Watashitachi wa douka shite iru (私たちはどうかしている) de Natsumi Andou 
18. Ashi-Girl (アシガール) de Morimoto Kozueko 
19. Anata ga shite kurenakute mo (あなたがしてくれなくても) de Haruno Haru 
20.Onna no Sono no Hoshi (女の園の星) de Wayama Yama 
21. Seirou Opera (青楼オペラ) de Sakurakouji Kanoko 
22. Skip Beat! (スキップ・ビート!) de Nakamura Yoshiki 
23. Dakara Watashi wa Make suru (だから私はメイクする) de Gekidan Mesuneko e Shibata Hikari 
24.Himitsu season 0 (秘密 season 0) de Reikp Shimizu 
25. Queen with a Scalpel (外科医エリーゼ) de Yuin e Mini 
26. Akagami no Shirayukihime (赤髪の白雪姫) de Akizuki Sorata 
27. 31-banme no Okisaki-sama (31番目のお妃様) de Momotomoe, Nanaki Tsubasa e Yamashita Nanao
28. Sake to Koi ni wa Yotte Sarubeki (酒と恋には酔って然るべき) de Eguchi Mayumi e Haruko 
29. Dareka Kono Joukyou wo Setsumei Shite Kudasai! (誰かこの状況を説明してください! ~契約から始まる...) de Tsuredurebana e Kinosaki Kazura
30. Colette wa Shinu Koto ni Shita (コレットは死ぬことにした) de Yukimura Alto
31. Hananoi-kun to Koi no Yamai (花野井くんと恋の病) de Morino Megumi
32. Kyuuso wa Cheese no Yume o Miru (窮鼠はチーズの夢を見る ) de Setona Mizushiro 
33. Natsume Yujincho (夏目友人帳) de Yuki Midirikawa
34. Shinya no Dame Koizukan (深夜のダメ恋図鑑) de Ira Ozaki
35. Mahoutsukai no Konyakusha (魔法使いの婚約者) de Nakamura Shuri e Kazuka Masaki
36. Watashi No Genre Ni "Shin" Ga Imasu (私のジャンルに「神」がいます) de Sanada Tsuzuru
37. Hadaka ikkan! Tsuzu Wakashi-san (裸一貫! つづ井さん) de Tsudui
38. Tsundere Akuyaku Reijou Liselotte to Jikkyou no Endo-kun to Kaisetsu no Kobayashi-san (ツンデレ悪役令嬢リーゼロッテと実況の遠藤くんと解説の小林さん) de Enoshima Suzu e Sakaki Rumiwo
39. Gozen 0-ji, Kiss Shi ni Kite yo (午前0時、キスしに来てよ) de Rin Mikimoto
40. Hajimete Koi o Shita Hi ni Yomu Hanashi (初めて恋をした日に読む話) de Aki Mochida
41. Jishou Akuyaku Reijou na Konyakusha no Kansatsu Kiroku (自称悪役令嬢な婚約者の観察記録。) De Shiki e Hasumi Natsume
42. Koi wa Tsuzuku yo doko made mo (恋はつづくよどこまでも) de Enouji Maki
43. Honzuki no Gekokujou Part 2 (本好きの下剋上 第二部) de KAZUKI Miya e Suzuka
44. Suteki na Kareshi (素敵な彼氏) de Kawahare Kazune
45. Tendou-ke Monogatari (天童家物語)de Saitou Ken
46. Yakumo Tatsu: Arata (八雲立ち)de Itsuki Natsumi
47. Watashi wa akuyaku no musumedesuga, anata o shiawaseni shimasu!(私は悪役の娘ですが、あなたを幸せにします!アンソロジー...)de Maro
48. Kageki Shoujo!!(かげきしょうじ!!)de Saiki Kumiko
49. Mochiron, Isharyou Seikyuu itashimasu!(もちろん、補償金を請求させていただきます!)de Soy e MutouTamura
50. Yubisaki to Renren (ゆびさきと鯉) de Suu Morishita

segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

E a série Bridgerton era romance Harlequin mesmo!

A querida amiga Lu Darcy desencavou a capa da primeira edição de O Duque e Eu no Brasil.  E, bem, é romance Harlequin raiz mesmo.  Eu não estava errada.  Para quem não entende do que estou falando,Harlequin não é gênero, é uma editora de livros populares para mulheres, há várias, aliás, que seguem o mesmo modelo. Romance de banca de jornal é estigmatizado como literatura ruim, por ser barato, por ser escrito por mulher e por ser para consumo feminino. No Japão, eles viram mangá e gente como Riyoko Ikeda e Chiho Saito já desenharam mangá Harlequin. Tem várias coisas sobre mangá Harlequin no blog.  Procurando por alto na internet, achei outras capas, como a do livro da Eloise aí embaixo.

Então, crianças, é isso.  Não é nem livro que parece romance Harlequin, é de verdade.  E por qual motivo estou fazendo questão de marcar isso, porque há quem despreze romances de banca, eu já fui uma pessoa assim sem nunca ter lido um deles sequer, mas se aparecer na livraria, com uma capinha sem macho descamisado arrancando espartilho da mocinha, cai feito trouxa e sai arrotando como se estivesse consumindo "alta literatura".  É como o povo que diz que não suporta novela e consome séries que são novelas, mas em outro formato.  É isso, ainda preciso termina a série, avancei na leitura do primeiro livro, mas estou me mudando em uma semana e há muita coisa para arrumar ainda.  Aqui link para as resenhas que eu já fiz: 1 - 2.

E recomendo uma matéria da Entertainment Weekly sugerindo séries de romance que poderiam ser adaptadas, também.  Não conheço nenhuma dela, há inclusive sugestão de uma com protagonistas LGBTQ+.   E peço desde já a saga dos irmãos de Burgh da Deborah Simmons, porque não tem nada (pseudo)medieval nessa lista aí. E To Touch the Sun da Barbara Leigh daria um excelente filme.  Eu posso resenhar uns livros que andei lendo, mas só se vocês quiserem, vou ter que colocar tarja +18 em vários deles.

domingo, 27 de dezembro de 2020

Comentando Bridgerton mais uma vez: Capítulos 2-4

Sim, outra resenha.  Sim, eu estou assistindo a série aos poucos, não foi uma imersão raivosa como em Gambito da Rainha.  Boa parte do tempo, assistir Bridgerton é um prazer.  Tudo é bem colorido, o figurino, mesmo com todas as suas liberdades, é encantador, e o elenco é bonito.  Phoebe Dynevor parece uma fada de livro infantil e os vestidos do período em que se passa a série só a tornam ainda mais etérea e Regé-Jean Page é o homem mais lindo que eu vejo em muito tempo e tem uma voz que... Ah!  Já Adjoa Andoh, Lady Danbury, é uma uma espécie de Lady Catherine de Bourgh do bem e ver uma atriz de cor super poderosa e usando aquele figurino de época espetacular já vale o tempo investido.

Falei somente da embalagem, certo?  Pois é, mas a história é boa.  Eu não avancei na leitura dos livros, seria leviandade minha, portanto, imputar qualquer coisa à autora, Julia Quinn, mas eu vi as cenas da infância de Simon (Regé-Jean Page) inseridas no capítulo 2 e, acredito, no 3.  Elas são praticamente idênticas ao livro, porque foi a parte que eu li até o momento.  Há quem esteja comparando Bridgerton com Austen.  Olha, salvo pela época, nada tem de Jane Austen e vou explicar os motivos.

Os livros de Jane Austen não lidam com a alta nobreza (reis, príncipes, duques, marqueses, condes, viscondes, barões), eles não aparecem nos livros da autora, porque ela não convivia com esse povo seleto, "the ton", como a série repete várias vezes.  E isso, nada tem a ver com riqueza, que fique claro.  Um Mr. Darcy poderia ser mais rico que um duque, ou príncipe, mas ele era isso "Mr.", não tinha título algum.  Posso estar enganada, mas o único membro da alta nobreza que aparece em um livro de Austen é uma viscondessa em Persuasão, o pai da Anne Elliot é um parente distante, muito abaixo dela, portanto.  Sir Walter Elliot é um baronete,  a excitação dele em encontrar a parenta, marca bem que existe um mar de diferença entre eles. 

Falando em dinheiro, o futuro Leopoldo I da Bélgica, tio da Rainha Vitória e do Príncipe Albert, que, de repente, aparecerá em um episódio dessa série, era um príncipe sem eira nem beira.  Era um homem lindo, a julgar pelos quadros, inteligente e sedutor, porque conseguiu arranjar colocação para a família inteira, incluindo um trono para si, mas era pobre, pobre, pobre.  Só que ele era um príncipe.  E títulos ainda valiam muito na Europa do século XIX e valem até hoje, porque as meninas são educadas para se acharem princesas e sonharem com príncipes, infelizmente.

Retornando, Jane Austen escreve sobre a gentry, a pequena nobreza rural, gente que, no máximo, chegava a baronete.  Quem vai escrever sobre duques, condes, príncipes, é Georgette Heyer (1902 -1974), uma romancista muito importante e que poderia ter suas histórias adaptadas para filmes e séries. Agora, quem gosta muito dessa alta nobreza, muito, muito mesmo, são as autoras de romance de banca.  E, não, não estou desprezando, porque eu leio esse material e há autoras muito competentes.  É literatura romântica, às vezes erótica, para consumo rápido e com grandes doses de felicidade.  E elas adoram essas sagas de família. A-DO-RAM!

Observando os Bridgertons, lendo o resumo de cada um dos livros, não tenho dúvida alguma de que se trata do mesmo tipo de literatura.  O fato de incorporar algo das chick-lit, isto é, um tipo de literatura feminina centradas na heroína contemporânea que passa provações e tribulações até atingir seus objetivos, que podem ser profissionais, sim, mas normalmente passam pelo coração, não faz com que a série perca de vista essa outra fonte de inspiração.  Não é Austen, portanto, é romance Harlequin para livraria, que significa que custará mais caro, receberá uma produção melhor e leitoras com preconceito contra os romances de banca vão consumir achando que é outra coisa, algo "superior".  

Estabelecido isso, as tramas de Jane Austen geralmente mantinham os pés firmes no chão, uma heroína austeniana pode até questionar as convenções, mas ela não ficaria como a Daphne (Phoebe Dynevor) repetindo uma ou duas, ou mais vezes, por episódio que só fazem tal coisa com ela, por ser mulher, ou que não a ouvem por ser mulher ou... sim, moça, é isso mesmo, você está no início do século XIX e é tutelada por sua mãe e, o pior, um irmão bem babaca.  E o roteiro já deixou as limitações impostas às mulheres claras lá no primeiro capítulo sem a necessidade desses discursos irritantes.  A gente sabe que a situação da mocinha é precária por ser mulher, ainda que, e eu comentei isso na primeira resenha, a pressa em casá-la não se justifica de forma alguma.

E temos o apelo sexual típico das obras modernas.  Há muita tensão sexual em Jane Austen, há, também, sexo nas obras da autora. Ele está lá, nos silêncios.  Por qual motivo um homem sensato como Mr. Bennet se casou com alguém como sua esposa?  Wickham e Lydia não passaram semanas em Londres em estado de castidade.  Gente engravida nos livros de Austen.  Crianças nascem.  Em Bridgerton, que dialoga o tempo inteiro com o nosso mundo atual, tal e qual o filme Maria Antonieta (2006), temos um pouco das tensões sexuais dos livros de Austen, mas tudo é feito para agradar as sensibilidades modernas.

Simon e Daphne se apaixonam um pelo outro. Era o óbvio, trata-se do fio condutor da trama.  Mas a intimidade entre eles se cria através de gestos contidos.  A moça que toca na mão do rapaz na belíssima cena do quadro, ela tirou a luva e nós nem percebemos.  Não foi calculado, mas o toque é acolhedor e, ao mesmo tempo, traz uma carga sexual inegável.  É algo semelhante à cena da carruagem em Orgulho & Preconceito (2005) só que com ternura da parte de ambos.  Temos, depois, o momento em que eles dançam, e é uma valsa, algo que não deveria estar em uma série que se passa em 1813, e o rapaz roça as pontas do dedo por cima da linha do vestido da moça, quase no seu pescoço.  É rápido, mas é intenso e foi intencional.  Ele é um homem experiente e não resistiu á tentação, acredito. 

Isso poderia aparecer em uma adaptação de Jane Austen tranquilamente, mas, não, o mocinho ensinando a mocinha a se masturbar.  Não, não precisam se assustar.  A cena faz sentido, todos estão vestidos, são somente palavras e a cena é muito boa.  Nesse momento, eles estão se vendo como amigos, ele, muito contra sua vontade, ajuda a moça a entender assuntos sobre os quais é ignorante.  Nesse ponto, a questão de gênero apareceu de forma correta.  Por qual motivo se ensinava tão pouco às mulheres?  Claro, a mãe de Daphne parece ser particularmente obtusa nesse campo, mas vá lá, isso acontecia e deve continuar acontecendo em alguns lugares até nossos dias. É o tipo de situação que poderia estar em um romance Harlequin de época, perigando, a depender da autora, que o mocinho decidisse dar uma aula prática.

Há quem esteja comparando Bridgerton com Sanditon, como exemplos de modernização das séries de época, além de fazer a ponte com Jane Austen, claro.  Primeiro, Sanditon, a série, não é Jane Austen, porque não é fiel nem ao que a autora escreveu, nem ao seu estilo de conduzir diálogos e histórias.  Diferentemente de Bridgerton, que acolhe de coração leve essa troca com o mundo pós-moderno, Sanditon se apresentava como realista e cometia uma série de barbeiragens.  Resumindo, Bridgerton e Sanditon não são Austen, mas o primeiro é um material interessante que ganharia fácil uma nota sete, já o segundo, é bom que fique do jeito que está, morto e enterrado na sua primeira temporada.

Falando nisso, caio agora em algo que me aborreceu de verdade, especificamente um diálogo entre Lady Danbury e Simon, quando ele decide fugir de seus sentimentos por Daphne permitindo que ela se case comum príncipe prussiano.  Lady Danbury introduz do nada uma discussão sobre raça com o Duque, ela diz o seguinte:  "Olhe para a nossa rainha. Olhe para o nosso rei. Olhe para o casamento deles. Olhe para tudo o que ele está fazendo por nós, permitindo que nos tornemos. Éramos duas sociedades separadas por cores, até que um rei se apaixonou por um de nós. O amor, Sua Graça, conquista tudo." "Nós" e "Eles", casamento real "por amor" que nos deu a chance de conviver. WTF?!  Sinceramente?  Se as pessoas tem cores na série e não existe racismo, aí virou conto de fadas, saiu do nosso mundo e foi para outro no qual poderiam existir unicórnios, vampiros, fadas, zumbis.  Talvez, a Inglaterra de Orgulho & Preconceito & Zumbis, quem sabe?  

Foi uma escolha ruim, porque estava achando a ideia do elenco multirracial, de uma série na qual a etnia não estivesse em questão, onde ninguém tivesse cor dentro da narrativa, maravilhoso e tinha acabado de conversar sobre isso com meu marido.  Seria um avanço em relação a Muito Barulho por Nada e Duas Rainhas, porque atores e atrizes de cor estariam em posição de protagonismo.  Agora, se se trata de um mundo no qual as pessoas tem cor e um casamento real mudou por passe de mágica todas as estruturas sociais em todo o mundo, eu quero meu tempo de volta.  Quero não, na verdade, porque sei que esse diálogo foi um caco infeliz e duvido que ele seja retomado nesses próximos episódios.

Falando no tal casamento real, a Rainha Charlotte (Golda Rosheuvel), esposa de George III, é uma personagem central na primeira temporada.  Ela é arrogante, vaidosa e se mete na vida das pessoas, tudo que a princesa alemã original parecia não ser e fazer.  Pois bem, há quem defenda que ela tinha sangue negro.  É certeza isso?  Não.  Normalmente, um dos argumentos de defesa é apresentar alguns quadros da rainha, especialmente, quando mais jovem, ela não tinha traços finos e sua tez era mais escura do que era moda na época.  Agora, em que esse casamento, que o diálogo infeliz descreveu como fator de elevação de toda uma raça (*foi triste essa conversa e há asiáticos em Bridgerton, também*), foi um enlace de amor, não sei.  

Primeiro, na própria série, a rainha já apareceu uma, ou duas vezes, desejando a morte de seu marido enfermo.  Não era piedade, estava claro que era desdém mesmo.  Segundo, George III casou-se com Charlotte por dever de Estado, o que era a regra, apesar de estar apaixonado pela filha de um duque. Ele achou a esposa feia, ela se esforçou para ocupar o seu lugar como rainha e no coração do marido e do povo. Terceiro, com o tempo, eles criaram entre si um laço muito forte e eram vistos como um casal equilibrado, amoroso e que se respeitava muito.  Bem, respeito é tudo o que a rainha parece não ter pelo marido na série e a coisa é pública.  O objetivo é fazer humor, mas como se trata de uma das poucas personagens realmente históricas em tela, isso me incomoda.  Outra coisa, que já falei antes, por qual motivo a rainha usa roupas de outra época? Há quadros da rainha Charlotte mais velha usando a última moda da época. De quem foi a ideia infeliz de aprisionar seu figurino na década de 1780?  Antes, até.

Já estou me prolongando demais e nem comentei um monte de pontos importantes.  Enfim, nesses episódios 2-4, aconteceu muita coisa.  Apareceu o tal príncipe prussiano (Freddie Stroma) bonitinho, gentil e cheio de amor para dar, porque dinheiro, acho que não deve ter, não. Antes disso, Lorde Nigel Berbrooke (Jamie Beamish) mostra-se uma criatura muito curiosa e super desprezível.  Toma umas pancadas de Simon e ainda tem a cara de pau de tentar chantagear a família da mocinha para casar com ela.  Ousada a criatura.  Já que a série não tem muito compromisso com a realidade, eu transformaria o sujeito em vilão e faria ele voltar mais adiante de forma bem novelesca.  Não vai acontecer, eu sei.

Anthony (Jonathan Bailey), o irmão mais velho da mocinha, e terceiro homem mais bonito da série, porque o amigo boxeador do Simon,  Will Mondrich (Martins Imhangbe) passa a frente dele, continua um babaca, mas começa a mostrar algum sentimento pela irmã.  Eloise (Claudia Jessie) e Penelope continuam sendo as duas melhores personagens femininas da série para mim, cada uma com seus dramas e com as piadas que sempre funcionam dentro dos episódios.  O segundo irmão, Benedict (Luke Thompson), que parece mais velho que o Anthony, mas não é, teve mais espaço e, ao que parece, a produção vai realmente afrontar as fãs dos livros, porque ou o moço é gay, ou ele será bissexual.  E, se não for, dentro do contexto da série, vai ser um ato de covardia do roteiro. 

Outra coisa, Bridgerton parece investir em uma linha curiosa, a de que ser irmão mais jovem de um nobre era algo tranquilo.  Aqui, novamente, é negar a História e a própria Jane Austen.  O Coronel Fitzwilliam, primo de Darcy, é filho de conde e ele tem que (*Horror!  Horror!*) trabalhar.  Motivo?  A regra era o filho mais velho ficar com tudo.  Aos outros meninos restava uma pensão que, caso a família fosse muito rica, esse deve ser o caso dos Bridgerton e de todos os romances de banca de jornal, poderia lhe garantir uma vida confortável, mas, na maioria dos casos não era.  O ideal era conseguir um bom casamento com uma mulher que tivesse um dote compensador.

No geral, os irmãos mais jovens precisavam ter uma ocupação dentro de um quadro bem restrito de profissões: militar, clero, direito, política.  Li uns romances de banca recentemente, saga de família, como os Bridgertons, em que o mocinho, que era filho caçula, era deputado na Câmara dos Comuns.  Fora isso, em 1813, a Inglaterra está em guerra, nem Benedict, nem Colin, são militares.  Fala-se da guerra como algo distante, como se Napoleão não pudesse ainda vencer a parada.  Sim, sim, estou exigindo demais, talvez, de um material que está me divertindo, mas só faço isso para reforçar que Bridgerton não é Jane Austen é romance de banca + chick-lit.  Como avancei no livro, já tenho a confirmação disso.

Criou-se, também, todo um drama digno de novela de Walcyr Carrasco para a a pobre Miss Thompson (Ruby Barker).  Mais um motivo para não ser Jane Austen, porque é muito drama, muito mal entendido, muito sofrimento, ainda compartilhado com Penelope, porque Colin Bridgerton está interessado pela moça.  E, claro, é muito rolo para um romance Harlequin padrão, as autoras desse tipo de literatura não cruzam tantas tramas em um mesmo livro, porque você tem que seguir algumas diretrizes que podem ser encontradas no site da própria editora (*acabei de descobrir que a Harlequin não publica mais faroeste desde 2019, mas outras editoras continuam lançando esse tipo de livro*).  Há um número de páginas que deve ser respeitado, se bem que os livros de Julia Quinn tem o tamanho certinho para caber no molde dos romances históricos.

Concluindo, porque já escrevi muito mesmo, falemos do figurino.  Simon continua sem gravata, mas no episódio 5 ele aparece usando e fica muito mais bonito, por qual motivo não colocarem antes?  Nem Anthony, nem Simon, nem o príncipe parecem gostar de sapatos.  Acredito que quem montou o figurino acha feio as calças curtas daquele período e decidiram que os moços vão usar botas quase o tempo inteiro.  Já existia a possibilidade das calças compridas, mas a produção parece não gostar muito delas nos atores principais.  Ah, sim, nem a mocinha, nem o mocinho parecem gostar de usar chapéu, que era um item obrigatório para uma dama, ou um cavalheiro.

Houve um baile promovido por uma viúva alegre que chutou qualquer verosimilhança para o espaço.  Muita gente se apresentando meio pelada, poderia ser OK em um bordel, mas em um baile formal e familiar???  A anfitriã vestia uma roupa, só vimos a parte de cima, que parecia saída dos anos 1940, um fascinator e uma espécie de terninho e ainda leva o bebê para o baile, parece que só para que Penelope e Colin pudessem fazer uma piada sobre a paternidade da criança, que estava com uma roupa muito estranha, também.  Abaixo, coloquei uma imagem de Lady Cressida (Jessica Madsen), a rival de Daphne pelas atenções do príncipe e eu realmente não faço ideia do que é isso na cabeça da moça.

Outra que parece em outro século desde o início da série é Lady Featherington (Polly Walker).  Seus vestidos tem uma estrutura que lembra o dos anos 1950, esses da dona de casa ideal, mas com longas saias.  É a úncia que usa roupas acinturadas que não são do século XVIII.  Também tivemos várias vezes umas meninas dançando com uns vestidos estranhos (*o efeito era bonito, mas parecia coisa barata*), com saia de tule.  Eram figurantes, estão lá para compor o fundo.  

Os vestidos das protagonistas seguem o modelo império/regência o tempo inteiro.  Podem ter algum detalhe mais contemporâneo, mas se mantém firmes com os pés no início do século XVIII.  Agora, a mocinha e outras atrizes apareceram várias vezes com o cabelo solto.  Daphne nunca parece descabelada como a mocinha de Sanditon, só para fazer uma comparação, ela estava sempre linda, mas era cabelo de criança, não de moça adulta, por assim dizer. E não foram nas cenas usadas para ressaltar a inocência de Daphne, ela apareceu assim em bailes e em público e, claro, sempre sem chapéu.  Ela e o duque nunca usam chapéu.

Ah, acabei de descobrir que a atriz que faz a Penelope, Nicola Coughlan, estava em Derry Girls.  É de lá que eu a conhecia.  É isso.  Escrevi demais.  Termino dizendo que Bridgerton não é Austen, nem no formato pavoroso de Sanditon.  É uma boa novela, que diverte, entretêm e oferece um casal de protagonistas lindo como raramente se viu.  Espero só fazer mais uma resenha.  Desculpem a empolgação.

sábado, 26 de dezembro de 2020

Comentando Soul (Pixar/Disney/2020): um elogio à vida e ao aprendizado

Ontem, tive o prazer de assistir Soul, a nova animação da Pixar com a Júlia, minha filha, sentada no meu colo.  Só pensava no estrago que a pandemia fez ao cinema, porque é realmente uma tristeza que um filme como aquele não tenha sido assistido na tela grande.  Eu não sabia o que esperar de Soul, mas diferentemente de Dois Irmãos, eu queria ver o filme nem que fosse por causa da polêmica. 

Sim, o primeiro trailer foi duramente criticado, porque pensamos que seria outra protagonista negra que passaria o filme inteiro em uma forma alterada, nesse caso, uma alma.  Não, não é isso. Soul é puro sentimento, gentileza e tem uma história muito bem sacada.  Eu mudaria um tiquinho o final, mas ele mesmo não compromete em nada a narrativa.  E mais, é filme para professores assistirem, um daqueles que eu recomendo para todos os meus colegas de profissão. 

Tentarei evitar spoilers, mas é difícil falar de Soul sem cometer uma série de indiscrições.  Vamos ao resumo: Joe é professor substituto de música em uma escola cuja vida não está correndo do jeito que ele esperava. Sua verdadeira paixão é o jazz e ele queria tocar em uma grande banda. No mesmo dia, ele recebe a comunicação de que foi efetivado como professor no colégio em que trabalha, o que alegrou sua mãe, dona de um atelier de costura de bairro e que sonha ver o filho com um emprego seguro, e é convidado para tocar em uma banda de jazz, graças à lembrança de um antigo aluno.  Feliz, ele se distrai e termina sofrendo um acidente e, ao acordar, está em outro mundo.

Depois de alguns problemas, ele termina sendo escalado para ser instrutor da Alma 22, uma aluna difícil e que se recusa a encarnar na Terra, porque não vê nenhum motivo para nascer.  Ela não consegue ver graça no mundo dos humanos e cabe a Joe fazer com que ela descubra sua vocação.  Só que o próprio Joe nunca conseguiu amar a vida que teve, nunca se achou um bom professor e só pensa em conseguir voltar para a Terra e tocar na sua banda dos sonhos.

Soul é uma das animações mais sensíveis que eu já assisti da Pixar.  Ela me tocou particularmente, porque Joe é aquele tipo de professor que não consegue ver a importância que ele tem na vida de seus alunos e alunas.  Há professores que criam grandes expectativas sobre a profissão, acreditam que irão tocar, encantar, marcar todos os alunos e alunas e se frustram, porque, bem, não é assim que as coisas acontecem e, não raro, um ex-aluno só descobre a nossa função em sua vida muitos anos depois de ter deixado a escola, ou faculdade.  Eu valorizei muito alguns professores somente anos depois de ter me formado.  

E o filme também mostra que pai, mãe, enfim, quem cuida de você, também tem a função de ensinar, que a educação formal é comente uma parte do processo.  Crianças muitas vezes aprendem a amar a música, as artes, a leitura, a natureza, nos joelhos de seu pai, ou mãe, ou quem está lá ocupando esse lugar. E há gente que abre mão de ocupar esse espaço e delega para terceiros, às vezes, nós, professores, tarefas tão fundamentais.  É o pai de Joe quem o ensina a amar a música e esse elemento é um fator de união entre eles.

Só que Joe nunca valorizou sua experiência como professor, porque ele nunca desejou lecionar.  Para ele, foi um desvio. Ele não conseguia apreciar a beleza da vida e se sentia um fracassado aos olhos da mãe.  Sua relação com 22, a alminha que havia passado por vários mestres de Arquimedes à Madre Teresa de Calcutá, ele aprende uma série de coisas e esse descobrir das pequenas belezas e experiências mundanas é transmitido de forma muito singela em sons e imagens pela equipe de animação.

Soul se move por vários ambientes.  Há a escadaria que leva à grande luz.  O que estará além do portal?  Joe não quer descobrir.  Temos a escola das alminhas, com instrutores recém-falecidos e os mentores que orientam todo o trabalho.  Temos um outro setor do plano espiritual, onde almas que entram em algum estado de transe, ou êxtase, na Terra circulam.  E temos nosso planeta que é para onde Joe quer voltar e 22 não quer ir.  As coisas não ocorrem do jeito esperado para nenhum dos dois.  Aliás, a cena da barbearia é boa para refletir sobre isso, que nem sempre escolhemos o caminho a seguir, mas que a jornada pode, sim, ser interessante.

Falando do character design de Soul, foi muito bom ver que as personagens negras estão presentes praticamente durante todo o filme.  Mesmo que Joe tenha passado algum tempo como alma, não há o desequilíbrio de A Princesa Sapo, ou de Um Espião Animal (Spies in Disguise), que eu não resenhei no blog.  E o elenco é muito diverso, seja etnicamente, ou no caráter etário e físico.  Há idosos, jovens, crianças, gente magra, gorda, homens e mulheres.  E as personagens são simpáticas, mesmo 22.  A alminha é intragável no início, mas vamos penetrando em suas camadas de defesa e é delicioso vê-la descobrindo as belezas do nosso mundo, vendo coisas que Joe nunca conseguiu ver.

E a animação do filme é espetacular.  No além tudo é minimalista, os mentores, por exemplo, são meros traçados.  Agora, quando vamos para o vale das almas em transe/êxtase, já temos mais elementos gráficos e o nosso mundo é uma explosão de sons, cores e detalhes.  Tudo parece muito vivo, muito denso e, repito, é muito triste não poder assistir Soul no cinema.  Muito mesmo!  Espero que a Disney reconsidere pelo menos o lançamento de seus filmes em DVD/Blu-ray, porque eu compraria o disco de Soul sem pensar duas vezes.

O filme cumpre, também, a Bechdel Rule.  E nem falo de 22, que tem uma dubladora, porque a alminha explica que ela escolheu aquela voz porque é irritante, mas por existirem várias personagens femininas com nomes.  De qualquer forma, em Soul as discussões de gênero são muito periféricas, quase inexistentes.   E isso não é ruim, estou somente fazendo uma constatação.  Quando aparecem, elas estão ligadas à mãe de Joe, que serve de arrimo de família e, de uma certa forma, lamenta que tanto seu marido, quanto seu filho, vivam com a cabeça nas nuvens por causa da música. 

Já caminhando para o fim, nem sei se a resenha ficou realmente boa.  Soul me fez lembrar de Mr. Holland, Adorável Professor, que é também sobre um sujeito que quer ser músico de jazz, mas termina professor de música em uma escola.  Assim como Joe, ele demora a entender que está deixando marcas positivas na vida de seus alunos e alunas.  Há alguns pontos de toque entre Mr. Holland e Soul, mas são filmes bem diferentes, porque Soul vai muito além do ambiente escolar, eu, professora, é que me apeguei a esse aspecto em minha resenha.   E até me desculpo por isso.

De qualquer forma, eu, que sou professora por vocação, sempre me emociono quando reencontro anos depois, mesmo que virtualmente, um ex-aluno, ou aluna, que me diz que eu fui importante de certa forma em sua vida.  E mesmo gente que frequenta o blog me diz coisas assim, também.  A imagem acima é exatamente do aluno que lembrou-se de Joe, seu professor de música, tantos anos depois e o convidou para um teste na "banda dos sonhos" dele.  Esse aluno não teria chegado lá sem Joe e lembrou-se dele exatamente, porque reconhece que o professor tem talento e fez toda diferença em sua vida. Acredito que no final de Soul, Joe, 22 e a audiência tiveram a possibilidade de aprender bastante.

Janet Stephens, a cabeleireira arqueóloga

Estava lendo um verbete na Wikipedia acho que sobre as vestais, sacerdotisas romanas, e ele falava de Janet Stephens, uma cabeleireira que se especializou em recriar penteados de eras passadas usando dos apetrechos disponíveis naquele momento.  Ela investiga, também, se, por exemplo, penteados espetaculares como o da época Flaviana (69-96 d.C.) em Roma usavam apliques, ou todo o cabelo era natural.  Procurando informações, tropecei no canal da Janet Stephens.  ela não aprece tão ativo nesse momento, mas há uma série de vídeos reproduzindo penteados de época.  Para quem se interessar pelo tópico, vale a visita.

Falando em penteado flaviano, achei as fotos abaixo de uma reconstituição, mas não há vídeo mostrando como foi feito, infelizmente.  

Vou ver se encontro mais material sobre isso.  Sites e canais do Youtube.  Eu gosto muito de observar os cabelos em filmes e séries históricas, quem lê minha resenha sabe disso, e uma das coisas que mais me aborrece, ainda que eu entenda motivos para infidelidade histórica envolvidos, é ver as moças de cabelos solto quando deveria estar preso, enfim.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

Comentando o capítulo 1 de Bridgerton (Netflix/2020): Nenhuma mocinha merece um irmão como aquele.

Esta será uma resenha bem rapidinha, mas eu estava bem ansiosa para a estreia de Bridgerton e fiquei muito frustrada quando deu meia noite e a série não entrou.  Sim, eu sei, questões de fuso horário, mas vi o primeiro capítulo cedinho de manhã.  Para quem não sabe, a série, que começa em 1813, contemporânea, portanto, dos romances de Jane Austen, é baseada na série de romances de Julia Quinn e produzida pela poderosíssima  Shonda Rhimes.  O primeiro capítulo foi simpático.  Se eu não me segurar sigo assistindo tudo de enfiada como foi com o Gambito da Rainha.  Só que queria assistir Soul e tive que parar.  Sim, vai ter resenha de Soul amanhã, provavelmente.

Essa primeira temporada da série segue o livro The Duke and I (O Duque e Eu) e conta a história de Daphne Bridgerton (Phoebe Dynevor), que é apresentada na sociedade e provoca grande repercussão por ser elogiada pela rainha (Golda Rosheuvel).  No entanto, seu irmão mais velho Anthony (Jonathan Bailey), que herdou o título de visconde do pai, decide obstruir boa parte dos pretendentes fazendo com que a moça passe de grande promessa a fiasco da temporada.  Concomitantemente, o duque de Hastings, Simon Basset (Regé-Jean Page), retorna à Inglaterra e está disposto a não se casar e deixar que seu título morra com ele.  Hastings é um dos melhores amigos do irmão de Daphne e os dois acabam entrando em um acordo, fingirão que estão envolvidos, ele para se livrar de pretendentes e ela para atrair de novo a atenção de homens interessantes.

O capítulo #1, que apresenta todas as personagens relevantes da série, termina nesse pé.  Ao longo do episódio, temos a narração de Lady Whistledown (Julie Andrews), que publica uma espécie de jornal de fofocas capaz de destruir reputações, ou construí-las.  Se Daphne começa como sensação da temporada, a moça logo é suplantada por uma beldade vinda do interior, Marina Thompson (Ruby Barker).  A jovem fica hospedada na casa de um parente, Lord Featherington (Ben Miller), cuja esposa cafona, Lady Portia (Polly Walker), está desesperada para conseguir um casamento vantajoso para suas três filhas, Penelope (Nicola Coughlan), Prudence (Bessie Carter) e Philipa  (Harriet Cains).  Como fazer isso se todos só tem olhos para Marina?

Ao longo do episódio, temos a exposição de uma série de informações sobre papéis de gênero tradicionais estabelecidos na Inglaterra da Regência.  Um homem pode esperar e escolher, especialmente, quando tem um título.  Já uma moça bem nascida não tem outra opção a não ser o casamento e ele não pode demorar.  Para se casar bem precisa aparentar pureza, passar longe de escândalos e ter um bom dote. Daphne parece estar no caminho certo, não fosse seu traste de irmão.  Para mim, ele é a personagem mais intragável da série até agora.  


O rapaz é um libertino, mantém uma amante (Sabrina Bartlett) faz muito tempo e mal vem à casa da família, onde a mãe (Ruth Gemmell) reside com seus irmãos e irmãs.  São dele, aliás, as cenas de nudez e sexo do episódio, não fossem essas sequências, o seriado teria uma classificação indicativa bem mais baixa.  Enfim, o sujeito desconfia de todos os homens que se aproximam de sua irmã, porque, claro, ele conhece muitos deles na intimidade e por se tomar como exemplo.  Quando é pressionado pela mãe a mudar de atitude, ele decide apressar o casamento da moça sem levar os desejos dela em consideração.

Se a atitude de Anthony em relação à amante, incluindo aí o fato de não a considerar uma dama, é aceitável dentro das convenções da época, empurrar a irmã de forma precipitada para um sujeito que ela detesta, não é.  Daphne teria tempo, não era necessário resolver as coisas em uma temporada só.  O seriado precipita as coisas justificando que ela ficaria manchada, ou algo assim.  A pobre Daphne termina perseguida por um pretendente mais velho e desagradável (Jamie Beamish), mas que tem o consentimento de seu irmão.  O sujeito parece bonzinho diante de todos, mas quando consegue ficar à sós com a moça, mostra quem verdadeiramente é.  O que só reforça que o irmão de Daphne é um pomposo imbecil e péssimo juiz de caráter.


Já de Hastings, sabemos pouco.  No livro, e eu só li o início, a história começa contando o nascimento dele e a relação péssima do moço com o pai.  O primeiro capítulo só sugere as coisas, ele perdeu a mãe muito cedo e nunca se deu com o pai.  Há um diálogo muito bom entre ele e o irmão de Daphne sobre a obrigação de gerar descendência.  Hastings está decidido a não se casar, Anthony, também.  O primeiro o alfineta perguntando se irá ficar para sempre com a amante, ele diz que pode fazer isso, porque tem irmãos que podem gerar filhos por ele.  E, sim, era uma opção, mas não é algo comum, nem do agrado da mãe do rapaz, a Viscondessa Viúva.

Voltando à Hastings, o moço, Regé-Jean Page, é um ator belíssimo.  Olhar para ele já vale um pouco da atenção à série.  E achei muito interessante colocarem em cena um elenco multirracial sem se importar com isso. Mas Bridgerton é uma releitura do período, com muita cor, misturas de épocas diferentes, e por aí vai.  Quem entende de música percebeu inserções de material contemporâneo na série, eu não conseguiria perceber nada se não fosse algo muito evidente.  Sou um zero à esquerda nesse quesito.

Diferentemente do novo Emma, o colorido é mais para criar um tom de fábula mesmo, porque o figurino é bem livre, por assim dizer, começando com a rainha usando uma moda de trinta anos antes e várias moças de cabelo solto.  E Hastings, não sei por qual motivo, não usa gravata.  Isso meio que me dá nervoso.  Enfim, há duas cenas cretinas envolvendo espartilhos no episódio.  A primeira com uma das moças Featherington sendo estrangulada para ficar com uma cintura absurdamente fina por ordem da mãe.  Essa cena é clichê, está em vários filmes, mas não faz sentido algum nesse período, porque os vestidos império/regência não eram acinturados.  Ninguém poderia apreciar a cintura da moça, porque o traje não enfatizava isso.

A segunda cena não é menos cretina.  A protagonista está usando stays (o espartilho da época) sem chemise (*a camisa de baixo*) e há um close nos machucados na pele da moça.  Claro que machuca, por isso que não se usa desse jeito direto sobre a pela.  É uma metáfora para a situação ruim na qual ela se encontra, pressionada a casar e com o irmão atrapalhando todas as possibilidades decentes que ela tem.  Agora, poderiam fazer a coisa de outro jeito, porque é um erro bem grosseiro mesmo.

É isso.  Uma review sem spoilers.  Gostei muito da atriz que faz a Penelope, que é tiranizada pela mãe por ser gorda e ler demais, e da irmã Bridgerton tomboy,  Eloise (Claudia Jessie).  Espero terminar de assistir a temporada esta semana e pretendo fazer uma grande resenha juntando todos os outros capítulos se conseguir.  Vou tentar terminar o livro, também, mas tentar separar as duas coisas, porque adaptação é adaptação, não tem obrigação nenhuma de seguir fielmente o original. De resto, com sua pegada pós-moderna, Bridgerton tem tudo para ser um sucesso.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

O retorno do mangá que inspirou Lady Oscar, uma heroína revolucionária (também na TV): Artigo Traduzido

Hoje, apareceu para mim esse artigo sobre o lançamento da nova edição do mangá da Rosa de Versalhes na Itália, vindo do Corriere delLa Sera, um dos principais jornais do país. Eu falei dessa edição, que parece ser belíssima, em um post anterior.  Apesar de alguns pontos que eu vou discutir em notas, o artigo é bem interessante, especialmente, para quem não tem noção do impacto que o anime "Lady Oscar" teve sobre gerações de italianos.  Enfim, segue o texto traduzido e minhas notas estão no final.

O retorno do mangá que inspirou Lady Oscar, uma heroína revolucionária (também na TV) de Chiara Severgnini

O mangá "Le Rose di Versailles" de Riyoko Ikeda retorna publicado pela J-Pop. Considerada um marco, fala das mulheres da corte francesa do final do século XVIII. [1] Incluindo Oscar, uma heroína inesquecível que o público italiano descobriu graças a um desenho animado que foi como uma "carga de dinamite".

Algumas notas da música de abertura são suficientes para trazer Lady Oscar à mente de quase todos os italianos, pelo menos para aqueles que cresceram na frente de uma TV. Décadas após a primeira exibição do cartoon dedicado a ela, a espadachim mais habilidosa e elegante da França permanece inesquecível. Mas também incompreendida, como costuma acontecer com os personagens de quadrinhos japoneses que o público italiano descobriu por meio de episódios de animação (no jargão, anime). Se quase todo mundo a conhece, e alguém também lhe deve boa parte de suas noções sobre a Revolução Francesa, poucos leram "Le Rose di Versailles" de Riyoko Ikeda, o mangá que lhe deu corpo, voz, vida. Uma intensa história em camadas dedicada não apenas a Oscar, mas a muitas outras mulheres - as “rosas”, na verdade - da corte francesa do final do século XVIII.

Considerado um marco pela crítica e reverenciado como um cult pelos fãs de mangá, "Le Rose di Versailles" foi serializado no Japão de 1972 a 1973. Na Itália, teve uma história editorial conturbada, mas a partir de 9 de dezembro está de volta em uma nova edição - completo e fiel ao original - em cinco volumes, editado por J-POP Manga.[2] Uma oportunidade para o grande público que acompanhou as aventuras de Lady Oscar na TV ao longo dos anos ir além do desenho animado. E descobrir que há muito mais por trás dele. "A animação, embora extraordinária, ainda é uma redução do trabalho original", explica Georgia Cocchi Pontalti, editor da nova edição italiana do mangá e gerente de vendas de marketing da J-POP Manga e Edizioni BD, ao Corriere. As diferenças entre cortes e censuras são muitas: "O manga", resume a curadora, "é mais detalhado e tem mais níveis de leitura. Ele também mantém o humor típico de Riyoko Ikeda, que foi deixado de lado no cartoon para favorecer um tom mais trágico". E, se a série animada continua em sua opinião "lendária", o mangá é histórico, assim como sua autora. Pouco conhecida na Itália,[3] no Japão Riyoko Ikeda é considerada - junto com Moto Hagio e Keiko Takemiya do coletivo “Gruppo 24” - uma das maiores inovadoras do gênero shojo, voltada principalmente para o público feminino. “Nos anos 70 as histórias em quadrinhos para meninas eram principalmente roteirizadas por homens e tratavam principalmente de temas frívolos e estereotipados”, explica Cocchi Pontalti, “as autoras do “Grupo 24”, por outro lado, introduziram um maior realismo e trataram também de questões relacionadas com gênero ou sexualidade". Riyoko Ikeda não se dedicou apenas à Revolução Francesa, mas também à história da Rússia e da Primeira Guerra Mundial (em La Finestra di Orfeo), bem como às biografias de Catarina II e Napoleão. Com uma constante: "Sempre criou personagens femininas inesquecíveis, graças à sua capacidade de fazer jus às múltiplas facetas da sua personagem".

Quase meio século após sua primeira edição, As Rosas de Versalhes ainda é, segundo Cocchi Pontalti, "uma obra atemporal". E Lady Oscar continua revolucionária, mesmo em 2020. Afinal, ela é uma personagem tão disruptiva que nem mesmo os filtros, censuras e cortes impostos pelas redes italianas em sua versão animada conseguiram descaracterizá-la. Matteo Grilli, romancista (Crocevia di punti morti, Effequ) e ensaísta apaixonado pela cultura pop japonesa, atribui-lhe uma "carga de dinamite libertadora", difícil de decifrar para os espectadores-crianças que a viram na TV à tarde dos anos 90, mas destinada a deixar uma marca em suas vidas.[4] No ensaio A libertação dos Otaku (pode ser lido na coleção Nerdopoli, publicada pela Effequ), Grilli reflete sobre a "revolução passada pelas almas" explicando como "a personalidade de uma geração inteira se desenvolveu naquelas áreas cinzentas que a censura ele esperava mitigar". Isso também se aplica a Lady Oscar? “As cenas com caráter sexual  explícito foram eliminadas e muitos cortes foram feitos em relação ao mangá”, explica o autor ao Corriere, “mas tudo isso não foi suficiente para evitar que o anime quebrasse tabus de qualquer maneira, pela ambiguidade foi transmitido através do não dito".

Nascido em 1988 e, portanto, criado no que chama de "a era da onipresença da TV comercial", Grilli lembra todas as características que fizeram de Lady Oscar uma "alienígena" e, portanto, um produto televisivo magnético. “Tinha um forte componente dramático, personagens fortemente caracterizados e todo o charme de uma história de aventura”, explica ele, “contava uma série de emoções humanas contraditórias. Em vez de achatar e simplificar, como a maioria dos desenhos animados ocidentais, ele jogou complexidade, beleza e tragédia em nosso rosto”. Além disso, alguns dos personagens que a série apresentou realmente existiram e você poderia conhecê-los nos livros de história, o que causou uma espécie de curto-circuito entre a realidade e a imaginação. À complexidade narrativa, o desenho animado de Lady Oscar acrescentou uma estética anômala: se comparado a outros desenhos animados tinha uma animação desatualizada, compensada com sugestivas pinturas de imagens estáticas e inserções de música clássica hoje quase inconcebíveis no contexto do entretenimento vespertino (entre outros, havia o Bolero de Ravel).

Segundo Grilli, com Lady Oscar, a TV comercial, sem saber, deu às crianças italianas um dispositivo que as ajudaria a desconstruir aquela "visão binária" da identidade que, nas décadas de 1980 e 1990, era predominante, pelo menos nos materiais destinados às crianças . "No cinema e na música já havia algo acontecendo", explica, "mas não para nós. Para nós havia a escolha entre os brinquedos Polly Pocket ou Mighty Max, sapatos Lelly Kelly ou Bull Boys: os passatempos, as roupas e os desenhos animados eram divididos, de um lado os para meninos e de outro os para meninas, com poucas exceções. Mas Lady Oscar não era binário." Isso significa? “Foi transversal. Havia amor envolvido, então poderia ser rotulado como "para meninas"; mas também mostrava duelos e lutas, considerados "para meninos". E depois havia a protagonista que era um modelo icônico de transversalidade”. A própria Lady Oscar François de Jarjayes, é claro. “O bom pai queria um menino, mas infelizmente você nasceu”, [5] cantava a música-tema [**italiana**]. Diante dos olhos das crianças italianas, a espadachim loira se movia no espaço entre o masculino e o feminino, em equilíbrio entre as expectativas da sociedade e sua natureza indomável. Forte demais para ser dobrada, mas também frágil e humana, Oscar sofreu, lutou, amou. Ela se apropriou de suas contradições. E ela encantou a todos. "O seu carácter magnético", explica Grilli, "fez com que ambos os homens e mulheres ficassem fascinados pelo seu encanto, dos dois lados da tela. E a androginia a colocava muito longe do padrão de feminilidade ocidental. Claro, trouxe consigo ambiguidades que eram difíceis de decifrar. Mas, ao mesmo tempo, ela os apresentou com uma naturalidade que faltava em outros lugares. Lady Oscar era a desconhecida, e o que poderia ser mais bonito e atraente para uma criança?”.

[1] O texto faz questão de deixar claro que o mangá se chama "As Rosas de Versalhes".  Apesar do destaque que Oscar conseguiu, a própria Ikeda explicou que a ideia é de plural mesmo, que cada uma das mulheres da série (Antonieta, Oscar, Rosalie, Polignac, Jeanne etc.) são rosas de Versalhes.
[2] O formato em 5 volumes não é o original.  A Rosa de Versalhes teve 10 volumes ao todo e terminou de ser publicado em 1974 com um gaiden que ocupa boa parte do último volume.  Antes da edição da J-Pop, a obra já tinha saído completa na Itália várias vezes, ainda que em outros formatos.  Eu tenho uma delas.
[3] Eu discordo desse "pouco conhecida", porque vários mangás da autora saíram na Itália, praticamente tudo, aliás.  E Ikeda já visitou o país muitas vezes, participou de eventos.  Ela pode não ser tão conhecida das novas gerações, mas a afirmativa é bem questionável.
[4] Só para constar, Grilli deve ter assistido uma segunda, ou até terceira, exibição da Rosa de Versalhes nas TVs italianas.  A primeira exibição italiana foi em 1982.  Noa anos 1990, o mangá já estava em uma terceira publicação no país, se eu não estou enganada.
[5] Esse verso é da primeira abertura italiana, cantada pelo grupo 
I Cavalieri del Re.  Nos anos 1990, a abertura era outra e cantada por Cristina D'Avena.  Parece que a maioria dos italianos mais velhos preferem a primeira abertura utilizada no país.