quarta-feira, 30 de junho de 2021

Miyako Maki merece ser lembrada

Miyako Maki completará 86 anos daqui um mês.  Ela, que estreou em 1957, foi uma das mangá-kas fundamentais para o desenvolvimento da estética dos shoujo mangá bebendo nas ilustrações das antigas revistas femininas.  Miyako Maki também é a mãe dos mangás de balé, um dos gêneros fundadores da demografia.  Maki também criou o visual da boneca Licca, a "Barbie" japonesa, e nunca recebeu um tostão por isso.  

Foi Miyako Maki uma das primeiras mangá-kas a fazer josei, inclusive eróticos, antes mesmo das revistas josei existirem.  Ela era colaboradora da primeira revista feminina para mulheres solteiras no mercado de trabalho, a Josei Jishin, criada em 1958.  Ela é esposa de Leiji Matsumoto desde 1961 e ambos já colaboraram um com o trabalho do outro.  Bom marcar que Miyako Maki é da geração anterior das autoras que revolucionaram o shoujo mangá, ela é da geração das pioneiras, aquelas que, vergonhosamente, são esquecidas em muitos textos e vídeos falando da história da demografia e que falam mais dos homens do mangá, sempre marcando que as mulheres profissionais não existiam.  

Olhando a Wikipedia em japonês, acabei chegando em uma entrevista de Maki de 2018 para a Josei Jishin.  Lá ela fala do início de sua carreira e da sua participação desde os primeiros números da revista.  Ela tinha acabado de terminar seu mangá Akujo Seisho (悪女聖書), publicada na Josei Jishin.  Maki comenta algo interessante na entrevista, a dificuldade de pensar seus mangás para um formato digital.  Ela comenta que aprendeu a imaginar a emoção, ou o efeito, que uma virada de página poderia causar nas leitoras. Ela se pergunta como os mangás digitais conseguirão manter esse tipo de expectativa.

segunda-feira, 28 de junho de 2021

Agora Ema Toyama está na revista certa

Abro o Comic Natalie e vejo em destaque o primeiro volume novo mangá de Ema Toyama e imagino o seguinte "Será que ela continua na Nakayoshi?".  Para quem não sabe, Toyama ganhou o o 36º Kodansha Manga Award na categoria infantil com um mangá de forte conteúdo erótico chamado  Watashi ni xx Shinasai! (わたしに××しなさい!) e que virou filme.  Depois disso, ela publicou em outras revistas e até shounen mangá, mas como a Nakayoshi tem um mangá chamado  Chouka-han ka ~Gokudou-sama Afurete Afurete Naka Setai~  (蝶か犯か ~極道様 溢れて溢れて泣かせたい~) em publicação no momento e com grande fanfarra, tudo é possível.  Enfim, mas Toyama agora está no lugar certo, na &Flowers.

Escrevi um parágrafo inteiro e não disse sequer o nome do mangá... Ele se chama Kon'ya Sachou Meirei de Netoraremasu。 (今夜、社長命令で寝取られます。) e o resumo é o seguinte: "Sakurako, sendo filha única de um presidente de pequena empresa, consegue trabalhar, mas não consegue nenhum pedido de casamento porque é uma moça muito sem graça. Então, o suposto jovem presidente de uma empresa de TI lhe faz uma proposta de casamento!! Sem perder tempo, Sakurako foi verificar a tal proposta e o presidente lhe faz um pedido, 'Eu quero ver minha mulher transando com outro cara' !? Então, o segurança do presidente começa gradualmente a se usar seus lábios em uma surpresa Sakurako!?"


OK, esse é um fetiche comum em material pornográfico e diz mais sobre fantasias masculinas do que femininas, isso, claro, quando não é broderagem mesmo, eu ousaria afirmar.  Lê quem quer, gosta quem gosta.  Olhando as imagens, no entanto, vejo a mocinha com um ar sempre constrangidos, o que é outro clichê.  De qualquer forma, eu não curto Ema Toyama e só me abalaria para ler algo com esse tipo de arranjo M/M/F (Male/Male/Female), se os dois sujeitos se pegassem, também, se não fosse somente a mocinha sendo usada para satisfazer o fetiche de um marido cretino.  E quem quiser um livro de época, porque é difícil precisar o período histórico para além de ser na Era Vitoriana, é Saving Lady Ilsa, um livro que, por razões óbvias, não poderia resenhar por aqui.

Mais uma vez a mesma história "Ela morreu e reencarnou em um game", mas com um traço espetacular e uma pimentinha extra

O ProShoujo Spain deu destaque hoje cedo ao mangá Ouji-sama ni Dekiai Sarete Komattemasu ~Tensei Heroine, Otome Game Funtouki~ (王子様に溺愛されて困ってます~転生ヒロイン、乙女ゲーム奮闘記~) baseado em uma série light novel de Tsukigami Saki e com arte de Hiraku Miura, que eu acompanho no Twitter e é autora de TL.  A série sai na revista Zero-Sum online.  Mas vamos ao resumo, é o que está no Bakaupdates:

"Sylvia renasceu no mundo dos jogos otome.  “E não só isso, eu me tornei a heroína de um R18 ?!”  Sylvia decidiu que iria fugir de todas trajetórias perigosas e viver em paz dentro do jogo.  “Farei o meu melhor para sobreviver a este jogo”, disse ela.  No entanto, o príncipe, que ela não pretendia atrair, se apaixonou por ela e começou a perturbar todos os seus eventos.  "Embora ele seja bonito, isso é diferente do que eu planejei."  “Em primeiro lugar, eu o excluí porque ele tem um cenário péssimo!”.  Agora encurralada, o que Sylvia fará?"

Não sei se Sylvia é uma mulher adulta antes de morrer, mas aposto que é.  Imagino que seja um mangá apimentado, embora não nos patamares de um TL.  

De resto, primeiro volume acabou de sair e, infelizmente, não tem scanlations.  Eu quero.  O que esse povo está esperando? ☺️

Está no ar o novo Shoujocast: "Ela morreu e reencarnou em outro mundo": Por que tantos Isekai começam de forma tão macabra?

Já está no Youtube faz alguns dias, mas não tinha feito o post no blog.  Decidi falar de Isekai e as características comuns da nova leva de materiais que vem fazendo sucesso e acabei esquecendo de muita coisa importante que deveria ser falada... Enfim, se quiserem assisti ao programa, o vídeo está aí embaixo.

domingo, 27 de junho de 2021

Yubisaki to Renren entra em hiato até novembro

Está no ANN e no Twitter da autora, Suu Morishita, a notícia, mas fiquei meio confusa.  Vamos lá!  A responsável pelo storyboard da série, uma mulher chamada Mariko, teve um bebê e está em licença maternidade.  Eu fiquei confusa, porque, bem, a autora está OK, ela seria uma das auxiliares, ou estou errada?  

De qualquer forma, Morishita avisou que a série retorna na edição de janeiro da revista Cocohana, que sai em novembro.  Para quem quiser ler a minha resenha do início do mangá, um dos shoujo em maior evidência no momento, ela está aqui.

ERRATA: A Mari F. me deu a informação que eu precisava e que era pública, aliás, mas eu não sabia.  Suu Morishita é um duo formado por Mariko, a que teve o bebê e é responsável pelos roteiros e Nachiyan, responsável pela arte.  Então, não é uma auxiliar, é uma das autoras que está em licença maternidade.  💗

Ranking da Oricon - SEMANA 14-20/06


Este é o último ranking da Oricon que traz todas as semanas os trinta mangás mais vendidos do mercado japonês.  Sempre publico os dez mais vendidos e os mangás femininos que, porventura, estejam no ranking.  Esta semana, só temos um mangá shoujo que é o clássico Ouke no Monshou, um dos primeiros isekai e que é publicado desde 1976.  Para quem não sabe o que é isekai, sugiro assistir ao último Shoujocast que é sobre o tema.

1. Jujutsu Kaisen #16
2. Shingeki no Kyojin #34
3. ONE PIECE #99
4. Shuumatsu no Walküre #11
5. Golden Kamui #26
6. SPY×FAMILY #7
7. Enen no Shouboutai #29
8. Kaiju Nº 8 #3
9. Kanojo, Okarishimasu #21
10. MAJOR 2nd #23
21. Ouke no Monshou #67

sábado, 26 de junho de 2021

Promise Cinderella terá dorama em julho + Review do Primeiro Volume

Já tinha ouvido de Promise Cinderella (プロミス・シンデレラ), de Oreco Tachibana, mas nunca tinha ido ler alguma coisa da série.  Agora, com o anúncio do dorama para julho, decidi ir procurar scanlations, pois os resumos eram tão exíguos que eu ficava sem entender do que se trata a história.  De resto, ainda não descobri se é shoujo, ou shounen, porque a série está alocada em demografias diferentes a depender do site e não achei detalhes maiores sobre a revista Ura Sunday, que publica a série que tem 11 volumes e caminha para seu final.  O fato é que é o tipo de mangá que poderia estar em uma revista shoujo para meninas mais velhas (Cookie, Dessert, Cheese!, Melody) sem problema, ou em uma revista josei como a Be Love, a Feel Young ou a Cocohana.  Vamos ao resumo do primeiro volume:

Hayame tem 27 anos, é uma mulher durona, acredita-se muito esperta e sente-se feliz com sua vida de dona de casa.  Ela conhece um moleque mal educado no trem, um colegial chamado Issei e decide enquadrá-lo.  Ela o vence em um jogo e o sujeito tem que pagar a aposta, sendo humilhado na frente de todos.  Ao chegar em casa, Hayame decide confrontar o marido, porque sabe que ele está tendo um caso.  Ela acredita que o marido vai pedir perdão, ela vai repreendê-lo, perdoá-lo e tudo ficará bem, mas o sujeito decide pedir o divórcio.

Incapaz de olhar na cara do sujeito e impulsiva como é, Hayame decide sair de casa com o dinheiro que juntou e uma malinha.  Iria morar em um internet café e arrumar um emprego, recomeçar.  Já tinha feito isso antes, tinha abandonado a escola e ido trabalhar, porque tinha ficado órfã de mãe, tinha um pai alcoólatra e viciado em jogo.  Só que Hayame é assaltada, perde seu dinheiro e precisa morar no parque, em um barraco improvisado de papelão.  Quem passa pelo parque?  Issei e seus amigos.  Ele tenta humilhá-la e lhe oferece uma nota de 200 mil ienes caso ela se ajoelhe e peça perdão.  Ela lhe dá um sopapo e o esculacha de novo. Um dos amigos do rapaz diz que ela vai se virar, porque para as mulheres é fácil conseguir dinheiro, basta abrirem as pernas.

Os dias vão passando, Hayame vai ficando em situação cada vez mais desesperadora até que recebe uma proposta de ajuda de outro morador de rua, um sujeito de aparência repulsiva.  O preço?  Ela precisa transar com ele.  Issei reaparece nesse momento, afasta o sujeito e lhe oferece ajuda.  Ele lhe ofereceria um quarto em sua casa, que ela descobre que é uma mansão, e ela teria que participar de um jogo com ele, o rapaz é arrogante e aproveita para humilhá-la.  Hayame recusa, eles iniciam uma briga e ela danifica uma obra de arte na casa dele.  Assim como Haruhi de Ouran Host Club ( 桜蘭高校ホスト部), ela fica presa por uma dívida e Issei decide brincar com ela, mas Hayame não se dobra e, no final do primeiro volume, os dois estão se entendendo, ou começando... 


Li com rapidez o primeiro volume de Promise Cinderella e digo que, até o momento, Issei é um dos oresama guy mais detestáveis que já vi.  Logo no terceiro capítulo, ele leva uma Hayame toda arrumada e muito desconfortável a uma festa só para humilhar a aniversariante, uma moça mais velha que ele, rica, modelo e que o quer como namorado.  Ele a humilha, praticando um slut shaming nível muito pesado, acusando-a, também, de só se interessar por ele por ser rico e porque não conseguiu o irmão mais velho dele.  Hayame assiste aquele show de horrores, isso depois de ter ouvido desaforos da moça e ter sido quase mantida em cárcere privado por Issei, e enquadra os dois.

Sei que o moleque vai melhorar, mas não via alguém como ele desde Doumyouji de Hana Yori Dango (花より男子), que não era nem metade da ousadia de Issei.  Ele  e Hayame vão se tornar amigos, eu suponho.  Não acredito que se tornem namorados, há uma diferença de idade de 10 anos entre eles, mas seria interessante ver isso, porque é muito comum que isso aconteça quando é o inverso.  Imagino que o irmão dele possa se tornar o par romântico de Hayame e ela ocupe um papel materno na vida do rapaz que mora sozinho em Tokyo.  O mangá é bem desenhado e a protagonista lembra a Makino de Hanadan.

E é isso mesmo, porque fui olhar o D-Addict e o resumo diz que Hayame (Nikaido Fumi) descobre que o irmão mais velho de Issei (Maeda Gordon), Seigo (Iwata Takanori), foi o primeiro amor da vida da moça e está solteiro, é lindo e rico.  A série estreia no dia 13 de julho.  A página oficial da série é esta aqui.  Abaixo, o teaser-trailer com a apresentação geral das personagens.  Mais informações no Comic Natalie.

sexta-feira, 25 de junho de 2021

A Suprema Corte do Japão determina que é constitucional exigir que homens e mulheres casados tenham o mesmo sobrenome

Mais uma vez e em menos de uma década, segundo o Sora News, a Suprema Corte Japonesa determina que a partir do casamento o casal deve compartilhar o mesmo sobrenome.  Pode ser o do marido, ou o da esposa, mas tem que ser o mesmo para efeito legal.  Um grupo de casais da cidade de Tokyo tinha provocado a Suprema Corte argumentando que era contra a lei negar a um cidadão japonês o direito de manter o seu nome de família depois do casamento.  A decisão majoritária da corte, no entanto, "(...) decidiu que a exigência de que os casais tenham o mesmo sobrenome não viola a constituição".  O SN informou que há duas juízas mulheres, porque certamente serão as mulheres a ter que abrir mão do seu nome, entre os 11 membros da Suprema Corte, uma votou pela constitucionalidade e a outra, pela inconstitucionalidade.

Em 2016, fiz um post sobre uma professora que foi obrigada pela Justiça a usar o nome do marido.  Ela queria manter o nome de solteira por razões profissionais, mesmo que, nos documentos, usasse desde 2013, o nome do esposo.  A escola na qual lecionava desde 2003 se recusou a aceitar que ela continuasse usando seu nome profissional.  A professora entrou na Justiça contra a escola e perdeu.  De lá para cá, nada mudou.

Hoje é o Yuri Day! O que temos no Shoujo Café sobre isso?

Pelo menos no Twitter é!  Eu tentei ver se existia algum fato importante para que o povo estivesse comemorando, mas não achei (*ainda*).  Não sei se decidiram inventar, porque junho é o mês do Orgulho LGBTAQI+, mas o Dia da Visibilidade Lésbica é em agosto. Se você não sabe o que é yuri, tem uma breve história do gênero aqui. Se soubesse que hoje estariam celebrando a data, meu Shoujocast seria sobre outro tema, poderia falar de Paros no Ken, a série da foto que basicamente é a versão da Rosa de  Versalhes na qual Oscar termina com Rosalie no final.  De qualquer forma, estou em débito.  Como não preparei nada, decidi listar as resenhas de material com conteúdo lésbico que tenha resenhado para o Shoujo Café.  Eis os links das resenhas que eu encontrei, com certeza há mais coisa, inclusive de antes das tags começarem a ser incuídas:

quinta-feira, 24 de junho de 2021

Ranking da Oricon - 07-13/06

 


Em relação ao último ranking, temos um mangá feminino a menos e dois resistindo no ranking, Akagami no Shirayukihime e Seijo no Maryoku wa Bannou Desu, que tem anime progamado.  Vamos ver como as coisas ficam esta semana.

1. Shingeki no Kyojin #34
2. ONE PIECE #99
3. Jujutsu Kaisen #16
4. SPY×FAMILY #7
5. Jujutsu Kaisen #3
6. Arslan Senki #15
7. Kami-tachi ni Hirowareta Otoko #7
8. Shingeki no Kyojin #34 Special Edition Beginning
9. Mairimashita! Iruma-kun Gaiden #22
10. Dr.STONE #21
13. Akagami no Shirayukihime #24
26. Seijo no Maryoku wa Bannou Desu #6

quarta-feira, 23 de junho de 2021

Comentando Luca (Disney/Pixar/2021): Um elogio à amizade e uma sensível defesa da aceitação das diferenças

No domingo, assisti Luca, o novo filme da Pixar com a minha filha de sete anos.  Na verdade, ela me intimou a assistir, porque ela tinha visto Luca no dia anterior.  Muito bem, Luca não entrará na minha  lista dos melhores filmes da Pixar, mas é um filme sensível, com uma animação belíssima e uma trilha sonora em italiano bem interessante.  Falando em Itália, o filme se passa em uma pequena vila do Mediterrâneo, na Riviera italiana, não tenho como saber, e o diretor é italiano, também.  Enrico Casarosa dirigiu o lindinho curta La Luna e sabendo disso, achei uma das personagens do filme muito parecida com outra que aparece lá.

A história do filme é simples e, de certa forma, já vista, Luca Paguro é um menino monstro marinho com grande vontade de aprender, de descobrir.  Seus pais, especialmente, sua mãe, colocam muito medo no garoto em relação aos humanos.  Um dia, Luca, que coleciona coisas da superfície, conhece Alberto Scorfano, um menino corajoso, alegre e que mora sozinho na superfície, apesar de ser um monstro marinho.  Quando os pais de Luca descobrem a inusitada amizade, decidem mandar Luca para longe e o menino decide fugir de casa.  Na superfície, ele poderia ser um menino de verdade, desde que não fosse molhado.

Alberto mostra para Luca sua coleção e conta do seu sonho de ter uma vespa e poder correr o mundo em liberdade.  Os dois meninos vão visitar Portorosso, uma cidadezinha próxima, e lá ficam sabendo de um concurso e que, com o dinheiro do prêmio, poderiam comprar sua vespa, mesmo que fosse velhinha.  Na cidade, as pessoas temem monstros do mar e Luca e Alberto precisam esconder a todo o custo a sua identidade.  Lá, os meninos conhecem Giulia Marcovaldo, uma garota alegre, que mora parte do ano em Gênova, onde vai à escola, e deseja ganhar o concurso e derrotar Ercole Visconti, que sempre vence a competição, humilha os mais fracos e desrespeita todas as regras para atingir seus objetivos.  Giulia, Alberto e Luca decidem montar uma equipe e competir, mas a aproximação entre a menina e o protagonista coloca em rosco a amizade recém construída.

Segundo o diretor, Luca, que se passa em algum momento dos anos 1950, ou início dos anos 1960, é uma homenagem aos filmes de Felini e de Hayao Miyazaki.  Ele é alegre, é sensível, usa técnicas de animação tradicionais e as mais modernas.  O resultado é deslumbrante e encantador.  Vi, também, uma referência à Pequena Sereia, pois Luca coleciona coisas humanas sem saber bem o seu uso.  O filme, assim como a maioria dos produtos da Pixar, tem várias camadas conseguindo agradar às crianças, sem desrespeitar os adultos, ou vice-versa.  Agora, exatamente por ter camadas, ele nos oferece várias possibilidades de interpretação, nenhuma dela pode ser invalidada, ainda que uma delas rtenha sido negada pelo diretor.

Em Luca temos o medo em relação ao diferença, a desconfiança em relação ao outro, às vezes por motivos justos, que somente a convivência e um coração aberto podem ajudar a mudar.  Há, também, muita gente no armário.  Exemplo, a avozinha de Luca foge todo fim de semana para se divertir na superfície, enquanto sua filha e genro, ficam horrorizados de saber que Luca quer conhecer o mundo dos humanos.  Nesse afã de proteger, algo que pais e mães precisam fazer, Luca se vê privado do conhecimento.  E Luca quer conhecer, quer estudar, quer viver.  O que o aproxima de Alberto e de Giulia é essa capacidade de ambos de abrirem horizontes.  Alberto, pelo desejo da liberdade, e Giulia por lhe apresentar a ciência, os livros, um mundo novo.

E temos o ciúme. Alberto se sente preterido por Giulia e este sentimento acaba sendo a fonte de uma grande tragédia.  Alberto é um menor abandonado, isso fica claro desde o início.  Ele se sente sendo abandonado de novo e se culpa por isso.  Aqui, começaram a se questionar se o ciúme de Alberto não seria de fonte amorosa, o que seria potencializado por estarmos no mês do orgulho.  Estaria Alberto amando o amigo e, por isso, a explosão de ciúme.  É uma interpretação, mas há outras possibilidades de referência às questões LGBTQIA+ em outros momentos.  Por exemplo, no final do filme, por exemplo, há duas personagens que parecem humanas que se revelam como monstros marinhos.  Passaram a vida se escondendo.  Esta era a realidade de muitos gays e lésbicas, que fingiam diante de todos uma amizade, quando, na verdade, eram um casal.  O exemplo dos mais jovens, lhes dá coragem para sair do armário.  O filme pode ser interpretado por essa via.



Ao mesmo tempo, tentar ver na amizade de Alberto por Luca esse tipo de sentimento é, também, buscar representatividade a todo custo.  Dois meninos não poderiam ser amigos sem que houvesse esse tipo de sentimento envolvido?  Eu tive durante muito tempo uma única amiga.  Ela era um pouco mais velha que eu.  Quando ela entrou na adolescência, ela buscou companhia de meninas mais velhas.  Eu me senti preterida, eu tive ciúmes, eu fui inconveniente.  Eu só não tinha a experiência anterior do abandono, como no caso de Alberto. Continuamos amigas até hoje e eu superei o ciúme e a frustração buscando, inclusive, outras amizades.  Agora, houve um adulto muito importante na minha vida que, uma vez, disse que nossa amizade era excessiva e que poderiam achar que nós éramos "duas sapatonas".  Sim, o termo foi este e eu só tinha oito anos e não tinha sequer noção do que a pessoa estava falando, mas sabia que era algo muito, muito ruim, algo de que se envergonhar.  

Enfim, isso tudo que eu escrevi invalida a interpretação anterior a de que Alberto estaria também apaixonado por Luca?  Não, mas convém abrir o leque de opções.  E para quem pensa em orientação sexual e pensa em sexo e grita que são crianças.  Gente, afeto nada tem a ver com sexo, não precisa ter.  Crianças têm sexualidade, interesses afetivos, alguns entendem qual é sua orientação sexual desde muito cedo, e isso nada tem a ver com fazer sexo, ou deixarem de ser crianças.  O problema é que a homofobia, principalmente ela, faz com que olhemos para homossexuais como seres sexuais antes de vê-los como humanos.  Fora isso, meninos e meninas são mostradas amando e se apaixonando o tempo inteiro em produtos para crianças, desde que seja uma relação heteronormativa, ninguém se importa e é até fofo.  Por qual motivo esse florescer do primeiro amor seria ofensivo se fosse entre dois meninos, ou duas meninas?  

Agora, eu percebo Luca, o protagonista, como aquele que está absolutamente alheio a esse tipo de sentimento.  Ele não despertou ainda para qualquer questão amorosa, ele sente amizade por Giulia e Alberto igualmente.  Agora, o que o move, o que o alimenta de verdade, é a vontade de conhecer, de aprender, de ir além.  Lembrem-se que o conhecimento consegue acabar com a ignorância e a repulsa pelos monstros marinhos é fruto disso, como qualquer outra forma de intolerância.

O filme não cumpre a Bechdel Rule, mas há três mulheres com destaque, Giulia, a mãe de Luca (Daniela Paguro) e a Vovó Paguro.  Há ainda as figurantes que são a representante da empresa que organiza o concurso e as duas idosas que aparecem em várias cenas.  Em relação aos papéis de gênero, o filme não investe nisso.  Giulia, Luca e Alberto são crianças, se divertem juntos, brincam das mesmas coisas e tem suas aspirações que não estão fechadas nas caxinhas de "coisa de menino" e "coisa de menina".  Claro, é preciso marcar isso, Giulia é vista como uma garota esquisita, agora, o motivo não fica claro e como quem rotula a menina é o vilão, Ercole, porque ela o enfrenta e denuncia, não há como avaliar direito a questão.

Enfim, é um filme bonito.  Não é o melhor da Pixar, mas tocou profundamente a minha filha.  Pela primeira vez a vi emocionada com um filme e ela ficou com vergonha e eu insisti que essas são as lágrimas das quais a gente não deve se envergonhar.  Não lembro da primeira vez em que eu chorei em um filme, mas guardarei esse momento dela comigo.  De resto, Júlia entendeu as duas mensagens.  Uma é aceitar as diferenças, a outra, não esconder quem você é para agradar aos outros.  Para a mãe, fica a ideia de que superproteger sua criança nunca é bom.  Os pais de Luca aprendem isso ao logo da história.  E algo importante, prestem atenção ao pai de Júlia, ele também tem algo a ensinar.  Se vocês quiserem ver um desenvolvimento maior da discussão sobre Luca ser um filme sobre homoafetividade, recomendo dois vídeos, o do Diversidade Nerd e o do Gay Nerd.  Eles fizeram excelentes discussões sobre Luca.  PAra quem quiser assistir ao filme, ele acabou de estrear no Disney Plus.

domingo, 20 de junho de 2021

Mangás que poderiam sair no Brasil 4 - Parte 2 (Vídeo)

Saiu mais um Shoujocast, é a segunda parte do programa sobre o mangá Waltz Wa Shiroi Dress De  (円舞曲は白いドレスで) de Chiho Saito e suas continuações.  Gosto muito da série e, por isso, acabei esticando demais.  Ele saiu ontem, mas estou colocando o post aqui somente hoje.  Espero que você gostem.  Enfim, espero melhorar a edição dos vídeos, deveria ter entrado ontem e não consegui postar, espero que vocês gostem.  Desta vez, um mangá absolutamente heteronormativo.  Preciso fazer um programa sobre um mangá que homenageie o mês do orgulho LGBTQI+.  Vocês tem alguma sugestão?

Comecei a Segunda temporada de A Discovery of Witches

Comecei ontem a segunda temporada de A Discovery of Witches, a fase em que os dois protagonistas, Diana e Mathew estão no século XVI.  No final da temporada #1 (*resenha aqui*), Diana, a bruxa super poderosa que precisa aprender a usar seus poderes, porque não lhe mandaram para Hogwarts, e Mathew, o vampiro católico de 1500 anos, partiram para 1590.  Lá, eles estariam livres da perseguição de seus inimigos e encontrariam uma professora para Diana, uma bruxa realmente poderosa e, não, as tias que deixaram a garota em homeschooling.  

O que Mathew não esperava era cair em Londres, tinha calculado chegar ao interior e acaba ficando meio exposto por estar com uma bruxa e, também, porque todos esperavam que ele estivesse na Escócia espionando para Sir Cecil, Lord Burghley, chanceler de Elizabeth I. Quando a notícia de que o vampiro está em Londres se espalha, Mathew precisa se apresentar ao seu chefe e inventar uma história mirabolante qualquer, além de se ver obrigado a voltar a torturar e matar para manter sua identidade secreta.

Alguns pontos interessantes, a mocinha convence como alguém que está deslocada no tempo e meio que fascinada por tudo o que vê.  Como ela é historiadora (🙄) começa a perceber que estava ensinando algumas coisas da forma errada, por não ter visto com seus próprio olhos.  Como historiadora, achei esta parte bem divertida.  Não sou bem a criatura que gostaria de viajar no tempo, ainda mais para o passado, faço mais a linha da protagonista de Lost in Austen ("Sou negra e não vou para nenhum lugar que não tenha papel higiênico e chocolate."), mas imaginar que seria uma experiência excitante, eu posso.  Segundo, Diana, a parte de Londres onde o mocinho mora não fede (🧐).  

Já Mathew tem que reencontrar com o seu passado meio sombrio de espião e torturador, algo que causa repulsa ao seu eu do século XXI.  Ele é um caçador de espiões católicos e de bruxas, sabe-se lá por qual motivo, espero que alguém me explique, porque a caça às bruxas não é coisa da Inglaterra de Elizabeth, ainda que agradasse ao seu primo e herdeiro, Jaime VI da Escócia.  Também espero que me expliquem por qual motivo um vampiro católico está caçando católicos como forma de espionar os ingleses.  É dito que ele assumiu a função de espião por ordem de seu pai, Philippe (interpretado pelo charmoso James Purefoy), que deve dar as caras daqui a pouco na série.

Mathew não pretende ficar muito tempo, ou será descoberto, nem quer ir até a França.  Ele teme encontrar a si mesmo?  Parece que não.  O que ficou sugerido, e que é meio que uma alopração em uma história de viagem no tempo, é que o Mathew de 1590 pode não estar mais em 1590.  Eles usaram o termo "displaced", deslocado.  Não gostei desse detalhe, ficou meio jogado, e espero que expliquem em um capítulo futuro.  Em algum momento, Mathew meio que defende as bruxas para Sir Cecil alegando que elas ajudaram a repelir a Invencível Armada, em 1588.  Isso daria uma boa história, um filme até.

De resto, porque é uma resenha curta, quem o casal encontra primeiro é o poeta Christopher "Kit" Marlowe (Tom Hughes), que, na história, além de amigo do mocinho é um demônio.  Ele acredita que Mathew foi enfeitiçado por Diana e tentará a todo custo se livrar dela.  Nesse primeiro episódio, Diana e Marlowe tem uma conversinha em privado e acredito que ela entendeu a origem da reação do poeta.  Não é cuidado, nem amizade, é paixão.  O Marlowe original era (*pelo menos*) bissexual e eu estou lendo a tensão no ar nas cenas dele com Mathew e Diana.  É minha aposta, mesmo que não queiram desenvolver nada nessa seara.  Mathew conta que é um viajante do tempo para Kit neste primeiro episódio e ele, que estranhou a falta da barba e o brinco, acredita.

Em 1590, Mathew atende pelo nome de Matthew Roydon.  O Roydon real era um poeta e membro da School of Night, um clube de poetas, escritores e cientistas "malditos" da época.  Walter Raleigh fazia parte do grupo e aparece neste episódio.  Mathew em 1590 parece mais possessivo e sinistro, talvez, pela força das circunstâncias.  Ele quer proteger Diana, ele quer evitar, muito provavelmente, que ela descubra as coisas horríveis que ele costumava fazer.  É bem coerente em uma história de vampiro que esse tipo de coisa aconteça.  E eles estão buscando uma bruxa que possa ser a professora de Diana.  A primeira opção, uma ancestral de Sophie, parece aterrorizada com os poderes de Diana e tenta fugir.

Terminando, porque já escrevi demais e comecei este texto ontem.  Gostei do figurino até o momento, Diana está com o cabelo preso, algo importante, e tudo é muito bonito, apesar da predominância do preto.  Houve uma boa cena da governanta de Mathew ajudando a mocinha a se vestir e mostrando as várias camadas de roupas envolvidas no processo.  Bem detalhista, pode não ser realista de fato, mas se esforça por ser convincente. E o vampiro aprovou as novas roupas de Diana e meio que disse que não tinha deixado ela sair antes, porque Diana estava usando roupas emprestadas da irmã dele e que estavam mais de 10 anos desatualizadas na moda e ele tinha uma reputação a manter.  Foi uma cena divertida. Mathew apareceu andando na rua sem chapéu nas primeiras cenas, mas corrigiram isso, também.  Vou continuar assistindo e ver se faço uma resenha curta de Loki.

sábado, 19 de junho de 2021

Ouran Host Club vai virar musical

Ontem foi anunciado, e eu vi a foto cedo no Twitter e ninguém tinha certeza do que era ainda, que Ouran Host Club (桜蘭高校ホスト部) iria virar um musical.  O manga completou dez anos do seu encerramento no ano passado e, talvez, entre no radar dos remakes, caso o sucesso de Fruits Basket tenha sido tão avassalador quanto eu imagino que foi.

O que sabemos deste musical até o momento?  Bem, muita coisa.  Tem site oficial, tem Twitter oficial, estreia em 2022 em Tokyo e Osaka, o elenco, salvo a protagonista, Haruhi, está todo montado e no vídeo acima o nome dos rapazes aparece.  Imagino se ainda estão selecionando a mocinha.  Para fotos de cada um dos moços do elenco, visite o ANN, ou o Comic Natalie.  O mangá de Ouran foi publicado pela Panini.

Super-Homem vira estrela de um mangá gourmet. Sim, você leu direito.

Uma das notícias inusitadas desta semana é que o Super-Homem, o super-herói mais icônico do mundo, e não vou discutir isso, porque não é opinião, ou apaixonamento em relação à personagem, é uma constatação, é a estrela de um novo gourmet mangá chamado Superman vs Meshi: Superman No Hitori Meshi (SUPERMAN vs飯 スーパーマンのひとり飯) de Satoshi Miyakawa e Kai Kitago.  Segundo o Sora News, a série estreia na revista Evening e na plataforma Comic Days em 22 de junho e seguirá as aventuras do Homem de Ferro no Japão provando a culinária do país.

Super-Homem vai voar por todo o Japão com a rapidez que lhe é peculiar e experimentar vários pratos, desde os mais conhecidos, até os regionais.  De repente, enfrente algum vilão no caminho.  Sim, é uma mistura muito inusitada, mas há mangá sobre tudo e este aí serve para comprovar a regra.  Eu gosto de gourmet mangá, pena que eles raramente cheguem por aqui.  E, antes que alguém pergunte, sim, há mangás oficiais estrelados por personagens norte americanas, seja da DC, da Marvel, da Disney, entre outros.  Os japoneses tem uma sólida indústria de mangá, mas consomem produtos de outros países e a produção norte americana tornou-se universal invadindo todos os espaços, mas, como no caso do Japão, nem sempre obliterando a produção local.

Casal de Nigehaji vai se casar na vida real

Quem acompanha o blog sabe que eu raramente comento doramas, mas que eu assisti e resenhei todo a série Nigeru wa Haji da ga Yaku ni Tatsu   (逃げるは恥だが役に立つ) e o mangá, também, porque ele saiu nos Estados Unidos.  Ainda não li o gaiden, não foi publicado por lá, tenho que ver se existe scanlations e acabei de baixar o especial que foi ao ar este ano.  Vou resenhar, pode deixar.  Agora, passando pelo Arama Japan vi que Hoshino Gen e Aragaki Yui, que interpretam os protagonistas da série, Mikuri e Hiramasa, comunicaram que vão se casar.  Sim, não costumo dar esse tipo de notícia, mas fiquei feliz por eles.

Hoshino Gen e Aragaki Yui publicaram um comunicados no Twitter pedindo o apoio dos fãs, falando do seu dizendo que gostariam de viver uma vida completa e calma, Yui ainda acrescento que ela seria trabalha desde a adolescência e está muito feliz em ter encontrado alguém com quem viver de forma modesta, mas próspera.  Espero que sejam felizes e, se puder, assista Nigehaji e compare o Hoshino Gen cantor com a interpretação contida, quase sem emoção que ele entregou do tímido Hiramasa.

"A Vida Começa aos Cinquenta", novo mangá trata da descoberta do amor durante a maturidade

Há uma tendência de alguns anos para cá que é o crescimento no número de mangás protagonizados por pessoas maduras ou mesmo na meia idade.  Traduzi um artigo sobre isso algum tempo atrás.  Pois bem, hoje foi lançado no Japão o primeiro volume do mangá Gojitsu, Rokujutsu, Yorokon de。 (五十、六十、よろこんで。) da mangá-ka YM Kei.

A série conta a história de uma mulher de cinquenta anos que, após o divórcio, precisa se mudar para o interior e morar com os pais.  Lá, ela reencontra um antigo amigo que tem sessenta anos.  Ele sempre foi atraído por ela e aproveita a chance de viver um romance com a protagonista.

A série é publicada na revista Kurofune Pixiv e teve seu primeiro volume lançado no Japão.  Achei o traço muito bonito e queria ler a série.  Soube da série pelo Manga Mogura, mas o Twitter está cheio de coisa dessa série no momento.


sexta-feira, 18 de junho de 2021

Comentando o resto da 1ª Temporada de A Discovery of Witches: Confirmei que é ruim, mas eu acabei gostando

Domingo comecei a assistir A Discovery of Witches no Globoplay e fiz minha resenha do primeiro capítulo na segunda-feira.  Acho que foi um dos meus recordes assistindo uma temporada de qualquer coisa, talvez, só perca para O Gambito da Rainha.  Mas muito bem, A Discovery of Witches entrou naquela gaveta onde coloco com carinho séries, animes, filmes, livros, que são ruins, mas eu gosto.  Porque A Discovery of Witches tem seus momentos, alguns muito bons, mas o universo apresentado na série, e não vou jogar a culpa na autora dos livros, porque pode se rum caso como True Blood, é muito problemático.  Vou retirar o resumo geral da primeira resenha e trazer para cá, depois, sigo comentando os capítulos.  Teremos spoilers, eles são inevitáveis.

A Discovery of Witches é uma série de fantasia baseada no romance de mesmo nome da trilogia All Souls, escrita por Deborah Harkness. A atriz Teresa Palmer interpreta Diana Bishop, uma historiadora que descobre um manuscrito enfeitiçado, o Ashmole 782, na biblioteca Bodleian, na Universidade de Oxford. Enquanto ela tenta desvendar os segredos que este livro contém sobre criaturas mágicas, ela é forçada a voltar ao mundo da magia, cheio de vampiros, demônios, bruxas e amor proibido. Formando uma aliança improvável com o geneticista e vampiro Matthew Clairmont, interpretado por Matthew Goode, que  ajuda Diana a tentar proteger o livro e resolver os enigmas dentro dele, enquanto ao mesmo tempo evita ameaças das criaturas do mundo mágico.

Vamos começar dizendo que comecei a assistir a série por puro fanservice.  Mathew Goode está lindo, elegante e sexy em A Discovery of Witches.  Depois que descobri através de um vídeo que Diana e Mathew não demoravam tanto para se entenderem, decidi continuar.  Não tenho mais idade para lenga-lenga amoroso, salvo se muito bem construído, o que é raro.  Pois bem, no mundo de A Discovery of Witches convivem quatro espécies distintas, ou subespécies humanas, não sei, a nossa, os vampiros, os demônios e as bruxas.  Mathew, o vampiro cientista e professor em Harvard, e seus auxiliares no laboratório, Miriam (Aiysha Hart) e Marcus (Edward Bluemel), estudam o DNA das criaturas e estão mapeando a perda de poderes e capacidades de vampiros, bruxas e demônios.  Cada uma a sua maneira, elas estão desaparecendo e, em breve, em temporalidade vampiresca, estarão extintos.

A série tenta dar uma explicação científica aos seres sobrenaturais.  Acredito mesmo que a explicação com as bruxas e com os demônios, que não sei quais poderes têm e parecem ser a casta mais baixa dentre as espécies poderosas, ficou bem arrumadinha.  Eles se reproduzem de forma sexuada, passam, no caso das bruxas isso é evidente, seu poder para a sua prole, salvo se houver algum problema. O que é algo que ocorria no mundo de Harry Potter, também.  Nossa mocinha, por exemplo, foi diagnosticada, depois de exame feito pelo bruxo vilão da história, Peter Knox (Owen Teale), como uma bruxa sem poderes, o que, obviamente, não é verdade, mas não vou dar o spoiler completo aqui, porque o desenrolar dessa parte da trama é interessante.

Agora, quando chegamos aos vampiros, e eu amo histórias de vampiros, há uma tag no Shoujo Café para eles, vejam só, temos o problema.  Se os vampiros são uma espécie, se eles comem, dormem, respiram, tem uma expectativa de vida longuíssima, mas são seres vivos, eles precisam se reproduzir de forma natural, ou todo o argumento supostamente científico vem abaixo.  E a ideia do vampiro que se reproduz existe principalmente nas animações, vide Dom Dracula e Hotel Transilvânia, que chega até a mostrar uma vampira casando com um humano e procriando.  Pois bem, em A Discovery of Witches, os vampiros se reproduzem somente pelas vias vampirescas normais, isto é, mordendo alguém e lhe dando seu sangue para beber.  Se isso não é um problema de coerência dentro do mundo mágico criado, não sei o que é.

Agora, há uma questão importante que fica sugerida nessa primeira temporada, coisas estranhas estão acontecendo com essas espécies não-humanas e, talvez, nossa mocinha engravide de seu vampiro.  Aliás, é o que eu acho que vai acontecer. Por qual motivo estou dizendo isso?  Há uma demônio, Sophie Norman (Aisling Loftus) que nasceu de pais bruxos.  Ela está grávida do marido, Nathaniel (Daniel Ezra), e desconfia que está esperando uma bruxa.  Tudo isso seria impossível dentro da lógica da série e a sogra de Sophie, Agatha (Tanya Moodie), desconfia que isso possa trazer problemas caso chegue aos ouvidos da Congregação.

O que é a Congregação?  É uma espécie de conselho com amplos poderes, inclusive de julgar, condenar e matar, criado a 900 anos e com três representantes de cada espécie, vampiros, bruxas e demônios.  Presidido pelos vampiros, representado pelo chefe da casa dos Clermont, Baldwin (Trystan Gravelle), é um serpentário onde vampiros e bruxas se odeiam, no caso dos vampiros, eles se odeiam entre eles, e os demônios, o baixo clero desse arranjo todo, ficam meio que como expectadores.  É através da congregação que algumas questões de gênero e raça são discutidas na série, que tem um elenco bem diverso.  Agatha é negra e, em dado momento, quando Satu (Malin Buska) é admitida como membro da Congregação representando os bruxos, ela comenta que é bom ter mais mulheres já que faz 900 anos que os vampiros só indicam homens brancos.  Dada a longevidade dos vampiros, são os mesmos caras desde a fundação, talvez, não, Domenico (Gregg Chillin), mas os outros dois, com certeza. 

Bem, o vilão Peter Knox é o chefe dos bruxos e Satu (Malin Buska) é outra personagem vilanesca, já falei deles na primeira resenha.  No caso de Baldwin, ele parece um chefe de família mafiosa.  Odeia o irmão, Mathew, talvez por ele ser o queridinho dos pais, desagradou o pai, Philippe, o chefe do clã dos Clermont à época, ao entrar para a Congregação, mas é capaz de quebrar qualquer regra para preservar a família.  Diana e e Mathew só se salvam de umas boas na primeira temporada porque ele decide ajudá-los e quase paga com sua vida por causa disso.  O outro líder vampiro é  Gerbert D'Aurillac (Trevor Eve), que parece ser velhíssimo, é muito, muito mau, e já foi o papa Silvestre II.  E, sim, todos os vampiros que apareceram na série, até agora, são católicos praticantes, de andarem com crucifixo no pescoço.  É algo que me incomoda, mas se tem vampiro católico, tem que ter vampiro protestante, aliás, daria uma boa fonte de conflito.

Gerbert e Knox meio que se aliam para conseguir capturar Diana e destruir o poder dos Clermont.  Para isso, eles vão usar de todos os recursos, nem sempre trabalhando juntos.  Domenico, o terceiro vampiro na congregação, faz seu próprio jogo, hierarquicamente, ele está abaixo de Gerbert e Baldwin, mas parece apaixonado por Juliette (Elarica Johnson).  A vampira, que é cria de Gerbert, é abusada por ele e foi adestrada para seduzir Mathew.  Há um momento em que Gerbert a envia atrás do protagonista e ela é confrontada por Miriam que lhe diz que a eternidade é muito tempo apra ficar correndo atrás de um homem que não lhe quer.  O fim de Juliette não é dos melhores.

Mas Diana e Mathew se entendem até muito rápido para meu gosto, quer dizer, ele deveria resistir mais sendo um vampiro tão experiente, ainda que, e eu peguei spoilers da segunda temporada, há um porém da relação dos dois.  De qualquer forma, eles estão unidos por uma profecia e isso está claro desde o segundo, ou terceiro capítulo.  O fato é que Diana quer dar uns pegas no vampiro desde o final do primeiro episódio e ele se rende de verdade no quinto capítulo, depois que Mathew leva a bruxa para Sept Tours, a casa ancestral de sua família como uma forma de protegê-la.  Depois de fugir e voltar, ele propõe à Diana que eles pratiquem bundling, que é uma espécie de namoro que consiste em dormir totalmente vestido com outra pessoa, sem praticar uma relação sexual completa. Não conhecia a palavra, nem a prática, mas ela existiu e, talvez, ainda exista.  Só que eu vi os dois sem roupa, então, fiquei bem surpresa com essa história.  O fato é que ele está enrolando Diana sem que ela saiba, ela não será sua parceira (mate) enquanto eles não tiverem uma relação sexual completa.  Ele só teve uma parceira humana (*e talvez vampira*) na vida, a esposa que faleceu.

É crime, segundo as regras da Congregação, relações entre espécies.  Ele sabe disso, Diana, que não recebeu uma educação formal de sua família bruxa, não sabe. Ele já amou duas mulheres que não eram vampiras e causou sua morte, ou não pode protegê-las, não fica claro.  Ele teme não se controlar e machucar Diana.  Antes que alguém venha reclamar, e vi uma resenha tocando nisso, que o vampiro é uma metáfora para o macho tóxico e que coisas como A Discovery of Witches seriam uma versão para adultos de Crepúsculo, bem, quem se mete com vampiros sempre corre riscos, seja homem, seja mulher.  Os vampiros desta série matam pessoas.  Só não o fazem, só preferem caçar animais, porque eles não podem sair dando bandeira por aí.  E Diana vai descobrindo seus poderes durante esta primeira temporada e aprendendo a usá-los.  Ela não é indefesa, mas é ignorante por ter se mantido à margem dos costumes e regras desse mundo das bruxas, vampiros e demônios.

A mãe de Mathew, Ysabeau (Lindsay Duncan), uma vampira super chic e elegante, até tenta demover o filho e Diana.  Ela mostra para a moça como os vampiros caçam, ela conta parte do passado de Mathew.  Mas não adianta.  E queria falar de Ysabeau, porque as tias de Diana, Emily (Valarie Pettiford) e Sarah (Alex Kingston), querem que ela saia de Sept Tours o mais rápido possível, porque Ysabeau seria uma assassina de bruxos, ela teria caçado e chacinado vários deles na América do Sul.  Daí, ficamos sabendo dos motivos, eram bruxos nazistas, que tinham assassinado o marido de Ysabeau, e, como tantos nazistas, tinham fugido para a América do Sul.  Eu não vou condenar Ysabeau e acho que o comportamento das tias de Diana não é muito diferente do das feministas que acham que a Nise Yamaguchi é uma de nós e merece nossa sororidade, mesmo participando ativamente de um projeto genocida.

Enfim, por Ysabeau ficamos sabendo que Mathew é um vampiro de 1500 anos.  Eu realmente acho que essa idade é muito respeitável para um vampiro e que ele deveria ser mais jovem, porque continua se comportando de forma muito impulsiva em alguns momentos.  Fora isso, o ano 500 é bem início da Idade Média e não seria o melhor dos momentos para se estar vivendo, por assim dizer.  E foi  engraçado quando Ysabeau mostra a igreja que ele construiu, porque ele era um artesão, um pedreiro.  Ele morreu em 537.  A quantidade de igrejas cristãs na Europa do norte nessa época é mínima, deveriam tê-lo colocado nascendo um pouco depois.

O fato é que Knox espalha para todo mundo que Mathew sequestrou Diana e obriga a Congregação a se posicionar.  Pelas costas de Baldwin e Knox, Satu e Gerbert se unem para capturar Diana.  Lembrem-se do tal livro que somente ela pode conjurar.  Gerbert não pode invadir Sept Tours, ou seria guerra, mas Satu pode.  Ela tortura Diana, ela tenta fazer com que seus poderes se mostrem, ela marca a protagonista à ferro como uma forma de humilhação, e ela se exaure no processo.  E joga a moça em um fosso.  Satu termina descobrindo o segredo de Gerbert, ele mantém uma bruxa cativa desde o século XI, na verdade, somente a sua cabeça, que repete uma profecia sobre uma bruxa, que pode ser Diana, ou não.  Como Satu não é totalmente má, ele faz alguma coisa pela colega.

Vamos lá, já me estiquei demais.  O fato é que a França não é mais segura e Mathew e Diana fogem para a América.  Emily os recebe bem, mas Sarah não quer um vampiro debaixo do seu teto.  A mocinha tinha liberado seus poderes, não por causa de Satu, mas pela intervenção de seus pais mortos, esta é minha teoria pelo menos.  Diana já estava tendo visões com seu pai e sua mãe desde muito tempo e a coisa se torna mais intensa.  A casa, que é enfeitiçada bem ao estilo Harry Potter, começa a passar mensagens.  O pai de Diana era um time walker (*um viajante do tempo*), ela também é.  Qual o melhor lugar para se esconder da Congregação e tentar aprender a dominar seus poderes?  Onde ela pode encontrar o livro da Vida completo, a razão de a estarem caçando?  Pois é, no passado.  E a segunda temporada se passa no final do século XVI.

Só que antes de viajar no tempo, Diana precisa aprender a fazê-lo.  A série introduz a ideia de que você precisa de três objetos do passado, do momento para o qual você deseja ir, para poder viajar.  Sophie está de posse de um deles e demônios, bruxas e vampiros se unem nessa Congregação paralela, só para usar o termo que está na moda no Brasil.  O que eu fiquei me perguntando se não seria necessário levar três objetos do presente para poder voltar.  Enfim, vamos ver como eles se viram.

Agora, comentarei três cenas realmente ridículas dessa primeira temporada.  Spoilers que você pode evitar.  A primeira delas, a do fosso.  Diana está no buraco e ferida.  Ela não sabe voar, alguns bruxos voam, como Satu, outros, não.  Mathew e Baldwin a encontram, mas não podem salvá-la.  Olha, a série afirma que vampiros não voam, só podem correr muito rápido, tem super força, reflexos e sentidos (*um olfato apuradíssimo*) melhores.  Mas achei bem ridículo que com super salto e super força Mathew não pudesse pular no buraco e saltar de volta com Diana nos braços.  Achei bem méh.

Outra cena muito ruim, ainda que a sequência em si não seja, Mathew e Diana estavam treinando.  Ela precisava usar seus sentidos de bruxa para pressenti-lo em uma floresta.  Ela efetivamente pressente um vampiro, vai ao encontro dele, mas o vampiro era um invasor, era Juliette.  Que Diana se confunda, OK, eu entendo, mas Mathew não conseguiu pressentir a invasora.  Foi algo muito absurdo, porque as criaturas todas se reconhecem como ele não percebeu a invasão e estando tão perto.

A terceira cena é mais complicada ainda, porque pode prenunciar que a história de viagem no tempo vai exigir muita suspensão de descrença.  Diana tem que treinar a viagem no tempo.  Ela começa com segundos, minutos até passar para dias.  Mathew propõe que viagem para Sept Tours alguns dias antes.  Ele quer se despedir da mãe.  Só que, nessa época, eles estavam lá.  Diana pergunta para Mathew se eles não corriam o risco de se encontrar.  Ele diz que não.  Mas como assim?  

Essas são as três cenas mais problemáticas mesmo.  E somado ao fato dos vampiros não se reproduzirem, é muito problema para uma série só.  Ainda assim, eu gostei, as personagens são interessantes e vou continuar assistindo.  Só que fiquei com vontade de olhar os livros.  Foi o mesmo impulso da época de True Blood, o problema é que quando comecei a ler os livros, tomei raiva da séria de TV.  Minha pergunta, caso você tenha lido a trilogia (*e espero que a série tenha somente três temporadas MESMO*) é o quanto a série se afastou do original e se vale a pena ler, ou não.  É isso.  Acabou a resenha.  Devo começar a assistir a temporada 2 no final de semana.